Capítulo 26

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— Você é muito teimoso, é tão difícil assim acreditar? Por que se importa tanto? 

— Porque você é minha amiga! — Disse ainda incrédulo. — Porque eu sei que ter a Liz na sua vida vai fazer você ter um motivo a mais na hora de resistir a tentação, você vai pensar na sua filha e que vai perdê-la se recair. É importante ter uma família perto e eu não quero ver você de volta as ruas. 

— Fala sério, olha bem pra mim. — Puxou seu braço, estava a ponto de chorar. — Pra começar essa história nem parece que eu sai da rua. 

— Não fala besteira, se você está com a auto estima baixa, podemos dar um jeito nisso. — Amansou a voz novamente. — O que você quer? Ir no salão? Roupas novas? Dentista? 

— Você não tem obrigação de gastar o seu dinheiro comigo, eu jamais aceitaria um centavo seu.

— Acabei de te pagar uma coxinha com refrigerante. — Apontou pra trás com um sorriso sarcástico no rosto. 

— Você faz demais por mim, Micael. — Disse sem a menor sombra de humor. — Eu não vejo você fazendo isso por mais ninguém, o centro está com quase vinte pessoas em recuperação, assim como eu e eu não te vejo tão interessado em saber se a família deles os querem de volta. 

— Sabe que está sendo muito mal agradecida, não sabe? Eu tenho afinidade com você, fui eu que te trouxe pro centro, eu salvei a droga da sua vida! É por isso que quero que fique bem. 

— Talvez não devesse ter salvado nada. — Sophia disse mais baixo do que antes, com um tom bem triste. — Precisamos nos afastar, Micael. Obrigada por tudo o que fez por mim, mas já chega de tentar constantemente salvar alguem que não pode ser salvo. — Saiu andando sem olhar pra trás, Micael ficou olhando a mulher caminhar até o centro sem entender nada, afinal, tudo estava ótimo até pouco tempo atrás. 

Micael caminhou até sua casa triste com aquela briga sem sentido que tivera tido com Sophia, não sabia se a ouvia e deixava pra lá, ou se tentava em algum outro momento conversar com a mulher. 

Destrancou a porta e encontrou os tios na sala, como todo dia, naquele horário. Se sentou ao lado da tia após lhe pedir a bença e dar um beijo na testa. 

— Você não está com a melhor cara. — Fernando puxou assunto e observou o sobrinho soltar um suspiro. — Aconteceu algo na empresa hoje? 

— Fora o ex-marido da Sophia ser o braço direito do Diego? Nada. — Contou sem animação. — O problema aconteceu ainda agora, fui lanchar com a Sophia e ela disse um monte de coisas, nem parecia ela falando. 

— Que monte de coisas? — Fernando perguntou interessado demais. 

— Ah, tio. — Se jogou pra trás, com um suspiro. — Ela me viu e parecia tudo normal, depois do lanche ela disse que tinhamos que nos afastar. Juro, não entendi foi nada! 

— Vai ver ela só caiu em si. — Fernando deu de ombros e Micael se sentou novamente, encarando o tio por alguns momentos. — O quê? 

— Como assim caiu em si, tio? Somos amigos, eu me importo com ela e quero vê-la bem. Do nada ela surta e diz que não vai aceitar que eu pague nada e nem que ajude com a filha, coisa que já tinha concordado. — Fernando deu de ombros. — Isso é muito estranho, ela disse que ficou pensando nas coisas que o marido falou pra ela, mas não me parece verdade. 

— E você vai ficar procurando cabelo em ovo? Se ela não quer ser sua amiga, bola pra frente. — Insistiu mais uma vez. — Quando um não quer, dois não brigam. 

— O senhor quer que eu a deixe sozinha? Sabe o quanto é importante nessa fase que eles tenham apoio, não pode me pedir pra abandona-la. 

— Não fui eu que pedi, foi ela. — Desviou o olhar pros dedos e ouviu o sobrinho bufar. — Que foi? Eu não tenho culpa. 

— Parece que está bem contente com isso, só pra que vocês saibam, eu não vou deixá-la sozinha. Vou descobrir o que diabos aconteceu que mudou a cabeça dela e trazer a Sophia de volta pra mim. 

— De volta pra você? 

— Tio, a menina não tem ninguém, sabe que as taxas de recaída são gigantes quando não tem ao que se apegar. Não tem família, não tem amigos, não tem emprego, não tem expectativa nenhuma. Me desculpe por ser teimoso, mas não posso permitir que ela se afunde. Eu vou ajudar a Sophia, ela querendo ou não. — Se levantou com um suspiro. — Vou descansar. Boa noite. 

— Seu sobrinho é um poço de teimosia. — Fernando resmungou quando soube que o rapaz já não podia mais ouvir. — O que essa menina tem de tão importante assim? 

— Eu sei que é preocupante a relação dos dois por conta dela ainda não estar reabilitada, mas eles podem fazer bem um ao outro, eu acho nosso sobrinho muito sozinho. 

— Pode fazer bem ou pode levar ele pro buraco de vez. Eu não quero arriscar a sobriedade do Micael por essa garota. 

— Você arrisca a sobriedade do Micael toda vez que o leva pro centro, toda vez que vão entregar quentinhas, toda vez que tem alguma ação no centro. Devia dar uma chance a essa moça. 

— Eu não arrisco a sobriedade dele não, eu o levo para que veja o estado das pessoas pra quem entregamos quentinhas para que não queira nunca mais estar nessa situação novamente. Eu amo o Micael, meu irmão jamais me perdoaria se eu o deixasse recair. 

— Precisamos trabalhar a confiança. — Ela disse com um sorriso. — Ele merece esse voto de confiança, Fernando, não o trate como um garoto inconsequente, ele cresceu e toma as próprias decisões. 

— Não se eu puder evitar. 

— O que quer dizer com isso? — A tia de Micael tinha uma expressão confusa enquanto encarava o marido. — Tem alguma coisa a ver com a menina não querer mais ser amiga dele?? 

— E se tiver?  

— Se tiver, ele vai ficar muito irritado com você, não é correto interferir dessa forma na vida dele. 

— Eu prefiro mil vezes ele com raiva de mim e bem, do que me amando drogado. — Se levantou e deixou a esposa sozinha, aquela conversa já tinha dado o que tinha que dar.  

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora