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ɴᴇᴍ ᴘᴇɴꜱᴇ ɴɪꜱꜱᴏ!

ELLIE HARPER

Acordei, tomei um café da manhã reforçado e faltei ao trabalho, para enterrar meus pais.

Enterrei.
Foi difícil.
Eu ainda não estava exatamente acreditando no que aconteceu.

Estava irritada. Com tudo e comigo mesma.
Eu deixei isso acontecer.
Eu deixei minha mãe morrer, sem fazer justiça. E deixei aquele homem morrer, sem pagar por tudo que tinha feito.

Mas é isso que a vida é, certo?
Um mar de arrependimentos e orgulhos. Nem sempre você faz o certo.
Apenas temos que nos acostumar e aceitar esse fato.

Volto para o hotel e compro uma bela barra de chocolate branco.
Chocolate costuma me desestressar.

Mantenho meu foco em um livro, na tentativa de me distrair.
Meus olhos ainda estão pequenos, levemente vermelhos.

Eu tenho pensado...
Talvez seja uma ideia muito idiota. Muito mesmo!
Mas eu deveria fazer algo.
Uma coisa assim simplesmente mata minha mãe, e eu fico aqui? Parada?

As autoridades acreditam ser um ataque animal, mas segundo os dois irmãos, é um meio humano e meio animal.

Se essas coisas realmente existem e ninguém faz ideia...
Quanto mais caçadores, melhor... Não é?

Talvez eu pudesse ajudar com isso?
É uma possibilidade.
Meio louca, mas é uma possibilidade.
Não tenho nada de útil a fazer com minha vida.
Não tenho familiares e nem amigos, então, quem sabe, eu possa salvar vidas.

Ouço batidas na porta e me obrigo a levantar.

—— Oi? —— franzo a testa —— Dean?
—— Oi... Só estou aqui para avisar que matamos o lobisomem.

—— E... Era só esse? Não tem mais?
—— Não que tenhamos encontrado. Mas, enfim... Vim ver se estava tudo bem.

—— É... Mais ou menos. Eu acabei de voltar do enterro. —— digo, abrindo espaço para que ele passe —— Entre.

—— E como você está?
—— Sendo sincera? Péssima! —— resmungo.

—— Nossa... O seu olho ainda está bem roxo. Como isso aconteceu?
—— Ele estava batendo na minha mãe. Fui tentar defender e piorei a situação...

—— Tenho pomadas no carro para isso, se você quiser. O hematoma some rápido.
—— Caçadores costumam levar porrada?
—— É, as vezes a gente se ferra...

Fico em silencio por alguns segundos, decidindo se deveria ou não perguntar isso a ele.
Mas tomo coragem.

—— Como eu faço para caçar?
—— Hm? —— ele me olha como se eu fosse louca.
—— Como eu faço para caçar? —— repito a pergunta, e ele nega com a cabeça, incrédulo.

—— Eu não ouvi isso, né?
—— Acho que ouviu sim...

—— Você não está falando sério, está? Quer caçar?
—— Digamos que sim...
—— Negativo. Nem pense nisso!
—— Qual é! Eu fui chamada de inútil a minha vida toda! Meus pais morreram e eu não tenho mais ninguém aqui. Eu posso ajudar. Posso salvar vidas. Não é o que vocês fazem?

—— Essa vida é um inferno, Ellie.
—— A minha sempre foi. Então por que não salvar pessoas?
—— Acredite em mim, você não quer essa vida.

—— Eu posso ajudar!
—— Quando você entra nessa vida, essas coisas passam a te enxergar. Você não vai mais ter paz.

—— Me diga como eu faço isso.
—— Não vou dizer! Você vai estragar sua vida se entrar nisso.
—— Eu não vou!
—— Vai por mim, não faz isso.

—— Então qual o motivo de você estar nessa?
—— É negócio de família... Não significa que eu goste. Você pode ser independente agora! Sai daqui, se muda, recomeça sua vida... Só não faz isso... Você vai se arrepender amargamente no futuro.

—— Você se arrepende? —— pergunto.

Ele baixa a cabeça, e seu olhar passa a ser distante, pensando por um momento. 
Parece tenso.

—— Se eu pudesse escolher, não tería essa vida.
—— Então se arrepende?
—— Não de todas as vidas que salvei. Mas... Acabo sacrificando a minha. Me arrependo de não poder viver. Só sobrevivo.

—— Admiro o esforço. —— digo —— Você salva pessoas, Dean. E isso é incrível. Imagino o quanto é complicado... Mas você salva vidas! Você caça essas... Essas coisas. Se eu não tivesse ligado para você, a polícia iria dizer que foi um ataque animal qualquer e eu podería já ter sido rasgada no meio por um desses... Lobisomens...

Ele permanece em silencio.
—— Inclusive, é muito estranho falar sobre lobisomens em um tom sério! —— acrescento.

—— Ellie... Presta bem atenção: segue meu conselho. Não entra pra essa vida. Beleza? Não faz isso.
—— Está bem... —— assinto, desistindo de discutir —— Saiba que admiro seu trabalho. Parece meio coisa de louco, eu confesso... —— ele dá uma risada fraca —— Mas eu admiro você dedicar sua vida a salvar outras.

Aquelas íris verdes pareceram olhar no fundo dos meus olhos, ele permanece parado, me encarando, com um quase sorriso. E fica assim por longos segundos.

Porém, ao se dar conta de que estava parado me olhando, ele força uma tosse e balança levemente a cabeça. 
—— Bom... Vou indo. Sam está no carro. Vai querer a pomada?
—— Não precisa...

—— De agora em diante, você já sabe que essas criaturas existem. Então preste atenção quando as coisas estiverem fora do normal. Qualquer coisa, você sabe meu número.
—— Pode deixar!

—— Tchau, Ellie. Foi bom conhecer você. Nos vemos por aí, talvez.

Vou com ele até a porta e abro novamente.
—— É... Nos vemos, talvez.

—— Tenha uma boa vida. Sinto muito pelo o que passou com seu pai.

Ele vira as costas e dá alguns passos, antes que eu o chame.
—— Dean...
—— Hm?  —— ele vira a cabeça em minha direção.
—— Obrigada pela ajuda.

Ele sorri pequeno com um aceno.
—— A seu dispor, gatinha!

—— A seu dispor, gatinha!

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𝙃𝙪𝙣𝙩𝙚𝙧𝙨 - 𝘿𝙚𝙖𝙣 𝙒𝙞𝙣𝙘𝙝𝙚𝙨𝙩𝙚𝙧Onde histórias criam vida. Descubra agora