Capítulo 35

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Gabrielle

Deu para perceber que Jhony estava bêbado tão logo me aproximei.

Cambaleava e fedia a boteco barato com um cigarro entre os dedos e uma garrafa na outra mão. O cheiro alcoólico estava tão impregnado na sua pele, que eu seria capaz de atear fogo só de me aproximar ligeiramente com um isqueiro. A roupa esfarrapada de quem acabara de sair de uma briga me deixou fervendo de raiva.

Mas nada era mais chocante que aquela tatuagem.

— Acho bom que seja de chiclete ou de henna! — rosnei e fiquei na ponta dos pés para alcançar a marca na sua garganta. Esfreguei a tinta mesmo sabendo que era improvável que uma tatuagem de henna ficasse com aquela cor avermelhada e textura inchada de ferida aberta.

— Ai! — ele gemeu e foi para trás, o que comprovou as minhas suspeitas.

Era uma tatuagem de verdade. Dava para acreditar?

Jhony simplesmente tatuou PROBLEMA na sua garganta para que qualquer pessoa a menos de dez metros de distância conseguisse ler.

Uma parte minha queria o abraçar forte por descobrir que o canalha estava bem.

Sério, fiquei tão aliviada por ver ele intacto, que chega doeu. Por um momento achei que sua mãe estivesse em crise e feito algo, sei lá. Não sabia o que esperar dela sem aqueles malditos remédios. Era uma preocupação que eu não desejava nem para o meu pior inimigo.

Por outro lado, percebi que me desgastei emocionalmente por nada. Não havia razão possível que eu pudesse pensar para ele ter me ignorado o dia inteiro. Estava apenas se tatuando e enchendo a cara.

Isso me deixou tão brava, que eu poderia quebrar seu pescoço como um palito de picolé e depois colocar ele para tirar uma soneca no porta-malas de um carro até a minha raiva passar.

Dei as costas sem dizer mais nenhuma palavra e saí andando. Não demorou para que ouvisse o som dos passos de Marcelo e dele me acompanhando.

— Caramba, quanto você bebeu!? — ouvi Marcelo perguntar.

— N-nãao tanto assiiim.

— Ah. Imagino então que esteja mole desse jeito e com a cara vermelha porque foi picado por um monte de abelhas.

A praga resmungou algo incompreensível.

— E-ela tá brava com-migo?

Era de mim que falava? Não consegui nem olhar para sua cara.

— Por você ter nos preocupado e depois aparecido com uma tatuagem e a cara mais lavada do mundo? Imagina.

— Eu nããão...

— Nossa, vem aqui! Opa, não cai não. Cara, cê tá acabado — disse Marcelo. Por curiosidade, dei uma rápida olhada por cima do ombro e o vi ajudando o bêbado a se manter em pé enquanto tragava despreocupadamente e dava passos cambaleantes. — Nossa, nem parece o mesmo aluno que o professor de física elogiou hoje na sala. Sabia que ele usou sua atividade do ano passado como exemplo para nos explicar termometria? Ele a passou de mesa em mesa para que víssemos sua equação de conversão daquela atividade que você foi o único a acertar. Olha sua situação agora.

— Eeeeeu acertei!? Minha nossa, eu sou um gênio. Um gÊEEnio! Ô-o Ma-Marrrcelo, me deixa tirar esse brinco de você?

— O que tem de errado com o meu brinco? Sai pra lá! E você por acaso já deu uma olhada nessa sua tatuagem? Pelo amor de Deus, você vai me queimar com esse cigarro!!! Joga isso fora.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora