— Você não sabe o que está falando. — Disse ainda surpresa com o moreno parado diante de si com a mão estendida. — Deixa de loucura, Micael! Me dá isso aqui?
— Pra você usar os dois? — Sorriu. — Nada disso, vamos dividir.
— Para com isso, eu não vou deixar você usar.
— E eu não vou deixar você usar. — Respondeu bravo. — Deixa de loucura você, está muito bem faz tempo, não vai recair agora por causa de uma discussão com seu ex-marido.
— É minha vida, eu faço o que eu quiser.
— Tudo bem, vai lá então. — Deu de ombros. — Mas vai ser responsável pela sua recaída e pela minha. — Disse com um tom baixo. — Espero que esteja tranquila quanto a isso.
— O Arthur tem razão, Micael. — Ela se sentou ao seu lado e começou a chorar. — Eu sou um caso perdido.
— Para de loucura, ele está desacreditado de você por conta de todas as suas recaídas, mas você pode mais, eu confio em você.
— Você não me conhece! Eu sempre acabo usando de novo, é mais forte que eu. Cada decepção que eu tenho é um gatilho pra cair nessa outra vez.
— Até você resistir a primeira decepção e perceber que quando chegar a segunda, vai ser ainda mais fácil. — Deixou de lado a droga e se virou pra amiga. — Viu como a Liz correu pra você e te deu um abraço forte? Ela te ama, Sophia. Deve sentir a sua falta a todo momento, você precisa estar bem pra voltar pra sua filha.
— Ela é tão linda, não é? — Disse secando seu rosto. — Eu achava que ela nem lembrava mais de mim, sabia?
— Sabia! — Deu risada. — Mas acabou de perceber que não é assim, a menina sente sua falta.
— Só que vai ser impossível conseguir reaver meus direitos, como é que eu vou passar pelo Arthur? Tudo ele usa contra mim, parece que tem gente me seguindo a todo tempo e tirando fotos de mim pra ele usar no processo.
— Não vai ser impossível, você é mãe! Fica bem e vai reaver seus direitos, mas pra isso, não pode recair. — Ela suspirou e olhou a droga que tinha na mão. — Não vou mais tentar te impedir.
— Você acredita mesmo que eu consigo resistir?
— Acredito, mas eu acreditar não quer dizer nada, quem precisa acreditar é você. — Sorriu e ela fungou, antes de abrir o saquinho e jogar o pó no chão.
— Me desculpe por ter feito você gastar duzentos reais com isso. — Ele deu risada e jogou fora o que tinha em cima do cartão.
— Você ia mesmo chupar aquele cara horrendo e sujo no meio da rua? — Perguntou já com um tom descontraído e a loira ficou vermelha. — Para, não vale ficar com vergonha agora!
— Se você soubesse o que eu já fiz por aí, nunca mais falava comigo na vida. — Escondeu o rosto nas mãos e ele deu mais risada. — Para de rir, é triste.
— Você ia chupar um cara todo sujo no meio da rua! — Deu ainda mais risada, agora que a parte tensa tinha passado. — Eu nunca vou esquecer disso.
— Para de me zoar!
— Nunca, minha filha. — Se levantou e começou a caminhar pra onde estava o carro. — E sabe que você agora me deve duzentos reais, né?
— Vai me cobrar sexo também? — Ergueu uma sobrancelha e arrancou risada dele. — Micael!
— Ué, meu pau tá limpo! — Disse como se fosse obvio. — Eu estou todo depilado pra deixar mais agradável pra você.
— Não pode estar falando sério!
— Pra melhor ainda mais, você pode fazer no carro, ninguém vai ver. — Seguiu brincando e Sophia balançou a cabeça negativamente. — Eu não, o fedorento lá sim?
— Eu não tinha dinheiro, precisava oferecer alguma coisa! — Soltou uma risada sem graça. Então parou de andar e quando Micael percebeu que ela havia parado, também parou. — Obrigada por cuidar de mim, mesmo não sendo sua obrigação. — Caminhou pra um abraço e ele a apertou. — De verdade.
— Eu sou seu padrinho, é minha obrigação. — Brincou novamente. — Deixa disso, vamos pra casa.
— Vamos, mas eu quero que você explique pra mim o que quis dizer com eu ser responsável pela sua recaída. — Ele suspirou e afivelou o cinto em silêncio. — Me conta, eu não sei nada da sua vida e você sabe a minha toda.
— Eu não gosto muito de falar da minha vida e é por isso que você não sabe nada. — Respondeu com um sorriso. — Deixa pra lá isso.
— Eu juro que não conto pra ninguém! — Ele suspirou novamente, o carro ainda parado no mesmo lugar.
— Depois que meus pais morreram, eu acabei me viciando também, eu era muito apegado a eles e esse foi o único jeito que eu encontrei de não pensar mais naquilo. Só que pouco tempo depois eu já era um estorvo pro meu irmão e ele lavou as mãos.
— Você tem um irmão? — Abriu a boca surpresa. — Eu estou chocada que a sua vida é realmente um livro fechado. — Mais velho?
— Não, é o caçula. — Deu de ombros. — Deve ter mais de dois anos que ele me enxotou da vida dele e eu não tenho nenhuma informação.
— Mas que coisa horrível.
— Eu acostumei, por isso que eu te disse que a próxima decepção e sempre mais fácil de superar do que a anterior. — Deu de ombros. — Meu irmão assumiu o controle da empresa, afinal, eu não tinha condições de tocar aquilo.
— Mas não era você que estava estudando pra isso?
— Eu estava, mas como era bem jovem, nem tinha vivência da empresa, quase não ia lá e também só no inicio da faculdade. Como eu me enfiei nessa roubada, o Diego, que na época tinha só vinte e três, tomou dianteira das coisas. Ele se juntou com o braço direito do meu pai na época pra começar a aprender as coisas.
— Mas você está bem, porque não volta pra sua vida? — Ele deu de ombros.
— Meu irmão falava comigo igual o Arthur fala com você, acho que no fim ele não se importa mais se eu estou bem ou não. As únicas pessoas que se importam são meus tios e eu tenho certeza que ele vai ficar puto quando souber que eu estive tão perto de drogas novamente. — Deu risada no final. — Certeza que ele vai mandar eu me afastar de você.
— Até eu mandaria, eu sou instável demais, ainda bem que você é bem seguro de si.
— Isso envolve muitos anos de tratamento e ainda assim as reuniões. Mas não é fácil e talvez nunca seja fácil. — Deu partida no carro. — Fale sobre isso na reunião de hoje a noite, vai ser bom pra você.
— E seu tio vai saber que você gastou duzentos reais com cocaína, e vale frisar, pagou caríssimo! — Ele balançou a cabeça. — Não valia nem dez conto aquela quantidade.
— Eu sei, mas era pagar ou deixar você chupar um pau sujo no meio da rua. — Implicou de novo.
— Para de repetir isso. — Protestou, mas no fim os dois estavam rindo.
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Doze Passos - Meu Anjo Da Guarda
RomansaDepois de anos lutando pela reabilitação da esposa, Arthur acaba desistindo e a expulsando de casa. Sophia se viu perdida, sem dinheiro e sem poder ver a filha. Confiou em gente que não poderia e fez muito mais do que devia pra conseguir alimentar...