24-Doces sonhos, Tennessee

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Existem várias maneiras de um vocalista se comportar em um palco. Tem aqueles que passam metade do concerto parados, mal falam uma palavra além de cantar suas músicas e apenas vão embora. Há aqueles que mal conseguem parar quietos, estão sempre dançando e pulando por todo o palco. Tem aqueles que amam interagir com o público, tem aqueles que estão prontos para brigar. E bem, tem o Alex, que não se encaixa em nenhuma dessas categorias.

É engraçado, quando estive em shows do Arctic Monkeys, percebi que Alex transmite poder, ele é o cantor, você deve prestar atenção nele. Seus olhos não irão desgrudar dele até que saía do palco. No The Last Shadow Puppets é quase a mesma sensação. Mas aqui, é como se visse ele em seu estado natural. Está livre, solto como se pegasse ele em um dia de domingo escutando seu álbum favorito no seu quarto.

Tem algo íntimo em um show do The Last Shadow Puppets, não sei explicar, mas me sinto bem aqui.

Verônica estava dançando sem parar ao meu lado por quase uma hora. Ela me parecia genuinamente animada, ou talvez tenha sido a cerveja.

Miles Kane dava um show encima daquele palco, ele facilmente poderia ter sido uma diva pop dos anos 2000. Aqueles dois tinham um puta química naquele palco e eu nunca poderia negar, mesmo sendo o meu namorado ali.

Eles estavam no meio de alguma coisa que não sei identificar, tive uma grande surpresa quando, bem...Miles e Alex tiveram um simples selinho.

-Você só pode estar zoando! - Verônica gritou no meu ouvido enquanto dava batidinhas no meu ombro.

Eu fiquei parada, um sorriso surgindo no meu rosto, me agachei no chão, sem conseguir parar de rir.

-Eu não acredito! - Verônica soltou uma gargalhada alta.

Acho que pensei nesse momento por muito tempo, para mim aquele momento seria o mais memorável daquela noite.

Mal sabia eu...

Tudo mudou quando aquilo que me parecia íntimo ficou ainda mais. Eu nunca tinha ouvido aquela música, mas havia uma bela orquestra de fundo. Apenas a voz de Alex ecoando por todo o lugar.

Eu sabia do que se tratava, eu sabia que aquela música era para a loira, antes de tudo o que aconteceu entre nós. Na maioria das vezes estaria tudo bem, eu entendo perfeitamente que ele teve outras namoradas além de mim. Mas aquela música em excessão era algo íntimo.

Era tão íntimo que me senti invadindo o espaço deles.

Eu estava me sentindo péssima, percebi que muitas pessoas olhavam pra mim, não com admiração ou algo assim, com pena. E para piorar a situação ainda mais, Alex mal olhava para mim. Ele parecia culpado.

Foi ai que pensei.

O que eu fiz?

Eu destruí um relacionamento perfeito por puro egoísmo? Eu tive a chance anos atrás, ele era meu. Mas por puro egoísmo eu o perdi, e agora eu o tenho de novo, mas e se essa não foi a escolha certa?

Para meu azar aquela era a última música da noite, fui arrastada para o camarim sem escolhas. A última coisa que eu queria agora era encara-lo, pra ser sincera eu gostaria de cavar um buraco no chão e me esconder do mundo.

Eu estava com vergonha de mim mesma, por ter sido tão cega em situações que eu deveria ter pensado duas vezes. Me senti impotente, como eu poderia dizer isso para ele?

-Athena! - Alex me abraçou, com um sorriso de orelha a orelha estampado em seu rosto, até que quando me viu, seu rosto... sua expressão mudou - Tá tudo bem? Querida...foi por causa do beijo?

-O que? Não - Sorri - Não foi nada, é só...

Ele me abraçou, assim calando a minha boca. Ele sabia, é claro que ele sabia.

-Eu te amo, e você sabe disso, não duvide de mim, por favor - Aquilo fez eu me sentir ainda pior.

Eu era uma maldita paranóica!

-Você não pode me culpar por pensar que...- Ele me beijou.

Eu estava cansada da minha própria mente me pregando uma peça. Estava tudo bem aqui, não estava? Ele me ama, e não é um música que vai mudar isso.

Não, não vai.

The Return of Ghost Society | Alex TurnerOnde histórias criam vida. Descubra agora