Capítulo 51

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Micael não voltou para empresa naquele dia, tinha consciência de que precisava parar de faltar o trabalho ou o irmão começaria a pegar no seu pé, mas era impossível ficar na mesma sala que Arthur. 

Foi pra casa e ficou no seu quarto o dia inteiro, saiu pra almoçar e não demorou a voltar. Não sabia bem o que fazer. Perto das seis ele saiu e foi até o centro, precisava ocupar a mente e aquela era a melhor forma de fazer isso. 

Já na entrada, Fernando recepcionava quem chegava pra reunião e puxou o sobrinho pra um abraço apertado. 

— Estava preocupado, achei que não viria a reunião. 

— Não sou nenhum irresponsável, tio. — Rolou os olhos se lembrando o motivo de ter saído de casa. — Já te disse que não vou ter recaída nenhuma, pode ficar tranquilo.

— Não vou ficar tranquilo enquanto eu achar que você não está a salvo. É meu dever me preocupar. — Micael deu risada e negou com a cabeça, achando ridículo o termo que ele tinha utilizado. 

— Pode ficar tranquilo, a Sophia voltou com o marido, não acho que vá aparecer aqui novamente. — Observou o tio franzir a testa e em seguida balançar a cabeça. — O que foi? 

— Não tem sentido o que você está dizendo, ela está aqui. — Micael então desviou o olhar pra dentro e largou o tio falando sozinho, precisava confirmar se aquilo era verdade. Caminhou apressado pelos corredores do centro e não a viu sentada em uma das cadeiras junto com os outros, enquanto aguardavam a reunião começar.

Achou que fosse brincadeira do tio, mas antes de voltar a ele, caminhou até o antigo quarto da mulher, precisava confirmar, entrou sem bater, esperava que estivesse vazio, mas sorriu instantâneamente ao vê-la com sua jaqueta na mão. 

— É assim que você entra aqui agora? — Disse com um sorriso também. — Não bate mais? 

— Me desculpe, meu tio disse que você estava aqui e eu fiquei transtornado. — Contou e se aproximou, nem parecia o mesmo da noite anterior. — Arthur me disse hoje que não permitiria que você viesse as reuniões. 

— E não vai mesmo, mas ele não sabe onde estou. 

— Ele sempre sabe onde você está. — Cruzou os braços e a viu arriar os ombros. — Esqueceu que ele botava o pessoal dele pra te vigiar até quando vocês não estavam juntos? 

— Não esqueci, mas não acho que está se preocupando comigo agora, eu disse que precisava de ar e que voltava em duas horas. — Deu de ombros. — Ele não pareceu ligar muito. 

— Claro, a essa altura deve ter um rastreador subcutâneo em você. 

— Eu teria percebido. — Respondeu com uma risada e Micael ergueu a sobrancelha. 

— Ou não. — Deu de ombros. — Não deixa de vir as reuniões, fala com ele, diz que eu não venho mais e se quiser, eu não venho mesmo. 

— Está louco? Você também precisa disso. 

— Não tanto quanto você, arranjar outro grupo assim no início... Não dá mole. 

— Engraçado, nem parece que ontem você mandou eu me lascar. — Brincou e o viu sorrir, mesmo com a expressão triste. 

— Não mandei você se lascar, mandei você ser feliz. Isso não inclui uma recaída e o Arthur não está nem ai se você esta bem ou não, ao contrário de mim. Eu amo você. 

— Não devia me dizer isso, não depois de tudo o que me disse ontem. 

— Eu estava chateado, aliás, ainda estou. — Encurtou a distância entre eles. — Desiste disso, por favor, vamos fazer do jeito certo, vamos recorrer, eu sei que vai ser sofrido ficar um tempo longe da sua filha, mas vai valer a pena. 

— Eu não posso sair da vida dela de novo sem nenhuma explicação. 

— Então diz que o pai dela é o maluco que quer você em casa mesmo que infeliz. — Disse entredentes e Sophia riu. — Não fiz piada. 

— Eu não vou dizer isso pra minha filha de cinco anos. 

— Senta e conversa com ela, sua filha não é idiota, eu sei que tem muita coisa que não vai entender e isso você não pode contar, mas pode explicar que vai precisar ficar longe dela um tempo, mas que vai ser pro bem de vocês. Diz que no final vão poder passear e ficar juntas, deixa tudo as claras antes do Arthur expulsar você de casa e a menina achar que você a abandonou de novo. 

— Ele não vai me expulsar de casa, não se eu fizer o que ele quer. 

— Você está aqui e isso quer dizer que está fazendo o que ele não quer. Fala sério, vai viver como uma cadela na coleira até sua filha ter dezoito anos? Você precisa tomar as rédeas da sua vida! 

— Nunca vou conseguir ficar perto da minha filha se não for assim. 

— Tá legal, me desculpa pelo que eu vou dizer, mas você está sendo burra e não é pouco burra não. Boa sorte pra você, não vou ficar sentado assistindo enquanto você se afunda de novo. 

Saiu de perto e como sempre fazia quando estava irritado, fugiu dali.  Sophia enfiou a jaqueta de Micael na bolsa, era a única coisa que tinha ido buscar ali, participou da reunião e então foi embora antes que Arthur surtasse com o sumiço. 

E assim, pouco mais de um mês se passou, estavam perto do natal. Sophia já não aguentava mais aquela casa e Arthur lhe dando uma ordem por segundo, passava a maior parte do dia brincando com Liz se escondendo do marido enquanto podia. 

Micael se mudou pra sala de Diego, não suportava Arthur e era inviável a convivência, dessa forma o próprio irmão o estava ajudando. Ele ainda não tinha encontrado sua casa, pra falar a verdade, não fazia muita questão de procurar. 

Naquela noite, a casa de Sophia estava bem decorada e a loira apareceu na sala de baby doll e a jaqueta de Micael por cima. Tinha dito a Arthur que comprou em alguma loja e ele não deu ideia pra peça de roupa. 

— Por que a casa está tão arrumada com essas luzes de natal? — Sophia perguntou ao marido que estava sentado na sala enquanto via televisão. 

— Estamos esperando visitas para um jantar de confraternização, você devia ir se vestir. — Avisou ao olhar a esposa de cima abaixo. — Não me leve a mal, você está linda, mas não pras visitas. 

— Podia ter me avisado isso antes. — Ela franziu a testa sem entender. 

— Tentei, você se enfia em cantos dessa casa que nem sei que existem. — Disse sarcástico. 

— E você só tinha hoje pra me contar? — Ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços. 

— Você devia ir se vestir ao invés de ficar aqui arrumando confusão comigo. — Deu de ombros e ouviram a campainha. — Viu só, nossos convidados chegaram e você está pronta pra dormir. 

— Deve ser porque eu não sabia que teríamos convidados. — Resmungou e ouviu o marido rir. — Você fez de propósito. 

— Não faz charme, você vai amar a visita. — Ficou de pé e apontou pra trás com o queixo.  — Isso é, se vocês não se encontrarem por aí pelas minhas costas. — Sophia olhou na direção e viu Micael junto com Diego e Melissa. Sua bochecha corou na hora em que teve o olhar do moreno sobre si, ele sorriu, claramente por conta da jaqueta. — Boa noite, como estão. — Foi cumprimentar os convidados e Micael virou os olhos quanto teve Arthur diante de si com a mão estendida.  

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora