Capítulo 12

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— E eu ganhei mais uma vez! — Sophia disse dando risada de Micael. — Xeque-mate! 

— Você trapaceia! — Micael cruzou os braços enquanto se divertia ao olhar a mulher gargalhando. — Não é possivel que tenha ganhado quase dez partidas seguidas. 

— Você é muito distraído! — Começou a arrumar o tabuleiro novamente. Já ia completar um mês na clínica de reabilitação e estava parecendo outra pessoa. Ainda não tinha ido atrás da filha ou de Arthur porque sabia que era muito cedo pra isso, mas se sentia bem ali, cercada de gente que tinha aprendido a gostar. — Vamos mais uma! 

— Eu não, cansei de perder. — Balançou a cabeça e a viu ficar desapontada. — Se a gente tivesse jogando dominó, pode ter certeza que eu ia estar te dando essa surra. 

— Eu duvido bastante, você parece não ter sorte no jogo, anjinho. — Se recostou na cadeira, ainda achando graça. — E nem no amor, já que está aqui todos os dias e não parece sair muito. 

— Aí você pegou pesado e entrou num assunto super delicado. — Balançou a cabeça e viu a mulher dar ainda mais risada. — Eu não gosto muito de sair. 

— Para, quantos anos você tem? Vinte seis? — Ergueu uma sobrancellha. — Vai viver, rapaz. As vezes parece que você para a sua vida pra cuidar da gente e nem médico você é. 

— Eu não tenho muitos amigos fora daqui, eu tive alguns e acabei me afastando depois da morte dos meus pais, isso aqui virou o meu mundo, não acho que estou disposto a sair da minha zona de conforto. — Deu de ombros, agora o assunto tinha se tornado um tanto sério. 

— É absurdo um homem gentil, atencioso e bonito como você viver assim. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Que foi? Eu falei mentira? 

— Você me acha bonito é? — A loira deu de ombros, apenas um elogio normal. — Então quer dizer que anda reparando em mim, dona Sophia? 

— Eu reparei em você no instante em que me acordou, anjinho. — Ele gargalhou com a sinceridade. — Eu podia até ser uma sem teto drogada, mas minha visão sempre foi ótima. 

— Ah, para de ser idiota. — Balançou a cabeça ficando constrangido. — Me deixa em paz. 

— Não vou deixar, vou te arranjar um encontro. — Disse empolgada. — Você é meu anjo e eu serei seu anjo, porém o cupido. 

— Nada disso! — Se apressou a dizer e arrancou mais risada da loira. — Não entra nessa! 

— Rebeca parece gostar de você, sabia? 

— Você não é a primeira pessoa que me diz isso, mas eu prefiro não saber. — Sophia o observou com curiosidade. — Ela é uma amiga e eu não quero namorar. 

— Mas dar uns beijinhos não mata ninguém. 

— Mas não se pode dar uns beijinhos em amigo, Sophia. Sabe por quê? Acaba a amizade ou então da namoro.  E como eu te disse, não tem espaço pra namoro na minha vida. — Deu de ombros como se fosse simples. — Estou bem sozinho e se eu arranjar alguém, você vai ficar sem me ver hein, vou sumir. 

— Vai sumir?! — Arregalou os olhos surpresa. — Vai ficar colado na mullher o tempo todo? 

— Eu sou muito intenso, gosto de ficar juntinho. Acha que eu estaria aqui levando uma surra pra você no xadrez se tivesse alguém pra ficar de conchinha vendo um filme? — Ela balançou a cabeça desacreditada. — Se gosta da minha companhia, não inventa ideia. 

— Tudo bem, você venceu. Não quero perder você pra ninguém, a Rebeca que lute. — Deu de omrbos. — Mas você devia mesmo sair, nem que seja com seus amigos, aposto que vão gostar de te ver depois de todo esse tempo.     

— Pelo que eu sei o Chay e a Mel continuam sendo um casal e se mudaram pra outro estado, a Lua arranjou um namorado por aí, então não, eu não vou ser uma vela insignificante no meio dos dois. — A loira voltou a dar risada. — Se está cansada de mim pode dizer que vou perturbar outra pessoa, não precisa me empurrar pra role aleatório.   

— Não estou cansada de você, eu te adoro! — Os dois sorriram um para o outro. — Só acho que devia existir vida fora daqui pra você. 

— Tá, se você quer tanto que eu saia, vamos comigo. — Convidou e deixou a loira surpresa. 

— Está me chamando pra sair? — Ele assentiu. — Eu sou casada, sabia? 

— Não com esse sentido, maluca. — Soltou uma risada sincera. — Você é uma amiga, vamos sair. 

— Não é uma boa ideia. Olha pra mim? Estou horrorosa! Não tem a menor chance de eu ser vista fora dessa clínica. — Foi a vez de Micael rir. — É sério, meu cabelo tá horrível, meus dentes, minha cara! 

— Minha nossa senhora, quanto drama! — Cruzou os braços a observando. — A ideia foi sua, agora arque com as consequências. 

— Nada disso, minha ideia era você sair com outra pessoa, não comigo. — Os dois deram risadas. — Quando eu estiver bem de verdade e voltar a ser bonita, a gente sai. 

— Mas quando você tiver bem de verdade e voltar a ser bonita vai estar com seu marido e sair comigo? — Questionou e a viu dar de ombros. — Ele não é ciumento? 

— Não, Arthur sempre acreditou no meu amor por ele, nós nunca fomos muito de desconfiança, a não ser no final do casamento quando uma ex dele resolveu aparecer e isso me deixou insegura, inclusive ela também se chama Lua.

— Ficou insegura porque a ex dele apareceu ou porque você já tinha noção no seu subconsciente de que estava fazendo merda? — A loira soltou um suspiro, era difícil admitir aquelas coisas assim. 

— Acho que eu sempre soube que estava estragando tudo, mas admitir é muito complicado. — Revelou com uma tristeza na voz que deixou Micael arrependido de tentar tocar no assunto. — Fico falando "meu marido", mas tenho certeza que ela dorme na minha cama e chama a Liz de filha. 

— E você não vai deixar isso assim, ela pode até ficar com o Arthur, mas a menina é sua filha, Sophia. Briga por ela. 

— Eu não tenho armas pra brigar por ela, Micael. — Ele sabia que o assunto era sério quando a ouvia o chamar pelo nome. — Arthur tem quatro advogados e eu nem estou exagerando. Ele pega tão pesado nas audiências, é absurdo! 

— Só que você não está mais sozinha, Sophia. Se você quiser eu te arranjo um advogado que vale por quatro ou então cinco advogados diferentes. Reaver a guarda deve ser muito difícil, mas direito de visita você vai conseguir. — Lágrimas saíram de seus olhos ao pensar naquela possibilidade. 

— Eu só não quero me frustrar mais, estou cansada disso. — Passou as mãos no rosto e em seguida fungou. — Foi tão doloroso ouvir a sentença do juiz, não vou aguentar recorrer novamente e ouvir um homem que nem me conhece dizer que eu não posso chegar perto de uma criança que eu trouxe ao mundo. 

— Eu imagino que seja difícil, mas desistir está fora de cogitação. — Continuou lhe dando força. — Você estava sozinha, não está mais. 

— Eu queria muito saber o que você viu em mim pra ser tão incrível assim a troco de nada. — Ele deu de ombros, não querendo muito explicar seus motivos a ela.  

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora