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ᴏ ɢᴀʀᴏᴛᴏ ꜱᴀʙᴇ!

ELLIE HARPER

—— Você devia ter me dito sobre isso quando nos conhecemos naquela lanchonete.
—— É, devia. Talvez as coisas se resolvessem de outra forma. Mas não tive coragem. É difícil falar sobre isso.

—— Ele te agredia desde criança? —— assinto
—— É... Desde sempre, pelo o que eu me lembre. Ele tinha uns surtos repentinos. As vezes uma coisinha mínima era motivo para eu levar uma surra.

—— Tipo o quê?
—— Tipo... Esquecer um casaco em cima da cadeira da cozinha. Ou... Enfim, coisas idiotas. Isso acabava comigo... Tinha que usar maquiagem as vezes para ir para escola, para conseguir esconder. Meus braços viviam manchados, e eu achava tão feio... Me sentia tão envergonhada... As vezes tinha que usar manga longa no calor. E era horrível.

—— Seu pai era um merda.
—— É... Ele era. Mas agora não vou mais ter problemas. Não por causa dele, ao menos.

—— E sua mãe? Como ela era?
—— Ela era boa comigo... Até tentava me defender, mas na maioria das vezes não adiantava e ela acabava apanhando também. Eu estava juntando dinheiro, sabe... Na noite em que foram mortos, eu ia fugir com ela e dar um fim nisso. Mas aí... Você sabe o que aconteceu.
—— Sinto muito por ela.

—— Afinal... Conseguiram resolver o caso em Jericho? Aquele que envolvia meu primo...
—— Sim. A mulher de branco. São espíritos de mulheres que assombram estradas e rios. Geralmente, quando vivas, os maridos são infiéis, então elas tem algum tipo de surto e matam os filhos. Depois disso, se suicidam. E ficam no local da morte, matando homens infiéis.

—— Já ouvi essa história... Só não acreditava tanto ser real. Mas agora...
—— Acho que depois do Wendigo, você sabe bem aonde se meteu.
—— É, sei. Mas não me arrependo. Acho que depois de passar a vida toda sendo xingada de tudo possível... É bom ter a sensação de que estou salvando vidas. Que tenho importância.

—— Você é importante.
—— Agora que caço, talvez sim. Sou importante para ajudar a salvar vidas. Mas antes era só uma covarde que apanhava quieta.

—— Você não era covarde. Você sabia que se denunciasse e não desse certo, a violência iria aumentar...
—— É complicado. Mas... Enfim. Fico feliz de caçar com vocês. É bom ter companhia.

Ele assente, com um sorriso pequeno.
—— E você? Eu contei minha infância... Como foi a sua?

Ele suspirou e abriu a boca para falar, mas no mesmo instante, Sam entrou no quarto com três pacotes.
Então a conversa foi praticamente encerrada.

—— Cheguei!
—— Hm... Que cheirinho bom. O que é? —— questiono.
—— Trouxe burritos e suco.

—— Qual o meu? —— Dean pergunta.
—— Esse aqui. ——Sam entrega o pacote —— Sei que gosta de gordura. Bastante gordura. Então peguei um bem gorduroso: bacon, carne, presunto, batata frita, molho extra, queijo cheddar...
—— Do jeitinho que eu gosto. —— Dean sorri e pega seu pacote —— Só faltou a coquinha gelada...

—— Para mim peguei frango com molho e salada. E para você... —— ele me entrega o pacote —— Não sei exatamente qual sabor você quería, então peguei um meio termo.
—— Hm... Tem o quê?
—— Pedi com carne, salada, batata frita e um pouco de cheddar. Gosta?
—— Que delícia! Obrigada, Sam.

Nós comemos, depois escovando os dentes e fomos dormir.
Eu dormi na mesma cama que o Sam, ele de um lado e eu do outro. Bem afastados.

(...)

𝙃𝙪𝙣𝙩𝙚𝙧𝙨 - 𝘿𝙚𝙖𝙣 𝙒𝙞𝙣𝙘𝙝𝙚𝙨𝙩𝙚𝙧Onde histórias criam vida. Descubra agora