Capítulo 19

230 33 28
                                    

Gabrielle

— O que você tá fazendo? — Lancei um olhar incisivo para o garoto insensato na minha frente que tinha acabado de trancar a porta sem me dar qualquer explicação.
Jhony se virou, as mãos nos bolsos da frente da calça. Seu peito subia e descia depressa. Até que começou a vir na minha direção. Seu andar era charmoso, tinha um brilho próprio que fazia o olhar de qualquer garota cirandar, contemplar seus passos...
Exatamente como eu fazia agora. Cruzei os braços no peito, dizendo a mim mesma que meu coração precisava – desesperadamente – aprender a rejeitá-lo.
— E aí. Vai se explicar? — insisti.
Ele ultrapassou os limites bem definidos da minha consciência impura e parou na minha frente quando era possível me ter com um simples erguer de mão.
— Estou te mantendo presa até você voltar a ter juízo e desistir de beijar a casa inteira apenas para me atingir.
— Você entendeu errado. Quero beijar a casa inteira para parar de pensar em beijar você — fiz a mais infeliz de todas as confissões. Eu era péssima em conseguir diferenciar o que era para ser só um pensamento, daquilo que poderia ser dito em voz alta.
As borboletas na minha barriga sentiram o efeito do meu deslize, assim como seus olhos verdes se tornaram nebulosos. Pensei em fazer uma piadinha em seguida, dizer que estava meio bêbada como Marcelo fez, mas acabei deixando pra lá. Honestamente, eu tinha dito de maneira direta que o queria, que tinha sentimentos por ele. O que era um peido pra quem já estava cagado?
— Não sei se quer me beijar ou pegar o meu pescoço e quebrar. Seus sinais estão me confundindo pra caralho.
— Independentemente, ter prendido nós dois nesse quarto minúsculo, pode ter sido uma péssima ideia, não concorda?
O fiz dar uma passada de olhos no quarto à nossa volta e quando voltou a encarar o meu rosto, percebi que ficou inexpressivo.
— Talvez eu seja masoquista. Mas prefiro correr o risco de ficar sozinho nesse quarto com você, a deixá-la lá embaixo com todos esses garotos bêbados cheios de péssimas intenções.
— Eu vim para a festa para esquecer o que aconteceu entre nós — outra confissão — e você quer me manter presa em um quarto com você? Você pode ser masoquista, mas eu não sou. Então prefiro os garotos bêbados e suas péssimas intenções.
Passei por ele bastante satisfeita com a minha resposta e fui em direção a porta balançando os cabelos na cintura.
Se Jhonathan tivesse a mínima ideia de como meu coração se contorcia por ele, não teria feito o comentário que fez em seguida.
Estava com a mão na chave, prestes a girar, quando sua voz chegou até meus ouvidos:
— Se você sair por essa porta, vou acabar te puxando e não tenho certeza de que conseguirei largar.
Me virei de sobrancelhas arqueadas e mergulhei nas profundezas obscuras de seus olhos. Pela primeira vez, vi nitidamente todas as coisas que ele evitava sentir.
— O que quer dizer?
— Que sua micro saia torna cada segundo mais difícil manter a minha promessa.
Meu interior se agitou.
— Quer que eu tire? — fiz, das suas nuvens e trovões, uma tempestade.
Ele diminuiu a distância de novo. Chegou tão perto, que achei que não fosse parar até atravessar o meu corpo.
Precisei grudar as costas contra a porta, a maçaneta machucava. Só não mais que nossos lábios em uma perigosa faísca desafiando quem atearia fogo primeiro.
— Você tem alguma ideia do que se passa na cabeça de um garoto quando você diz esse tipo de coisa?
— Você tem alguma ideia do que se passa na minha cabeça quando você diz que não me quer e depois me provoca!? Seus sinais estão me confundindo.
Ele esticou o braço, achei que fosse pegar em meus cabelos, talvez até fosse, mas desistiu e apoiou a mão na porta. O verde límpido dos seus olhos confrontando o preto dos meus.
A saliva escorreu por minha garganta.
Suas unhas rasgaram a madeira perto do meu ouvido.
— Pra começar, eu nunca disse que não te quero. Qualquer garoto que tenha ao menos um neurônio, é esperto o bastante para te querer — retrucou, deixando seu animal interior sair para brincar. — Em segundo, desde quando você usa esse tipo de roupa? Da próxima vez que quiser me ferrar, eu imploro, quebre mesmo o meu pescoço.
Os cantos dos meus lábios se contraíram.
— Essa é a sua forma de dizer que estou linda?
— Essa foi sua forma de se vingar de mim por não ter te beijado?
— Eu só queria que você sofresse um pouco com a sua escolha.
Uma pausa. Um sorriso. Tarde demais percebi que minha própria língua me jogou no inferno.
— Então admite? Se vestiu desse jeito para me atingir? — brincou, me fazendo revirar os olhos por dentro e engolir todas as mentiras que eu tinha para contar.
O empurrei, mas não forte o bastante para o afastar.
— Por qual razão você está aqui mexendo com a minha cabeça como um maldito liquidificador depois de ter pedido para que eu parasse de mexer com a sua!? Você me deixa louca!!!
— Eu estou me deixando louco. Toda vez que abro a boca, sei que cometerei um erro terrível e inevitável. Mas você sabe que quem ligou esse liquidificador emocional, pra começo de conversa, foi você.
— Eu?
— Com seu beijo roubado. Se não fosse por ele, eu estaria agora na minha casa e você se deslumbrando com aquele bosta do Danilo.
— Acho que me arrependerei desse beijo pelo resto da minha vida. E o pior. Nem foi um beijo de verdade para ter feito um estrago tão grande.
— Não foi um beijo de verdade? Isso não foi nada gentil da sua parte.
Senti as maçãs do meu rosto serem coloridas por tons diferente de vermelho. Tornou-se um desafio lidar com ele.
— Eu mal senti a sua... Mal senti o gosto da sua língua, Jhonathan — e mesmo assim preciso beijar outros para te esquecer. — E foi no calor do momento.
Ele ficou me encarando por um bom tempo e não respondeu. Deu a impressão de que se esqueceu até mesmo de respirar. Não consegui ler suas emoções.
Ele recuou, os problemas ecoavam ao som dos seus movimentos. O gosto de perigo no calor da sua respiração que ficava para trás.
Recostou-se na cômoda branca perto da cama, os tornozelos cruzados com desleixo e os dedos das mãos tamborilavam na primeira gaveta.
— Se não fosse pela promessa que fiz ao seu pai, eu calaria a sua boca agora e seria com bastante língua para você não se esquecer — passou a mão pela cabeça raspada e segurou a nuca. — É melhor você voltar para a festa. Pode sair, prometo que não farei nada.
Sua resposta fez meu rosto desmontar, deixei a cabeça tombar para frente para que ele não percebesse. Me deixar voltar para a festa, era o mesmo que dizer que não se importava de eu ficar com outro. E se ele não se importava, era por estar realmente disposto a superar a nossa relação estranha.
— Ok. Tenha uma péssima noite.
Ele riu sarcástico.
— Só não mais péssima que a sua.
— Babaca!
Piscou duas vezes. A força dos seus olhos mordia minha pele como dentes.
— Linda.
Praguejei. Girei a chave. Quando ia puxar a maçaneta e correr léguas daquele garoto infernal, ouvi passos no corredor e a voz inconfundível do Danilo cantando o Trap que tocava na festa.
Desesperadamente olhei para Jhonathan, no mesmo minuto em que ele me olhou. Seria suspeito sermos encontrados naquele quarto enquanto todos os outros curtiam a festa na sala e garagem. Talvez fôssemos até mesmo acusados de algo que nunca fizemos e seria frustrante ter que defender a minha honra, que apesar dos meus esforços em violá-la, continuava intacta.
Jhony foi muito mais ligeiro que eu. Enquanto eu continuava paralisada, pensando em uma boa desculpa por estarmos escondidos ali, ele agarrou o meu braço e rolamos para debaixo da cama de solteiro.
Era um espacinho estreito demais para dividir com alguém, escuro, abafado, mas era o único esconderijo possível. O edredom bagunçado, caído por fora do colchão, ajudaria a nos camuflar.
Me encaixei primeiro, me espremi, encolhi, contra a parede fria para dar espaço para Jhonathan se juntar a mim. Ele o fez, mas não da maneira que eu imaginava. O certo seria ter deitado de costas para mim e de frente para o quarto, assim não teríamos que ficar cara a cara, respiração com respiração, mas mal tivemos tempo de nos ajeitarmos e então a porta foi aberta.
Danilo entrou, seus passos e sua voz ecoaram pelo cômodo. O corpo grande de Jhony bloqueando a minha visão, tornava a situação ainda mais claustrofóbica. O que Danilo foi fazer ali? Se aquele menino bêbado decidisse pegar algo embaixo da cama, seria nosso fim.
Teríamos que desmaiá-lo. Na pior das hipóteses, jogá-lo pela janela e torcer para que sobrevivesse. Tudo bem, meu desespero podia ser exagerado. Mas não entrava na minha cabeça passar o ano letivo sendo acusada de incesto. Mesmo que não fôssemos irmãos de sangue, o ensino médio não nos perdoaria por sermos encontrados naquelas condições após gritarmos para o mundo que éramos parentes.
Ouvi o rangido de uma gaveta ser aberta. Fechada. Depois outra. Então as pegadas se aproximaram de nós. Esqueci de respirar. O estrado de madeira abaixou contra a nossa cabeça, mostrando que Danilo sentou-se na cama para sabe-se lá o que. Um silêncio se seguiu.
Apertado.
Escuro.
Quente.
Sufocante.
Que porcaria de festa.
Durante os minutos de silêncio, procurei relaxar para não surtar. E relaxei o suficiente para prestar atenção em como meu adorável irmãozinho e eu estávamos colados. Nossas pernas estavam enroladas uma na outra. Sem que eu percebesse, minha coxa tinha se encaixado entre as suas. E provavelmente sem que ele também se desse conta, sua mão estava muito confortável apoiada na minha cintura. Meus antebraços dobrados em meu peito, os punhos grudados no queixo, era a única coisa que conservava uma distância respeitosa entre nós.
O fio de luz que nos invadia por uma brechinha do edredom, calhou de ser claridade mais que suficiente para eu poder observar cada harmonioso detalhe daquele rosto sem parecer intoleravelmente obcecada. Ele tinha sobrancelhas lindas, não apenas bonitinhas, mas realmente lindas. Marcantes, cheias, perfeitamente desenhadas e moldavam suas expressões mais que em qualquer rosto que eu tenha visto. Era fácil desvendar seu humor através delas. Subi os olhos para sua testa com todas aquelas marcas ferozes que costumava ter. Raiva, amargura, medo. No momento, pânico.
A expressão mais linda de pânico que já vi na vida.
Ele despertava um turbilhão de sentimentos em mim ao mesmo tempo. Eu sentia falta de como éramos a um ano atrás.
Jhony finalmente reparou na sua mão em meu corpo e dedo por dedo a afastou para a própria perna. O resto do nosso corpo teria que ficar na mesma posição até o dono do quarto sair.
De repente um gemido reverberou pelas paredes. Podia ter sido meu, mas infelizmente não. O gemido era masculino.
E com certeza não era do loirinho mal-humorado à minha frente.
Um barulho molhado e até mesmo violento também pôde ser ouvido.
Danilo estava... fazendo o que eu imaginava? Bem acima de nós?
E com intensidade.
Senti a garganta arder.
Não posso rir. Não posso rir.
Peguei o lábio inferior entre os dentes e abafei um riso nervoso que vinha do estômago, mas ele acabou soando ingenuamente pelo nariz.
Danilo parou de gemer com meu riso de porco.
Jhonathan correu com a mão na minha boca, nariz, para me silenciar e virou o rosto perto do meu ouvido. Sua pele cheirava a pôr do sol com chuva. A parede às minhas costas crepitava feito chamas.
Não faça gracinha. Se controla — reclamou sussurrando.
Assenti. Mas ele não me soltou.
Virei a palma das mãos em seu tórax e agarrei a gola da sua camiseta. Cheguei a arranhar sua garganta. Ele estava me asfixiando. Minha intenção era feri-lo superficialmente com as unhas para que me devolvesse o ar.
Ele entendeu o recado.
O problema foi que algo entre suas coxas também entendeu.
Pulsou.
Úmido.
Trêmulo.
Meu coração deu um salto.
A respiração dele fez uma pausa, então a soltou com timidez. Eu adorava a sua voz, mas acabei de descobrir que era épico ouvir apenas o som enlouquecido da sua respiração.
Sua mão afastou-se da minha boca. As sobrancelhas comprimiram-se surpreendentemente sérias com o acontecimento que ele não conseguiu evitar.
Quanto a mim, fiz questão de sorrir com os olhos e dei um tapa minúsculo no seu peito.
Achei que ele se desculparia, mas um olhar diferente fixou-se em meus lábios como se quisesse me rasgar com os dentes. Por uma fração de segundos, até pensei que fosse me beijar.
A sua respiração, meio que me beijou.
Danilo voltou a gemer. Se deliciar com o próprio corpo. Ele gemeu por mais alguns minutos antes de parar e se levantar. Abriu as gavetas mais uma vez e então uma fumaça de cheiro excêntrico consumiu aquele aposento.
Maconha? Ótimo, agora ficarei chapada sem querer.
Levei um susto quando alguém gritou por Danilo do corredor, ele gritou de volta em resposta. Suas pegadas se afastaram um pouco, a porta foi aberta, e eu aproveitei a deixa para gritar também com o meu companheiro.
Pare com isso — murmurei não compreendendo nada.
Com o que? — balbuciou de volta.
De olhar para a minha boca como se...
Como se eu estivesse desesperado para beijá-la?
Ofeguei. As mãos em ardente confusão, eu não conseguia desgrudá-las da sua camiseta.
É.
Jhony me encarou como se eu tivesse encapsulado todo o oxigênio do quarto, ainda assim, seus olhos estavam marcados por um sorriso vulgar demais para seus padrões.
Mas eu estou. — E ainda com a atenção fixa em mim, acrescentou: — Estou horrorizado em perceber como você fica ainda mais linda neste ângulo.
Meu coração subiu para a garganta, o peito entrou em combustão, e fiquei ali, o encarando sem saber como responder. Nem mesmo conseguia acreditar que disse aquilo de verdade.
O quarto foi invadido por mais garotos barulhentos, bêbados e eles sentaram-se na cama para entupir os pulmões de erva e conversas tolas sobre garotas. Não parei para ouvir.
Por sinal, eu me sentia derretendo.
Sob aquele frágil estrado de madeira, envolvidos em suor salgado e diálogo picante, outros dois jovens também cometiam um pecado.
E éramos nós.
Jhony ergueu o braço do jeito que dava, passou a mão pelos fios de cabelo caídos em meu rosto e desceu com os dedos até meu queixo. Do queixo, para a boca vermelho-cereja. Senti seu polegar alisar meu lábio inferior. Me contorci como uma bobona. Se havia uma pessoa no mundo capaz de fazer meu temperamento de leoa se tornar o de um patinho, esse alguém era ele.
— O que você está...
Não aguento mais. Tenho que fazer isso agora — anunciou de maneira rouca.
Fazer o que? — Faça o que quiser.
Seus olhos brilharam.
Seus cílios tremeram como uma borboleta presa num frasco.
Te beijar.
Foram as palavras mais lindas que eu já tinha ouvido, antes da cena mais linda acontecer.
E, provavelmente, no momento mais assustador.
Eu fiquei assustadoramente imóvel.
Quieta.
Sobretudo, com as mãos trêmulas.
Ele se dobrou na minha direção e quando eu menos esperava, sua língua percorreu em meus lábios para me ferir antes de me matar.
Ele me olhou.
Posso?
Me pegou pela nuca.
Deve.
E me beijou.
O frio da minha boca foi aquecido pelo gosto dele. Agitado, aflito e impuro.
Não podia acreditar. Jhonathan estava me beijando sob aquele estrado de madeira que usávamos de esconderijo.
Ele era tão...
Eu fiquei paralisada, pude sentir o sangue que escorria em minhas veias. O interior das minhas coxas que pingava como laranja exprimida. Não fiz o mínimo esforço para impedir de ser beijada por ele.
Eu assopraria mil dentes-de-leão para ter esse beijo. Para que acabasse comigo até que não sobrasse mais nada.
Então deixei sua língua abrir a minha boca, era tudo o que minha consciência queria fazer.
Deixei seus dedos apertarem o meu pescoço.
Deixei que me tomasse do seu jeito louco, catastrófico e ilícito.
Eu arrepiei. Desmontei. Arfei. Gemi.
Shhh — a palavra balbuciante estava contra meus lábios, despertando a adrenalina nas minhas veias.
Me quebrando, me reconstruindo, me dominando.
—  Jhony... — Vibrei contra a sua boca. Se não fosse pelos vídeos que os garotos estavam assistindo no celular, seriamos descobertos. Teríamos que matá-los.
Me... beije... de verdade, Gabrielle — pediu, entre pausas para apreciar meus lábios enquanto podia. — Me pegue para você.
Recuperei o ar, os movimentos, e cedi à vontade do meu instinto. A minha língua provocou a sua e foi o fim da nossa misericórdia. Torci sua camiseta de algodão e o puxei para mais perto em um movimento veloz. Eu me abarrotei daquele beijo que derretia feito cubo de gelo. Seu gosto de cerveja, cheiro de desodorante e movimentos delicados como chicotadas.
Pecado.
O perigo daquela boca, não era parecido com nada que eu tenha experimentado. Era como o êxtase de cometer um crime. E também como se eu decretasse através daquela troca de saliva, que meus lábios seriam seus para sempre.
Eu seria sua para sempre.
A mão masculina, calejada, deslizou pela parte posterior do meu corset, tocou na minha cintura e apertou. As unhas roídas machucavam.
Deliciosa do caralho.
Senti um calafrio nas entranhas, como se suas palavras andassem sobre meus braços.
O comi vivo.
Alisei suas costas largas, os músculos. Senti seu cheiro. Apertei, arranhei, marquei aquele monumento, enquanto minha língua dançava com o próprio diabo.
Senti o movimento entre suas pernas aumentar. Não sendo nem um pouco tola, rocei o joelho que estava preso entre suas coxas e me movimentei na sua direção de modo provocativo.
Nesse instante ele ficou maluco e me beijou mais violentamente, sem se importar com nada além daquilo. Se introduziu na minha boca com mais força, uma língua que eu não conseguia controlar, estava por toda parte, dentes, bochecha. Passando pelo céu, até o calor do inferno.
Mordeu meu lábio. Sugou. Deixou dormente.
Seus dedos, me apertavam ainda menos nobres. Deixavam vestígios onde tocavam. A língua descarada desceu por meu pescoço, sentindo meu sangue bombear. Meu ombro nu.
Lambeu.
Mordeu.
Corrompeu.
Puxou meus cabelos.
Lambi a cicatriz da sua sobrancelha.
Seus dentes estavam agora no lóbulo da minha orelha e puxou meu brinquinho de pedra.
Eu estava derretendo...
Ele derretia. Trocamos saliva, trocamos toques, trocamos respiração, mas nada parecia suficiente.
Seu corpo gritava descontrolado. Cada pelo em pé nos braços, confirmava que me beijava como se precisasse disso para voltar a respirar.
Assim como eu.
Era nocivo. Sórdido. Errado. E poderoso... Fomos dominados e não recuamos. Não impedimos. Deixamos que a luz se apagasse para enxergarmos a beleza da escuridão.
Influenciada pelo pecado, fui com os dedos no zíper da sua calça e o deslizei lentamente para baixo.
Eu ansiava por ele. Senti-lo. Descobri-lo por inteiro... O meu fogo, não era como uma simples vela que eu podia assoprar. Era grande o bastante para incendiar tudo ao nosso redor.
Começando por nós mesmos.
Gabri... Gabrielle... — Ele soltou um gemido bem gostoso no meu ouvido. Grave e quase melódico. Eu jamais ouvi um garoto gemer o meu nome.
Está com medo? — lambi seu lábio inchado.
Medo? — riu. — Me deixe te mostrar o tamanho do meu medo.
Sua mão desceu por meus quadris e me puxou com um pouco de força. Pude sentir seu coração disparado, a respiração ofegante, o peito suado, seu corpo duro...
Sua língua tornou a travar a minha, misturadas num apetite impaciente. Uma alma tateando a outra alma, com voracidade, descobrindo profundezas. Arruinadas.
E se fôssemos pegos?
E se não fôssemos? Parecia ainda pior.
Era cheiro de pecado. De violência. De arrependimento.
Um ambiente pequeno, escondido, público, de luz baixa, sexy...
Foi meu êxtase. Pirei e nem vi para onde estava indo. Quando me dei conta, o dano estava feito. Enfiei a mão por dentro da sua cueca e o segurei. Segurei seu pau e senti que estava segurando um pedaço do Sol – firme e prestes a explodir. Eu até tinha a ideia de que Jhony tinha adquirido um ego grande, mas quando o peguei, ele ultrapassou essa ideia.
G-Gabrielle... — gaguejou ansioso e me encarou, como se não acreditasse que era mesmo eu na sua frente. — Caralho, Gabrielle.
Mas algo aconteceu antes que eu pudesse continuar.
O som da porta se fechando nos repeliu. Um barulho que indicava que estávamos sozinhos outra vez.
Jhonathan descolou sua boca da minha em um susto e me encarou sem dizer uma palavra. Parecia em estado de choque.
Permaneci ali, sem tirar os olhos dele. O encarava com desejo. Com o coração batendo irregular. As mãos borbulhavam enroscadas por dentro da sua calça. A boca pinicava pedindo por mais. Sim, eu queria fazer isso mais vezes. Queria fazer de novo agora. Eu estava loucamente afim por meu melhor amigo e não podia evitar.
Quando viu que era seguro, ele tirou minha mão do seu corpo e se arrastou para fora da cama.
Eu fui alguns minutos depois. Precisei de alguns instantes extra para me recuperar.
O encontrei batendo a testa na parede, como se seu único prazer fosse se machucar. Então deu um soco com o punho. Fazia tudo de olhos muito bem fechados e eu fiquei com a impressão de que o fazia para não ter que olhar para mim.
Enquanto eu estava em êxtase por ter beijado o garoto dos meus sonhos, o garoto dos meus sonhos aparentemente queria se matar por ter me beijado.
Todos meus sentidos despertaram. No fundo, senti que ia gritar, tinha mil motivos para fazê-lo, mas engoli grito.
— Não é para tanto — desengasguei com o nariz ao vento e tentando recuperar a confiança que perdi três segundos atrás.
Ele não respondeu.
— A gente pode culpar a bebida, se você quiser — tentei de novo.
Ele se virou. Tinha ajeitado a roupa. A respiração, como se o oxigênio fosse acabar e lábios esticados como se tomados por um gosto metálico. Tinha uma postura irreconhecível e um ar de quem se enforcaria com as próprias mãos, se conseguisse.
— Eu preciso sair. Preciso de algumas bebidas e cigarros. É melhor você ficar longe de mim pelo resto da noite — disse baixinho. Na verdade, foi mais como se tivesse limpado a garganta. Então começou a andar em direção a porta.
Entrei no seu caminho. Ele parou com tudo. Estávamos no centro do quarto e a janela que tinha sido aberta – provavelmente para afastar o cheiro de maconha – trazia um frescor gostoso para meu colo nu e molhado por suor e saliva... dele.
— Não vou deixar que saia desse jeito. A gente... A gente agiu no calor do momento. Foi a adrenalina de sermos pegos.
Contei três batidas irregulares do coração com a atenção fria que me deu. Eu estava despedaçando.
— Eu te beijei porque quis, porque a minha palavra sempre faz curva quando o assunto é você. Eu coloquei o desejo de te ter, à frente da minha promessa. À frente de tudo que é importante para mim. Eu agi feito um louco, porque você me enlouquece. Não tem desculpas, essa é a verdade.
Apesar de tudo, minhas bochechas... Minhas bochechas gostaram muito do que ouviram e ferveram.
Ele me deseja.
Ele se pune por isso.
Suguei meu lábio para dentro e soltei.
— Tá, e sua solução é beber até cair? Bater a cabeça na parede? Então bata com mais força até se esquecer do que aconteceu. Batendo fraco desse jeito, só vai conseguir uma enxaqueca.
— Acha que estou me batendo por que quero esquecer? — Ele riu esganiçado. Achei isso tão atraente. Então seus olhos contornaram meu pescoço até o vão dos meus seios e sua expressão se tornou mais atormentada. — Será que pode colocar uma camiseta para facilitar minimamente a minha vida!?
— Eu estou confusa. Pensei que estivesse se odiando pelo que aconteceu. Pensei que estivesse arrependido.
— Estou. — Senti uma pontada no meio do peito e um amargo na boca. — Mas mesmo me odiando e arrependido, se eu não sair agora desse quarto, eu vou continuar e não sei se conseguirei parar — sussurrando. Ele disse sussurrando sem remorso.
— Você quer me beijar de novo?
Essa resposta fez o canto da sua boca subir e seu corpo descer.
— Não faça essa pergunta. Não está ajudando.
— Talvez eu não queira ajudar. Talvez eu queira que a gente continue.
— Mesmo que eu me odeie depois? — questionou ácido.
Prendi uma mecha de cabelo atrás da orelha. Um movimento que ele acompanhou com um olhar que só serviu para me deixar bamba e todas aquelas outras sensações que soavam idiotas.
— Você bebe e fuma com frequência, já se odeia. Pelo menos agora se odiará fazendo algo realmente gostoso.
Jhony chegou mais perto. Inclinando-se um pouco mais, encheu meus pulmões com o hálito quente da sua boca.
— Às vezes eu te odeio, sabia?
— Não quando estou com a mão dentro da sua calça.
Seu rosto ficou rosado, brilhoso, e os lábios bem molhados e vermelhos.
— É quando mais odeio.
— Mentiroso.
— Sou mesmo.
— Você gosta de mim na maior parte do tempo? — perguntei. Eu tinha meus próprios medos empilhados na cabeça ao fazer aquela pergunta, mas os ignorei. Um dia precisaria lidar com a consequência de ter segredos que contei apenas para meu diário. Cedo ou tarde, eu veria aqueles lindos olhos verdes sofrer com cada emoção que meu segredo podia fazê-lo sentir. Mas esse dia não seria hoje. — Não como gosta da Joana. Você gosta de mim como um garoto gosta de uma garota? — Fui ainda mais clara: — Você gosta de mim como eu gosto de você?
Sua expressão e as sobrancelhas franziram com a minha declaração.
— O meu beijo não deixou claro como sou obcecado por você? O jeito como me deixou louco, não é prova de que sou todas as coisas que você frequentemente afirma?
Meus batimentos cardíacos palpitaram em um ritmo anormal.
— Acho que preciso que você me beije outra vez para ter certeza. Eu sempre fui uma aluna desatenta. — Não escondi ou disfarcei o quanto queria continuar. A vontade estava me adoecendo.
— Gabrielle, você não tem piedade? — a voz soou irregular, como se tirada do lado mais partido da sua alma. — Estou te odiando agora. Odiando demais. Para de foder a minha cabeça.
Me ergui na pontinha dos pés e o segurei pela camiseta. Ele não apresentou qualquer resistência. Pelo contrário, eu vi a sede com que olhava para meus lábios.
— Você me quer? Se me quer, mergulhe essa língua na minha boca. Me destrua do jeito que sabe. Acabe com a minha integridade. Me beije com tudo o que tem.
Seus olhos se pintaram com um verde tão dolorido quanto a pior dor da sua vida inteira. Foi o momento em que a noite silenciou.
—  Gabrielle... —  Ele pegou seu lábio com os dentes e gemeu o meu nome com uma mordidinha no canto da boca. — Gabrielle do caralho!
E me tomou para si.
Obcecada...mente.

Tirem as crianças da sala 🔥🛐🔞

Tirem as crianças da sala 🔥🛐🔞

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora