Capítulo 18

123 15 5
                                    

Micael deixou Sophia no centro e foi pra casa, precisava conversar com o tio para que ele não fosse pego desprevenido, afinal, era ele quem comandava as reuniões de grupo. 

Chegou em casa e encontrou os tios na sala, almoçando enquanto viam televisão. Os dois sorriram pra ele e a tia deu batidinhas ao seu lado. Micael se aproximou e beijou a testa da tia. 

— Bença. — Disse com um sorriso. 

— Deus te abençoe, meu filho! — Respondeu ainda sorrindo, Regina era uma doce senhora. — Você já almoçou? Posso esquentar pra você se quiser. 

— Nem se preocupe, eu coloco no microondas, pode terminar de comer em paz. — A mulher fez uma careta e ele sabia bem que o motivo era o eletrodoméstico. 

— Você pulou da cama hoje com as galinhas, hein. — Fernando disse ao sobrinho enquanto ele ia na cozinha. — O que aconteceu?

— Sempre saio cedo da cama e vou ver se precisam de ajuda no centro. — Gritou a resposta da cozinha. — Hoje não foi diferente. 

— Foi atrás da Sophia? — Perguntou após mastigar e ouviu o sobrinho gritar "uhum". — Vocês não estão juntos demais não? 

— Somos amigos. — Terminou o prato e os dois ouviram o barulho do microondas ligando. — Eu gosto dela, é bem divertida.

— Sabe do que estou falando, Micael. — Insistiu. — Ela é emocionalmente instável ainda, não queremos isso, mas pode ter uma recaída a qualquer hora, e eu não quero você perto de drogas novamente. Você devia apadrinhar alguém que está limpo há mais tempo. Tem aquela Rosângela, já tem oito meses limpa. 

— Está na hora dela apadrinhar alguém e não de ser apadrinhada.  — Respondeu ao tirar sua comida e ir pra sala se sentar novamente ao lado da tia. — Toda vez que eu apadrinho alguém é a mesma conversa, eu não vou recair, tio, confia em mim! 

— Eu confio em você, só não quero que fique no caminho da tentação. — Disse baixo, sem olhar na direção de Micael. — Não quero você de novo nessa vida, filho. 

— Eu estou bem, pode ficar tranquilo. — Deu uma garfada na macarronada da tia. — Hum, isso está maravilhoso, tia. 

— Obrigada, meu amor. — Passou a mão pelo rosto do menino. — Tem algo que queira nos contar? Estou vendo em seus olhos que está desconfortável. 

— A senhora não deixa escapar nada, não é? — Sorriu à ela que apenas deu de ombros. — Hoje é aniversário da filha da Sophia, ela estava super mal porque não pode ver a menina e eu tive ideia de irmos até a escola, olhar de longe. — Os dois olhavam com atenção, mas não o interromperam em nenhum instante. — Só que o ex-marido dela a viu e deu a maior confusão. 

— Está tentando nos dizer que ela teve uma recaída? — Fernando disse com um olhar bem sério. 

— Quase teve, se eu não tivesse lá, ela teria usado novamente. — Contou e os deixou de boca aberta. — Ele é um sujeito bem cruel, me lembrou o Diego. 

— Nós vamos ajudar a Sophia, mas você não vai mais ser padrinho dela. — Fernando disse decidido. — Não quero você em contato com droga, Micael! 

— Eu tenho autocontrole, tio, não precisa disso tudo. — Soltou um suspiro. — Eu comprei cocaína hoje. 

— VOCÊ O QUÊ? — Os dois deram um grito juntos. — PERDEU A PORCARIA DO JUÍZO? — Somente Fernando concluiu. 

— Se acalmem, eu queria impedir ela de usar, precisei fazer isso. Deu tudo certo, jogamos fora e voltamos pra casa. 

— Já disse e repito: EU NÃO QUERO VOCÊ TÃO PERTO ASSIM DE DROGAS! — Fernando manteve o tom. — Seu pai jamais me perdoaria se eu deixasse você entrar nessa uma segunda vez.

— Eu entrei a primeira e não foi culpa do senhor, tio. — Manteve seu tom controlado, sabia que toda relutância do tio era apenas preocupação. — Eu nem sequer tive vontade de usar. Comprei pra impedir a Sophia de fazer uma loucura e quando ela caiu em si, jogamos fora.

— Micael...

— Estou contando porque disse que ela devia contar na reunião hoje e tenho certeza que o senhor ficaria com ódio senão soubesse disso por mim.

— Se afasta dessa mulher, Micael. — Pediu mais uma vez. — Ela é uma ameaça a sua sobriedade, uma bomba relógio prestes a explodir.

— O senhor é sempre cauteloso com os novos adictos que eu apadrinho, mas parece que com a Sophia é ainda mais. Deixa disso, tio.

— Com ela é mais porque me parece que você gosta dessa mulher mais do que devia. — Insistiu. — Procure alguém que te leve pra cima e não que jogue a última pá de cal no seu caixão.

— Tio, ela é minha amiga!

— Você gosta dela, não tente nos enganar, temos o dobro da sua idade! — Ele insistiu e Micael soltou um suspiro pesado sem responder.

— A história dela me lembra a minha.

— Você tem um filho do qual foi afastado? — Perguntou com certo tom de deboche. — Deixa de loucura.

— Não estou falando dessa parte, estou dizendo as coisas que o Arthur diz pra ela. Da outra vez disse que ela devia aparecer logo morta por aí numa vala, hoje disse que ela não tem jeito, que nunca vai ficar boa! — Ele disse as frases com tristeza. — São coisas que eu já ouvi do meu irmão e o senhor sabe.

— E por conta disso você vai vestir uma capa de super-herói e salvar o dia?

— Fiquei com vontade de conversar com Diego. — Revelou sem responder a pergunta irônica do tio. — Talvez assumir meu lugar na empresa, no testamento que o meu pai deixou, a presidência é minha.

— E você vai entrar em guerra com seu irmão por conta disso?!

— É meu lugar de direito, você não acha que devo correr atrás das minhas coisas? Retomar a minha vida, os meus amigos? — Os tios se encararam em silêncio. — Vocês não acham que eu devo correr atrás das minhas coisas?

— Vai começar uma guerra com seu irmão por causa da presidência de um lugar que você não quer estar. — Sua tia disse baixo. — Você não sabe tocar aquilo lá. 

— E nem o Diego sabia quando entrou lá, meteu as caras e se atreveu a fazer. Não acham que eu sou capaz? Ou vocês acham que eu vou recair e falir a empresa? 

— Não é isso, filho. 

— É isso sim!  — Rebateu um pouco alto e surpreendeu os dois. — Vocês tem medo de que eu pegue todo dinheiro e gaste com drogas, não é? Mesmo mais de dois anos limpo, vocês acham que eu vou entrar nessa de novo a qualquer momento. Vou sobreviver o resto da minha vida assim, ganhado mesada e sendo monitorado por vocês pra não fazer besteira?

— Primeiro que não monitoramos você e segundo que não há problema nenhum em viver de mesada. — Fernando deu de ombros e Micael o encarou por alguns instantes. — Estou falando sério. 

— Todo meu dinheiro foi bloqueado por vocês e tudo bem, eu entendo que foi necessário na época, se não eu teria acabado com meu patrimônio. Mas já deu, eu posso tomar conta de mim. 

— Sophia está fazendo a sua cabeça contra a gente? — Fernando perguntou e viu o sobrinho dar risada. 

— Ela não sabe nada da minha vida, tio. — Contou com pesar. — Eu havia contado a ela que perdi meus pais num acidente. Hoje contei que me vicei e tenho um irmão caçula. Ela não sabe dos detalhes da minha vida, não sabe que eu sou rico e que vocês que têm a tutela dos meus bens, não sabe que o meu irmão roubou a presidência da empresa na mão grande e me expulsou a pontapés enquanto eu precisava de ajuda. Então não, ela não fez a minha cabeça contra ninguém, deixem de implicância. 

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora