Jhony
O que está acontecendo? O que está acontecendo?
Não vi os degraus que pisei ao correr até o meu quarto. Também não sei exatamente o que senti ao me deparar com a minha mãe segurando a Joana em seus braços, mas não era nada perto de alívio.
Era doloroso como mergulhar em lava.— Mãe? — chamei num sussurro e me aproximei em passos minúsculos. Pensei em gritar, mas minha cabeça parecia embaixo da água.
Ela não se virou. Balançava a bebê de um lado para o outro e cantarolava baixinho uma música de ninar. Estava trancada em seu próprio mundo e eu não sabia qual chave usar para entrar, mas agonizava a cada vez que ela se movia perto da janela que esqueci aberta. Era o meu coração que saltava.
— Boi, boi, boi. Boi da cara preta. Pega essa princesinha que tem medo de careta.
Tive ânsia ao ouvi-la. Ela nunca chamou Joana de princesinha. A sua princesinha era outra... Juciene.
— Mãe? — tentei de novo, agora perto o bastante para minha irmã me ver e pedir por meu colo.
— Dony — ela sussurrou e esticou seus bracinhos gorduchos para eu pegá-la. Abriu e fechou as mãos. — Dony.
Aquilo atraiu a atenção da minha mãe e ela se virou para mim.
— Você acordou a sua irmã! Quantas vezes terei que dizer para não interromper quando a coloco para dormir?
Isso me abalou. Era a mesma frase que costumava usar quando colocava Juciene na cama.
— Mas, mãe, essa... essa aí não é a Juciene. Essa é a Joana.
Ela olhou para a menina e depois para meu rosto, impressionada demais. Não disse nada.
— Dá ela pra mim, mãe — estiquei meus braços e Joana os seus.
Ela caminhou ainda mais perto da janela e para piorar, as lágrimas desciam pelo rosto da neném por não ter o colo que gostaria. Assisti aquelas gotas escorrerem sem poder fazer nada.
— Não chore, minha princesinha. Não chore — voltou ao delírio e acariciou o rosto da bebê com seu nariz.
— Por favor, mãe, por favor. Dá ela pra mim. Ela quer o meu colo.
— Quanta besteira, Jhonathan, toda criança prefere o colo da mãe — a aconchegou. — Shhh!!! Nana neném, que a cuca vem pegar...
Suas palavras seriam tranquilizantes, caso ela não estivesse confusa sobre a criança em seus braços. Ela não faria mal algum se continuasse confundida, mas o que aconteceria se sua ficha caísse? Se percebesse que aquela não era sua princesinha, e sim, a sua filha rejeitada? A ideia me dava pânico.
Joana continuou gritando por mim. Por dentro, eu gritava ainda mais alto.
— Por que está tão manhosa hoje, minha princesa? É cólica ou está com fome?? Ó, será que é fome? — ela puxou o peito para fora da camisola e forçou o bico na boca da Joana. Congelei. A minha irmã perdeu o costume de peito e acabou a mordendo quase que no susto. — Menina!!! Qual é o seu problema???
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Jhony Trouble
RomantizmFamiliarizado com a culpa, com o ódio dos pais e atormentado pelas últimas palavras da irmã desaparecida, Jhony só queria um recomeço para cuidar da pequena família que restou: a irmã caçula que foi abandonada sob seus cuidados ainda bebê. No enta...