Capítulo 29

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Micael correu pro atrás de Sophia, mas justo naquele dia pegou um trânsito infernal. Largou o carro aberto com a chave na ignição e entrou no centro sem se importar com um possível furto.

— Rebeca, onde está a Sophia? — Disse alarmado, mas num tom baixo.

— Eu não sei.

— COMO É QUE VOCÊ NÃO SABE? TEM MEIA HORA QUE ELE ME LIGOU DA PORCARIA DO SEU TELEFONE. — Gritou e viu a mulher arregalar os olhos pro chilique.

— Quem você pensa que é pra gritar comigo? — Respondeu séria, com um tom firme que Micael nunca tinha visto a menina usar. — Eu exijo respeito.

— Me desculpe. — Abaixou o tom de voz. — Mas é muito urgente saber onde a Sophia está.

— Eu não sou babá dela. — Disse ainda de má vontade. — Ela me pediu o telefone pra fazer uma ligação, eu emprestei e logo depois ela saiu. Apenas isso. Pra que todo esse desespero?

— Sophia ligou pra mim com um super papo estranho de obrigada por tudo e tal, acho que ela vai fazer alguma besteira mais grave do que recair. — Contou afetado, pensando em algum lugar que a mulher talvez pudesse ter ido. 

— Vocês vivem grudados, deve saber algum lugar. — Rebeca disse com preocupação. — Ela não pode ter ido muito longe. 

— Ela pode, meia hora é bastante tempo. — Socou a parede, irritado e agoniado, nem sentiu dor. — Se a Sophia se matar, não vou me perdoar. 

— Não é culpa sua. 

— Ela pediu para que me afastasse e eu simplesmente me afastei, devia ter insistido mais, devia ter provado a ela mais uma vez que não está sozinha, mas ao contrário disso, eu a deixei sozinha. 

— Não adianta você surtar por isso, você não tem culpa e nada vai me convencer de que tem, precisamos encontrar a Sophia, pode dar tempo de impedir a loucura que ela está planejanto. Pensa ai, algum lugar que ela já tenha comentado? 

— Não, não consigo pensar em nada de especial. — Suspirou, impotente. — Talvez o Arthur saiba de algo. — Puxou o celular do bolso e caminhou pra fora, deixando Rebeca sozinha e sem entender nada.  — Arthur, preciso de ajuda. 

— Não conseguiu encontrá-la? — Micael sentiu um tom de dor em Arthur, mas preferiu não comentar. 

— Não, demorei muito a chegar e ela já tinha desaparecido, acontece que eu não faço nenhuma ideia de onde começar a procurar. — Estava desesperado. — Me ajuda, diz um lugar pra onde ela possa ter ido. 

Eu não conheço os lugares por onde a Sophia anda faz tempo, Micael. — Respondeu baixo, mas ja pensando se realmente não sabia. — Eu não a conheço mais e faz tempo. 

— Não estou falando dos lugares que ela frequenta agora, estou falando de algum lugar especial pra vocês. Pensa Arthur, não faço ideia de onde procurar e estou muito preocupado. Tenho certeza de que apesar de você ser um babaca, não quer que ela morra. 

Não quero? Já disse isso algumas vezes. — Implicou enquanto pensava, tirando ainda mais Micael do sério. 

— Será que pode manter o foco? — Cortou a gracinha e Arthur começou a pensar em silêncio. — Arthur, eu não tenho todo tempo do mundo. 

— É muito difícil pensar em um lugar específico, ficamos anos juntos! — Respondeu irritado. — Tem um parque próximo á reserva da tijuca, nós costumavamos ir até lá fazer piquiniques, levar a Liz pra brincar ao ar livre. Foi onde eu a pedi em casamento. 

— Ok, eu imagino onde seja. — Ia desligar a ligação, mas então ouviu a voz de Arthur o chamando novamente. 

Pode me avisar se encontrar? — Pediu com um tom envergonhado. — Vou continuar aqui pensando em outros locais, pra caso ela não estiver lá. 

— Eu ligo avisando. — Jogou o celular no banco e então deu partida no carro, dirigindo o mais rápido possível até o local onde Arthur havia indicado. 

O único problema era o lugar ser imenso. Não tinha a menor ideia de por onde procurar, então começou a andar sem rumo pelo local. 

Levou mais tempo do que gostaria e quando estava prestes a ligar pra Arthur e avisar que não estava ali, ele a viu, sentada de frente pro lago. Correu até ela que se assustou ao vê-lo ali. 

— Como é que você me encontrou aqui? — A mulher estava abraçada aos joelhos, tinha os olhos inchados e bem vermelhos. — Não devia ter vindo. 

— Eu sou seu anjo da guarda, sempre vou atrás de você. — Brincou e se sentou ao seu lado. — Pode me esclarecer aquele papo todo de agradecimento? Pareceu um telefonema de despedida. 

— E era, mas no fim eu fui mais uma vez covarde e não consegui completar o que pensei. — Com um suspiro mostrou a faca que tinha levado consigo, uma pequena faquinha de serra. — Roubei da cozinha do centro, será que vão me expulsar por conta disso? 

— Ninguém vai te expulsar de lugar nenhum, querida. — Brincou. — Pra mexer com você tem que passar por cima de mim antes. Que ideia estúpida foi essa de se matar? E ainda por cima com uma faquinha de serra? 

— Doeu e eu parei. — Mostrou o braço vermelho, com claramente uma tentativa de se cortar. — Nem pra isso eu presto, se tivesse ido comprar droga pra ter uma overdose seria muito mais fácil. 

— Para de falar besteira! — A sacudiu pelos ombros. — O que aconteceu? Eu não sabia que você tinha tendências suicidas. 

— Estou cansada de ser uma decepção pra todo mundo, acho que o mundo sem a minha presença vai ser muito melhor. —  A loira disse enquanto olhava o lago e Micael teve vontade de lhe dar um abraço forte, mas não fez. — Eu sei que estou um tanto melodramática e tals, mas é só que cansei. 

— O que meu tio disse pra você, hein? — Sophia se  surpreendeu e o encarou. — Eu sei que a ideia de me afastar foi dele, você surtou muito repentinamente pro meu gosto. 

— Seu tio disse que você gosta de mim e que eu vou acabar com a sua sobriedade porque sou instável. — Contou com um dar de ombros, reparando bem no rosto de Micael enquanto ele estava tentando formular uma frase. — E eu acho que é verdade, afinal, você se preocupa demais com a minha vida, de um jeito que não te vejo se preocupar com o resto do pessoal. 

— Viramos amigos, por isso que eu quero ajudar você com a sua família. 

— Seja sincero, Micael. Quero saber se o seu tio tem razão e quero ouvir da sua boca.   

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora