Capítulo 6

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— Quando foi que você virou uma prostituta barata, Sophia? — Arthur completou vendo os olhos arregalados da ex-esposa assim que se virou. 

— Arthur! — Disse em choque e puxou o lençol da cama pra se cobrir. — O que esta fazendo aqui? 

— Me contaram que você tinha virado uma puta e eu precisei vir ver com meus próprios olhos, juro que até entrar nesse quarto eu estava pedindo a Deus pra ser mentira. Como você se sujeita a esse tipo de coisa? Eu não esperava que você chegasse tão baixo. 

— Você me expulsou de casa sem um real, eu precisei me virar. — Disse baixo, estava completamente envergonhada. — O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta. 

— Seu cafetão me cobrou vinte reais. — Avisou com um sorriso derrotado. — Vinte reais. — Reforçou e viu os olhos de Sophia se encherem de lágrimas. — Já se olhou no espelho? — Apontou na direção do que tinha no quarto. — Você está irreconhecível, Sophia. 

— Esperava que acontecesse o quê? A culpa disso aqui é sua que me jogou pra escanteio e não quis mais saber! 

— Eu queria te dar um choque de realidade, queria que visse quão ruim seria se continuasse por esse caminho, mas eu nunca planejei te deixar sozinha. Eu tinha instruído meus seguranças a vigiarem você, a Joana ia sempre preparar comida pra te dar, era pra ser um susto! 

— Está dizendo que ia me deixar morar na rua pra me ensinar uma lição? Queria que eu ficasse dormindo embaixo de marquise? — Disse chateada. — Você não pode estar falando sério. 

— Estávamos de olho em você, nada de ruim ia te acontecer. — Se defendeu. — Mas eu não sabia mais o que fazer pra te mostrar que estava acabando com a gente. Só que um dia depois você se enfiou aqui nessa casa e ficou muito difícil tomar conta de você. Nunca na minha vida eu pensei que veria você como uma prostituta! 

— Você acha que isso aqui é opção minha? — Ela disse baixinho. — Eles me obrigam a isso, ou realmente acha que eu transaria com vinte caras estranhos num só dia por opção minha? 

— VINTE? — Ele quase gritou, tinha os olhos arregalados, a situação era pior do que imaginava. — Vai se tratar Sophia, por favor! — Juntou as mãos implorando. — Não é possivel que você ainda ache que não tem um problema e que pode parar a hora que quiser. 

— Eu não posso sair daqui, Arthur. — Se sentou na cama e desviou o olhar, não tinha coragem para encarar o ex-marido. — As coisas são mais complicadas do que você imagina. 

— Vai na polícia e resolve isso. — Se sentou ao seu lado. — Se não consegue sair dessa vida por você, pensa na Liz. 

— A Liz que nem deve lembrar que eu existo. — Arthur suspirou, pensando se contava ou não que a menina perguntava por ela todos os dias. — Você não me deixou nem dar um beijo nela. 

— Lógico que não, olha como você está!

— Mas eu não estava assim quando você me botou pra correr. 

— Mas estava drogada igualzinho. — Rebateu e em seguida recebeu o olhar dela. — Sophia, vai procurar um grupo de apoio, ou então uma clínica, eu interno você. 

— Não quero ser internada. 

— Você prefere ficar aqui sendo obrigada a transar com dezenas de homens do que ir se tratar e ir atrás da sua vida? Reage, Sophia. 

— Eu já te disse que não dá pra sair daqui, eu tenho uma dívida impossível de ser quitada. — Contou deixando as lágrimas rolarem. — Eu não aguento mais isso, Arthur. Só queria voltar no tempo e nunca ter provado nada. — Ele passou as mãos pelas costas de Sophia e a acolheu. — É tudo tão difícil agora. 

— Eu imagino que seja, você devia ter me procurado quando eles te obrigaram a fazer essas coisas. — Torceu o nariz. — Podia ter pedido ajuda pra mim. 

— Você deixou bem claro que não ia mais me dar dinheiro pra isso. 

— Mas eu também não ia deixar você ser prostituida por ninguém. Veste sua roupa, vamos embora desse lugar. — Avisou e ela sorriu. — Mas eu não vou te levar pra minha casa, se é o que acha. 

— E vai me levar pra onde? — Se levantou da cama brava, não tinha o menor direito de estar brava, mas estava. — Pra morar na rua e comer quentinha da Joana? 

— Vou te levar pra um abrigo. — Deu de ombros. — É isso ou uma clinica de reabilitação. Eu só não estou te obrigando a ficar na clínica de novo porque eu não tenho mais nada a ver com a sua vida, senão já tinha te internado mais uma vez. 

— Se você não tem mais nada a ver com a minha vida, dá o fora daqui. Pode deixar que eu me viro. — Secou o rosto com as costas das mãos e viu o ex-marido virar os olhos. 

— Estou fazendo isso pela minha filha, porque eu sei que um dia você vai ficar bem pra conviver com ela de novo. — O olhar de Sophia voltou a ficar triste. — Vamos, se veste. Eu vou ver com o seu cafetão o quanto é que você deve. 

— Muito dinheiro. — Adiantou novamente triste. — Essa dívida parece que só aumenta, é surreal. 

— Se você parar de usar, vai parar de aumentar. — Debochou. 

— Não tem como parar de usar e aguentar transar diariamente com muitos homens. — Se encolheu. — É a única maneira de passar por isso. 

— Vou tirar você daqui. — Avisou e saiu do quarto, indo conversar com o homem que tinha ficado na sala, junto com Nick. — Rogério, não é mesmo? — O homem se virou com um sorriso, certo de que havia agradado o cliente que parecia ter dinheiro. — Preciso saber o quanto a Sophia está devendo. 

— Ora, isso não é assunto para clientes. — Respondeu sem paciência. — A dívida dela é bem alta. 

— Tudo bem, eu quero saber quanto é, porque eu vou pagar. — Pegou o cafetão desprevenido.  

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora