Capítulo 38

101 14 12
                                    

— Está pretendendo ficar sem falar comigo até quando, Micael? — Fernando perguntou na manha seguinte, quando via o sobrinho mais uma vez passar por ele e a mesa do café sem dizer nenhuma palavra. — Isso é uma criancices.

— O senhor se intrometer na minha vida não é uma criancice. — Ele que já estava quase a porta voltou. — Eu não gostei do que fez.

— É um direito seu, mas não pode me ignorar o resto da vida, moramos na mesma casa.

— É um direito meu te ignorar. — Respondeu no mesmo tom. — Ainda não ouvi um pedido de desculpas.

— E nem vai, eu não me arrependo do que fiz, continuo achando essa garota uma furada e que você deve se afastar.

— Tudo bem tio, com licença.

— Sempre cuidei de você, filho. Não vou deixar de cuidar agora só porque você está apaixonado. Será que pode entender meu lado?

— Eu até entendo, mas como vamos fazer? Porque o senhor não vai deixar de implicar e eu com certeza não vou deixar de gostar dela. — Micael soltou um suspiro, amava seu tio, mas aquilo era um impasse terrível. — Eu devo me mudar?

— Não quero que saia daqui.

— E eu não quero sair daqui, mas do jeito que está, é impossível. — Arriou os ombros. — Eu te amo tio, te admiro e quero que a gente volte ao normal. E olha só, eu nem tenho nada com a Sophia.

— Não tenta me enganar. — Cruzou os braços encarando o rapaz a sua frente. — Essa menina vai te usar até o marido dela querer voltar, ela pode até gostar de você, mas a família dela vem em primeiro lugar. — Micael ouvia o tio em silêncio. — E aí enquanto você se entrega mais e mais, ela vai surgir e dizer que voltou pra casa por causa dela e é desse momento que eu tenho medo. Você está triste por conta dela, uma decepção gigante a ponto de tudo voltar. É disso que venho tentando te proteger.

— Não pode me proteger de ter decepções na vida, a única coisa que você pode fazer é confiar em mim.

— Ela já fincou as garras em você de um jeito que nem me escuta mais. — Soltou um suspiro pesado. — Não minta, vocês estão juntos?

— Não. — Mentiu. — Não tem nada rolando, eu gosto dela, mas não aconteceu nada, somos amigos. Tenho que ir, não posso chegar atrasado. — Avisou e saiu sem ouvir resposta do tio.

Micael foi trabalhar pensando nas palavras do tio, ele havia jogado todos seus medos na mesa e isso tinha mexido com o moreno.

Entrou na empresa ainda pensativo, cumprimentou pessoas pelo caminho e se sentou em sua cadeira, em silêncio.

Arthur estava lá em igual silêncio, não tinha nem mesmo lhe dirigido o olhar. E esse clima durou toda manhã.

**

No centro, Sophia andava pelos corredores à procura de Rebeca. Encontrou a mulher na cozinha, com uma cara nada agradável.

— Posso conversar com você um minuto? — Sophia pediu sem graça e recebeu um olhar desinteressado. — Gostaria de pedir um favor.

— Não vou emprestar meu celular. — Respondeu antecipadamente. — Se vira, Sophia.

— Não é bem isso. Quero começar pedindo desculpas pelo modo como te tratei.

— Está tudo bem, não se preocupe com isso. — Desviou o olhar. — Só quero ficar em paz, pode me dar licença?

— Rebeca, o favor que eu quero pedir... Será que você pode não contar a ninguém sobre eu e o Micael? — A mulher a olhou incrédula. — O tio dele me odeia e eu não quero começar uma briga entre os dois.

— Não vou falar nada. — Disse de má vontade. — Agora vai. — Sophia ergueu as mãos e saiu de perto, estava sentida, havia percebido como os olhos de Rebeca se encheram de lágrimas quando Micael tinha sido mencionado.

Caminhou de volta pro quarto, não tinha muito o que fazer senão ficar ali, esperando que Micael aparecesse para alegrar seu dia.

**

Quase um mês depois e o romance dos dois não tinha evoluído em nada. Micael trabalhava de manhã e tarde, saia e passava no centro. Os dois saiam algumas vezes, pra jantares ou motéis, mas não passava disso.

Sophia ainda não queria assumir o relacionamento e naquela altura Micael já nem insistia mais.

A relação com Arthur também não tinha ficado mais fácil, eles ao menos conversavam como pessoas normais que trabalham juntos, mas Sophia sempre estaria no meio deles.

Os três estavam saindo da empresa juntos, o que era um milagre, aquilo raramente acontecia, uma conversa pontual acontecia e então Micael a viu ali, de pé sorrindo pra ele.

— O que faz aqui? — Perguntou com a cara fechada, queria manter ela o mais longe possível do ex-marido.

— Oi, tudo bem? — Ergueu uma sobrancelha não gostando da reação. — Combinamos de ir ao cinema, esqueceu?

— Mas eu ia te buscar em casa. — Rebateu novamente com um tom ignorante. — Não era pra ter vindo aqui.

— Que isso, Micael, não precisa ser estúpido, eu só quis economizar tempo. — Franziu a testa sem entender nada. — Oi, Diego, oi Arthur. — Disse aos dois que estavam parados um pouco atrás de Micael, observando aquele encontro desastroso. — Tudo bem com vocês?

— Tudo ótimo. — Diego respondeu com um sorriso.

— E a Liz? — Sophia perguntou diretamente a Arthur, claro.

— Está resfriada, mas nada que um belo suco de laranja não resolva. — Arthur a olhou e deu de ombros, a mulher se interessou mais no que tinha dito o ex-marido. — Não precisa fazer careta de preocupação, ela está bem, só espirrando um pouco e teve febre de madrugada. Já chamei o médico e ela está medicada.

— Eu tenho que fazer cara de preocupação, é a minha filha.

— Ela já teve resfriado outras vezes desde que você saiu da vida dela.

— Fui expulsa. — O corrigiu e arrancou uma risadinha do ex. — Não fale como se tivesse sido voluntário.

— Eu sei. — Os dois ficaram se encarando em silêncio e Micael ficou desconfortável no meio deles.

— Feliz aniversário. — Ela quebrou o silêncio, mas não o contato visual. — Teve um dia bom?

— Agora está melhor. — Foi sugestivo e deixou a loira confusa. — Depois eu quero conversar com você.

— Manda um sinal de fumaça. — Sophia brincou.

— Arruma um celular pra ela. — Arthur disse pra Micael com um tom de autoridade. — Já estão juntos há um mês.

— Se ela aceitasse alguma coisa que vem de mim. — Disse ainda irritado com a ceninha que acontecia ali. — Se você oferecer com certeza ela pega.

— Micael! — Sophia o repreendeu alto. — Você está irreconhecível.

— Quer saber? Cansei. — Saiu de perto deles largando Sophia pra trás confusa.

— Mas que merda aconteceu aqui? — Sophia perguntou aos rapazes, ainda sem desviar o olhar de pra onde Micael havia ido.

— Ele acha que o Arthur vai te chamar de volta pra casa e você vai aceitar. — Diego contou sem hesitar. — Está com ciúmes.

— Me chamar de volta pra casa? Que loucura é essa?

— Vamos supor que chamasse, qual seria a sua resposta? — Arthur perguntou entrando na onde de Diego e Sophia parou, confusa, alternando olhares entre os dois e por onde Micael havia ido.

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora