Capítulo 14

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— Posso saber por que você está tão pra baixo hoje? — Micael chegou no quarto e encontrou Sophia deitada de bruços. Mais um mês havia passado desde o fatídico encontro de Micael e Rebeca e eles não tocavam mais no assunto. — Aconteceu alguma coisa? 

— Já se passaram mais de dez meses que eu saí de casa... — Contou sem encarar, ainda de costas. — Hoje é aniversário da minha filha, está completando cinco anos. 

— Ah, não fica assim! — Se aproximou e sentou-se na beirada da cama, fazendo carinho na cabeça da amiga. — É um dia feliz. 

— Seria um dia feliz se eu pudesse ao menos ver a minha filha e dizer que eu a amo. — Fungou mais uma vez. — Essa hora ela já acordou rodeada de presentes, a gente sempre enfeitava o quarto dela com balões quanto ela dormia, posicionavámos os presentes em volta da cama e ficavámos la sentados, com um bolinho na mão esperando ela acordar. — Micael ouvia tudo em silêncio, ainda fazendo carinho nos cabelos dela. — Ela acordava no susto e então sorria ao perceber o que tinhamos feito, levantava correndo pra nos dar um abraço apertado e dizia "eu te amo mamãe, te amo papai" — Fungou mais uma vez. 

— Ei, se acalma, Sophia. 

— Não tem como eu ficar calma, Micael. Hoje é aniversário da minha filha e outra pessoa está vivendo isso com ela. — Secou seu rosto, mas ainda não levantou a cabeça. — Será que ela ainda pergunta por mim? Ou será que acha que eu a abandonei e não a amo? 

— Ela deve sim perguntar por você, não se esquece de uma mãe. 

— Eu quero ver a minha filha, abraça-la e lhe dar um beijo. — Finalmente se sentou. 

— Se você for lá, o Arthur pode usar isso pra te afastar ainda mais da menina. — Tentou ser racional e a viu chorar mais. — Não faz assim, Soph. Me corta o coração te ver desse jeito e não poder ajudar. 

— Ninguém pode me ajudar, eu mesma fiz isso. — Tentou mais uma vez secar o rosto. — Eu cavei minha cova e agora tenho que lidar com isso, mas você não imagina como dói.  

— E se a gente for até a escola dela e ficar de longe. — Sugeriu e ela o olhou considerando. — Eu sei que não é o mesmo, mas você pelo menos vai poder ver a menina. 

— Vamos! — Não pensou sequer duas vezes. — É melhor do quê ficar aqui chorando o dia inteiro. 

— Sophia, você não vai dar uma de maluca e ir atrás dela né? A menina não pode te ver! — Reforçou. — Vai ser pior pra vocês! 

— Vou me comportar. — Jurou e levantou da cama num pulo. — Vamos, acho que dá tempo de chegar lá antes que ela entre. — Saiu correndo do jeito que estava e Micael riu andando atrás. Sophia parou diante do carro de Micael e quando o mesmo apertou o alarme ela entrou sem dizer nada. 

— Onde e que a Liz estuda? — Perguntou com a sobrancelha erguida. 

— No Le Baron. — Contou com um dar de ombros e o viu ficar surpresa. — Que foi? 

— Aquela escola francesa? — Sophia assentiu. — Sua filha de cinco anos fala francês? 

— Melhor que eu. — Ela deu risada e o viu ainda mais incrédulo. — Ela está nessa escola desde que tinha dois. Eu queria uma escola americana, mas a vontade do Arthur sempre prevalece acima da razão. 

— Pelo menos é uma boa escola. — Deu partida no carro e os dois foram conversando sobre a menina e sua educação rígida. — Chegamos, qual é o horário de entrada? 

— Oito. — Contou e o fez olhar as horas. —  O que me fez perceber que você acorda muito cedo. Pra que isso? 

— Pra perturbar você, ué?! — Fez graça e os dois sairam do carro, ficando escorados no capô. — Tem certeza que ela vem a aula hoje? 

