Capítulo 32

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No dia seguinte, Micael saiu de casa sem nem conversar com os tios. Seguiu pra empresa cantarolando uma canção que tocava na rádio e entrou no prédio ainda com a canção de amor na mente.

— Bom dia! — Disse animado e caminhou para se sentar em sua cadeira ainda bem humorado.

— A diferença de humor de ontem pra hoje é realmente notável. — Arthur implicou antes de cumprimentar. — Eu tô muito curioso pra saber as novidades.

— Eu acho que não é bem da sua conta, Arthur.

— Você saindo com a minha mulher é da minha conta sim, amigo. — Manteve o tom sério e Micael ergueu o olhar levemente irritado.

— Primeiro que eu não sou seu amigo, segundo que ela não é sua mulher. Não mais. — Respondeu sem paciência e Arthur deu risada.

— Não precisa de toda essa ignorância, estou brincando. — Ergueu as mãos em rendição, mas ainda queria implicar. — Embora depois daquele abraço que a gente deu no parque, eu posso ter ficado com saudades.

— Não brinca comigo, Arthur. — Tinha um tom ameaçador que fazia o rapaz achar ainda mais engraçado.

— Se sente ameaçado, né? Sabe que se eu chamar a Sophia pra casa ela vem num estalar de dedos e nem lembra que você existe. — Se recostou na cadeira apreciando o fato de ter acabado com o bom humor do colega de sala. — Não precisa ter medo, não farei isso.

— Eu não tenho medo, ela pode até aceitar voltar se você chamar, mas tenho certeza que vai ser só por conta da Liz.

— Se ilude mesmo, amigo. — Deu ênfase na última palavra e logo soltou uma risada. Pegou um envelope de papel pardo que tinha a mesa e estendeu pra Micael. — Entregue pra sua amada.

— E o que é? — Ergueu uma sobrancelha antes de pegar o envelope.

— Não é uma bomba. — Brincou, ainda bem humorado. — Talvez seja uma carta de amor, como fazíamos na nossa época de adolescente.

— Eu juro que vou socar a sua cara se ouvir mais uma gracinha! — Disse entre dentes e então se esticou pra pegar o envelope lacrado. — Por que você é tão idiota?

— Porque eu gosto de ver a sua cara quando está com ciúmes. — Disse com um dar de ombros. — Isso aí são os documentos dela. — Micael se surpreendeu. — Pois é, sua amada não é mais indigente.

— Ela não tem documentos? Esse tempo todo você prendeu os documentos dela?

— Mas é claro que sim, Sophia morava na rua, você acha que ela precisava de documentos pra que? — Cruzou os braços encarando o moreno ainda com diversão. — Ela teria perdido isso na primeira noite, junto com a mala que dei a ela.

— Você tem razão, mas sem os documentos ela não tinha como conseguir uma vida decente.

— Quer parar de arranjar briga? Ela devia me agradecer por ter cuidado disso, senão teria que enfrentar toda uma burocracia pra conseguir tirar novos documentos. E além do mais, ela nunca fez questão deles, nunca nem sequer perguntou.

— Ela tentou arranjar emprego há um tempo atrás. Como fez isso sem documentos?

— Aí você deve perguntar a ela. — Rolou os olhos, já sem paciência. — Eu estou devolvendo os documentos agora pra ela ir se tratar direito, vou deixar até que use meu plano de saúde.

— O que você disse que cancelaria e que ela devia procurar o SUS?

— Nossa, você é mais rancoroso que ela. Eu disse muita coisa, se ela for se lembrar de tudo...

— Não quero mais saber de nada. — Abriu a gaveta e colocou o envelope lá dentro. Ergueu o olhar e viu Arthur segurando outro envelope, dessa vez branco, parecendo envelope de carta. — Isso aí parece uma carta de amor.

— É dinheiro. — Entregou o envelope também. — Eu não sabia quanto dar a ela por mês, então fui bem generoso nesse primeiro mês. Mas Micael...

— Fica tranquilo, ela não vai usar.

— E se usar?

— Ela não vai! — Disse com tanta certeza que fez Arthur considerar. — Ela merece um voto de confiança, nem que seja o último. Obrigado por fazer isso!

— A vigie. — Pediu baixo. — Fica de olho.

— Isso não é dar um voto de confiança, isso é quebrar a confiança e assumir que ela não é capaz.

— Micael...

— Ela não vai usar! — Disse mais uma vez e alto, finalmente encerrando o assunto e convencendo Arthur daquilo. Bom, achando que convenceu, porque a desconfiança seguiu.

**

— Toc toc. — Micael bateu a porta de Sophia e abriu em seguida, encontrando a mulher sozinha lendo um romance água com açúcar. — Tudo bom por aqui.

— Está sim! — Fechou o livro com um sorriso e o colocou na mesa ao lado da beliche. — Como foi no trabalho?

— O de sempre, Arthur enchendo meu saco as oito horas. Ele não dá uma trégua. — Arrancou risada de Sophia imaginando as coisas que ele diria.

— Ele me estressou em dez minutos ontem, imagino você o dia inteiro.

— Mereço um prêmio só por não ter dado um soco nele. — Brincou e se sentou ao seu lado. — Ele mandou seus documentos. — Sophia abriu o envelope empolgada.

— Finalmente vou poder entrar com recurso para as visitas a minha filha. — Disse empolgada. — E também fazer uns exames.

— Ele te mandou dinheiro também. — Entregou o segundo envelope e a loira ficou surpresa quando viu as notas de cem que tinham ali dentro.

— Isso daqui foi ele mesmo? — Ergueu uma sobrancelha. — Não foi você?

— Foi ele. — Micael deu risada da pergunta. — Você disse que não ia deixar eu gastar dinheiro com nada pra você.

— Claro, seu tio me chamou de interesseira.

— Já conversei com ele, isso foi um erro, ele sabe que você não é assim. — Deu de ombros. — Mesmo assim não vai aceitar o meu dinheiro?

— E você não colocou umas notas a mais aqui dentro?

— Te juro que não. — Ela enfim acreditou. — Pode dizer qual vai ser a primeira coisa que vai fazer?

— Amanhã cedo vou ao médico pedir pra fazer alguns exames, depois vou ver o advogado e em seguida um dentista.

— Uau, uma agenda lotada. Vai sobrar tempo pra mim aí no meio? — Perguntou com certo dengo e Sophia achou fofo.

— Mas eu sempre tenho tempo pra você, anjo. — Micael sorriu e avançou pra um beijo, mas Sophia virou o rosto. — Me desculpe, é que eu...

— Tudo bem. — Disse um tanto decepcionado e se levantou da cama. — Eu vim só trazer suas coisas, vou em casa tomar um banho, depois a gente se fala.

— Não fica chateado comigo.

— Não estou. — E saiu, claramente chateado.

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora