Capítulo 31

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Sophia e Arthur caminharam até a entrada do parque conversando animadamente e quando Micael os viu, ainda de longe, já fez uma careta.
Respirou fundo algumas vezes antes de sair do carro e os esperar frente ao capô.

— Vejo que a conversa foi boa. — Disse enciumado e qualquer um percebia, o que foi engraçado pra Sophia, já que até o tio dele falar, não tinha reparado nessas intenções. — Fico feliz.

— Fica sim, dá pra ver de longe que está radiante.

— Qualquer dia eu vou socar a sua cara. — Ameaçou, mas só arrancou risada dele. — Vamos pra casa?

— Casa. — Sophia repetiu com um suspiro, mas logo assentiu e se virou pra Arthur. — Obrigada por ter sido minimamente gentil.

— Minimamente? Me esforcei bastante pra isso, como pode dizer "minimamente"?

— Se esforce mais, então. — Sorriu e deu um abraço em Arthur. Quase um ano que aquilo não acontecia, o rapaz foi pego de surpresa e por alguns instantes sentiu falta dela. — Até mais.

— Se cuida. — Ficou pra trás olhando os dois entrarem no carro e então caminhou pro seu pensando nas coisas.

**

— Conseguiram se entender? — Micael quebrou o silêncio que estava no carro. — Pareciam até amigos.

— Eu não diria que nos entendemos, mas conseguimos conversar de boa e ele não foi estúpido, quero dizer, isso antes de insinuar que eu tenho alguma DST. — Micael gargalhou.

— Ele não vai dar o braço a torcer completamente, não assim tão rápido. — Deu de ombros. — Mas fico feliz que tudo terminou bem.

— Nada terminou ainda. — Deu de ombros. — Ele não vai permitir que eu veja minha filha.

— Você só vai conseguir isso na justiça. — Desviou o olhar pra ela. — Devia ter ido ver o advogado que te arranjei.

— Eu vou ir, chega de ficar me fazendo de vítima, preciso reagir. Arthur falou sobre me dar dinheiro.

— Aham, tipo uma mesada. — Ele o encarou confusa. — Fui eu que disse pra ele fazer isso, já que o meu dinheiro você surtou e disse que não ia aceitar.

— Eu não surtei, seu tio me chamou de interesseira e eu não sou interesseira. — Micael negou com a cabeça. — Eu não sou!

— Eu sei que não é, deixa de ser doida. — O moreno deu risada. — Eu vou falar com ele quando chegar, interferir na minha vida da forma como ele fez não é correto.

— Ele só quis fazer o que achou melhor pra você.

— Eu não tenho cinco anos, não preciso que escolham nada por mim. — Estava com raiva novamente. — Consigo pensar e sei bem quais são os meus limites.

— Não arranja briga com seu tio por causa de mim. — Sophia pediu com a voz doce. — Só vai fazer ele me odiar mais.

— Mas Sophia...

— Por favor. — Micael estacionou o carro na frente do centro e soltou um suspiro. — Deixa isso pra lá.

— Eu sinto muito, mas sou incapaz de não falar nada sobre essa situação. Isso vai abrir precedentes pra ele se meter na minha vida a hora que quiser e eu... — Ele foi interrompido por Sophia que havia se inclinado e lhe dado um selinho.  — Mas o quê?

— Um beijinho de agradecimento pelo dia de hoje. — Esboçou um sorriso. — Você me anima e me dá motivo pra continuar.

— Tá, eu te animo e te dou motivo pra continuar e tudo o que eu mereço é um selinho? — Perguntou após virar seu corpo na direção da mulher. — Você jura?

— Acho que não estou pronta pra mais que isso?

— Como assim? — Ele perguntou confuso com aquela resposta. — Não está pronta?

— Ainda tem muitas inseguranças dentro de mim para serem resolvidas, Micael. Vamos devagar.

— Devagar com selinhos? — Ergueu a sobrancelha. — Tudo bem, eu não estava esperando ganhar nem isso.

— Você é um fofo, não quero te perder nunca.

— Você não vai. — A puxou para um abraço e um beijo no topo da cabeça. Logo depois a loira abriu a porta do carro e saiu, mandando um beijo pra ele, que sorria atoa.

**

Micael chegou em casa e soltou um suspiro logo após sair do carro, pensando no que diria ao tio depois de toda aquela situação.
Entrou e os viu, ele estava sozinho na sala e a tia na cozinha, o som de panelas era ouvido e ele sabia que a tia estava cozinhando.

— E aí, como foi o dia de trabalho? — Fernando perguntou com um tom simpático e um sorriso, mas logo fechou a expressão quando viu a cara  do sobrinho. — Aconteceu alguma coisa?

— Quero saber o que o senhor tem na cabeça pra ir conversar com a Sophia e mandar ela se afastar de mim. — Disse baixo, no tom mais brando que pôde.

— Ela não aguentou dois dias? — O velho ficou de pé. — Eu fiz o que achei certo.

— O senhor se meteu onde ninguém te chamou! — Começou a aumentar o tom de voz. — Eu gosto dela, não consegue enxergar?

— Eu enxerguei isso antes de você. — Se manteve falando baixo. — Eu sempre avisei que você gostava dela mais do que devia e ia acabar com sua vida por isso.

— Mas é um drama desnecessário. — Rolou os olhos. — Eu não me envolvo com ninguém desde que tudo aconteceu, eu mereço isso.

— Concordo, mas não acho que uma mulher com dois meses de sobriedade é a parceira ideal pra você.

— Só que você não tem que achar nada. — Perdeu todo o respeito. — Tem que respeitar a minha decisão, quem decide quem é a parceira ideal sou eu.

— Você está pedindo respeito e faltando com ele.

— Estou faltando porque você faltou antes. — Rebateu no mesmo instante. — Eu amo você tio, aprecio toda a preocupação que o senhor tem, mas da minha vida cuido eu.

— Então você vai realmente namorar essa menina?

— Não sei, muita coisa pode acontecer. O que quero deixar bem explicado aqui, é que quem decide sou eu e não vou tolerar que você se meta na minha vida dessa forma.

— O que quer dizer com não tolerar? Vai embora daqui? — Cruzou os braços e observou o sobrinho hesitar na resposta.

— Sophia quase fez uma besteira hoje por conta do que falou pra ela. — Abaixou bastante o tom de voz. — Ela tentou se matar. — Fernando arregalou os olhos surpreso. — Sophia é instável por falta de apoio, não consegue compreender isso? O senhor lidera nosso grupo, como pode ser tão cego em relação a ela.

— Eu não quero que ela se mate e nem que tenha uma recaída, mas sinceramente entre a sua sobriedade e a dela, eu vou lutar pela sua.

— Eu desisto, nada vai te fazer entender que errou! — Ergueu as mãos em rendição. — Você pode até não assumir que errou, mas deve desculpas a ela. — Saiu de perto do tio e foi pro quarto, pensando naquele selinho e sorrindo como se tivesse recebido a coisa mais valiosa que podia receber.

Doze Passos - Meu Anjo Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora