𝙃𝙪𝙣𝙩𝙚𝙧𝙨 - 𝘿𝙚𝙖𝙣 𝙒𝙞𝙣𝙘𝙝𝙚𝙨𝙩𝙚𝙧

13

ᴇʟᴇ ᴇʀᴀ ᴄʀᴜᴇʟ

ELLIE HARPER

Encontramos Andréa sentada em um banco e o garotinho brincando no parque.
—— Aquele lá? —— pergunto, indicando um garoto de cabelos grandes.
—— Aham ——Dean concorda.

—— Licença... —— sorrio para Andréa.
—— Podemos te acompanhar?
—— Claro...
—— Aquele é seu filho? —— pergunto, ela assente —— Podemos dar um oi para ele?
—— Pode. Só não tenho certeza se ele vai ser receptivo...
—— Os meninos me contaram que ele é bem quieto. Vou tentar.

Eu sigo até ele e me abaixo em sua frente. Dean me acompanha.
Tem um banco de madeira onde ele está desenhando com giz de cera, cheio de soldadinhos verdes ao redor.

—— Olha! Eu adorava isso aqui quando era criança! —— Dean pega os bonequinhos, fazendo sons de armas.

Mas o garoto sequer o olha.
—— Seu negócio é desenhar, né? —— Dean pergunta —— Legal... As meninas gostam!

—— Eu também gosto de desenhar. —— digo —— Você me empresta uma folha?

O garoto me olha de canto e assente.
—— Obrigada! —— me sento ao seu lado e pego uma folha e um giz rosa —— O meu nome é Lena, e o seu? Qual é?

Ele fica em silêncio, ainda desenhando.
—— Sou assistente desse cara aí. —— aponto para Dean —— Eu sei que ele é chato! —— sussurro —— Mas eu sou legal, prometo!

—— Ei! —— Dean resmunga.

—— Olha... Você não precisa me responder. Mas sei que pode me ouvir. Eu não sei o que aconteceu com seu pai... Mas sei que foi uma coisa muito ruim. Eu entendo como você se sente. Algumas semanas atrás... Eu perdi meus pais. Eles foram mortos. Por uma coisa que ninguém acreditaria que existe... Uma coisa bem mau. Eu vi eles... E foi... Horrivel. Você deve achar que ninguém vai te escutar... Ou acreditar em você. Mas nós acreditamos. Eu acredito.

Dean está me encarando de uma forma esquisita agora, então paro de falar por alguns segundos e suspiro.
Aquelas lembranças voltaram.
Todo aquele sangue... Posso até sentir o cheiro. Aquele odor forte de ferro oxidado.

Sinto um enjôo e inspiro fundo, voltando a prestar atenção no garotinho ao meu lado e na folha em minhas mãos.
Rabisco o que era para ser meu quarto.
Um desenho meio desajeitado, claro, mas ainda sim dá a entender que é um quarto. Adiciono detalhes enquanto falo.

Dean parecia atento. Em certos momentos eu o olho pelo canto dos olhos, e ele se mantém focado em mim e no desenho, e depois no garotinho.

—— Você não precisa me dizer nada, se não quiser. Mas pode fazer um desenho. O que acha? Pode desenhar o que viu lá... O que aconteceu com seu pai... Qualquer coisa. Eu vou acreditar em você.

Ele permanece em silêncio.
—— Certo... Sem problemas. Olha! Esse é meu desenho! É meu quarto. Bom, era... Eu não moro mais na mesma casa. Meu quarto era o meu lugar preferido, sabia? Eu tinha uma parede rosa, desde quando tinha sua idade! Eu colava poemas nela, sabia? Eu que escrevia! Eu tinha uma estante lotada de livros! Adoro ler! Contos de fadas... Heróis... Mistério... Romance... Sempre gostei de mistérios e romances. Meu quarto era muito aconchegante! E olha! Esse é o meu cachorrinho Bolt, e o meu gatinho, Salém. Infelizmente eu perdi os dois... Mas ainda lembro deles! Você gosta de animais?

Ele continua quieto, então eu suspiro novamente.
—— É... Eu confesso, não sei desenhar. Ficou ridículo, né? —— sorrio —— Mas é assim que é meu quarto. Claro... Bem melhor do que no desenho... Mas é assim. As paredes coloridas, as estantes, meu espelho, minha cama... —— percebo que ele ainda se mantém concentrado em seu desenho e decido parar de insistir —— Está bem... Vou parar de te incomodar. Qualquer coisa, vamos estar lá com a sua mãe.