— Vem sim, ele não costuma deixar que falte, daqui a pouquinho ela está chegando por aqui com o motorista. — Disse atenta a todos os carros que chegavam. Os dois estavam no canto, um pouco distante, mas com total visibilidade á entrada da escola. — Ali! — Apontou para o carro cinza que vinha chegando. — Aquele carro é do Arthur. 

— Segura a empolgação e se lembra que a gente vai somente ver a menina daqui. — Disse segurando em seu braço, não muito contente em dar aquele banho de água fria na amiga. 

— Pode me soltar, eu estou ciente disso. — Reforçou e o viu assentir antes de soltar seu braço. — Olha ali como parece uma boneca. — Apontou com empolgação pra menina com cabelos lisos e castanhos claros, beirando o loiro. — Ain, minha filha está tão linda! 

— Ela é linda! — Ele sorriu lhe dando apoio. — E parece com você! 

— Parece! Arthur não aceita, vive dizendo que ela é a cara dele. — Balançou a cabeça ainda sorrindo enquanto via a filha dar a mão ao pai. — Não esperava que ele viesse trazê-la hoje. — Comentou baixo, menos animada. Viu o ex-marido se abaixar pra dar um beijo e um abraço na pequena e então um dos seguranças se aproximou dele, Arthur levantou e se afastou para falar com o homem. — Micael! — Disse alarmada pronta pra entrar no carro. — Eles sabem que estamos aqui. 

— Como? Estamos longe! — Olhou para os lados sem entender. 

— Ele sabe! — Olhou nos olhos do amigo assustada. — Vamos embora. — Tentou abrir a porta do carro, mas uma mão inesperada a fechou, impedindo que fosse. — Que isso?

— Quem é você? — Micael perguntou com a testa franzida. 

— Sinto muito, dona Sophia. — O segurança de Arthur disse com a voz baixa. — Mas o patrão mandou impedir que você fosse, ele quer falar com a senhora. 

— Tudo bem, Nick. — Falou baixo e voltou a olhar pra direção onde Arthur estava novamente abaixado, abraçando a filha só que agora olhando em sua direção. 

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— Entendeu, meu amor? Papai vem te buscar hoje pra gente sair pra comemorar seu aniversário, tá bom? — Arthur dizia abaixado frente à ela. 

— Tá bom, vou pensar num lugar bem legal. — Disse empolgada. — Vai chamar a minha mãe? Ela não conseguiu voltar de viagem a tempo? 

— Já conversamos filha, sua mãe tentou voltar, mas acontece que teve um problema no voo e não conseguiu chegar. 

— Ela já está muito tempo viajando, papai. Eu quero ver a minha mamãe, nem que seja por telefone. Pode pedir a ela pra me ligar de vídeo? — Ele suspirou, pensando em como escaparia daquilo. Antes de responder, um de seus homens de confiança se aproximou para lhe falar. Se levantou e saiu de perto da criança um instante.

— Senhor, sua ex-esposa está ali, parada. — Disse bem baixinho. — Devemos mandar ir embora ou o senhor tem outra orientação. 

— Eu sabia que ela viria aqui. — Suspirou. — Não deixa ela ir, quero falar com ela. — O rapaz assentiu e saiu de perto, Arthur voltou a se agachar pra falar com a menina, mas a todo instante procurava ao redor para encontrar Sophia. — Papai já vai indo, tá bem? — Finalmente encontrou Sophia e olhou fixamente em sua direção. 

— O que tanto está procurando? — A menina então começou a buscar e olhou na mesma direção que o pai. Os dois estavam abraçados quando a pequena viu a mãe parada ao lado de Nick. — Mamãe! — Disse empolgada e então saiu do abraço correndo na direção em que tinha visto Sophia. — Mamãe! 

Sophia ouviu a voz da filha e no mesmo instante sorriu em meio às lágrimas. Queria muito aquilo, mesmo assim tinha certeza que Arthur usaria ao seu favor o fato dela ter descumprido a medida.  

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora