Capítulo 30

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Gabrielle

Na volta da escola, Joana não parou de tagarelar enquanto Jhony a levava no cavalinho em completo silêncio. Sem nem mesmo ofegar. Eu meio que podia ler seus pensamentos.

Ele se preocupava em como reagiria a sua mãe assim que eles chegassem em casa. Se preocupava com a aparição do seu pai ou com a ausência dele.

Era tão frustrante pensar que a maior parte dos seus problemas se resolveriam se sua mãe simplesmente voltasse a tomar os remédios controlados. Não que ele se tornaria um garoto feliz com a conquista, acho que eu nunca o veria feliz de verdade, mas pelo menos sorriria de vez em quando. Pelo menos seus olhos não ficariam revestidos de preocupação e medo como os de agora.

Por ser nova, Joaninha – como eu docemente costumava chamá-la - nem se deu conta de que ele estava mais quieto que o de costume. Pelo contrário, estava preocupada em apreciar as pulseiras que dei de presente. Eu tinha certeza que ela amaria e de fato amou. Com certeza foi um alívio para o Jhony ter alguém para distraí-la enquanto ele tentava lidar com a própria desordem da cabeça.

Para continuar a despistá-la, contei a respeito da minha viagem que de repente não parecia mais tão incrível assim. Sei lá, toda minha alegria foi sugada depois do que descobri hoje. Como eu ficaria feliz sabendo que meu melhor amigo, uma das pessoas que eu mais amava no mundo, sofria tanto desde que éramos crianças?

Eu estava tão grata por ter me confiado suas fraquezas, por outro lado, também me sentia uma péssima amiga pelas vezes que reclamei da minha vida mansa. Não havia nada mais triste que crescer nas condições que Jhony cresceu. Cuidar de uma bebê, quando tudo que ele mais queria, era ser criança. Ter uma mãe que não poupava esforços em humilhá-lo e um pai ausente. Eu me senti mal apenas de ouvi-lo falar.

Eu nunca tinha gastado muita energia para me questionar sobre sua família. Mesmo com os sinais, não foi um pensamento que me ocorreu com frequência. Agora as peças se encaixavam sem eu precisar me esforçar.

Infelizmente me dei conta de que finalmente perdi uma das coisas mais preciosas da infância. A ingenuidade. Pois a maturidade nos trazia uma consciência que muitas vezes não estávamos preparados. Como o véu da ilusão dando espaço para a nitidez da realidade.

Isso incluía entender a primeira vez que Jhonathan socou meu saco de pancadas como se quisesse arrancá-lo do teto. O primeiro frasco de geleia que dei e ele agiu como se nunca tivesse ganhado um presente. A sua agitação quando falei que não éramos mais amigos. Ele passou por muitos traumas lá atrás, além de toda culpa que carregava pelo desaparecimento da irmã. Era tão triste, que queria poder voltar no passado e dar todos os abraços que não dei.

Prendi o ar por um segundo.

— Gabi? — ouvi a voz feminina tamborilando nos meus ouvidos enquanto eu viajava na maionese. — Gabiiii!? Planeta terra chamando a Gabi!

Virei meus olhos desanimados para a Joaninha. De alguma forma, o ângulo também me permitia ver o rosto de Jhony, suas sobrancelhas arqueadas que tentavam entender minha cara de choro.

— Oi? O que disse? — tomei o lábio com os dentes. Eu realmente não tinha certeza do que ela estava falando.

Jhony prestou atenção em mim. Seus olhos estavam por toda parte do meu rosto.

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