Jhony Trouble

Capítulo 47

Gabrielle

Dia 1

Jhony: "Nota do dia: A casa da Alaíde é uma relíquia arquitetônica de dois andares com fachada amarela e tijolinhos!

Um lugar agradável do final do século XVII, um estilo que não vemos com tanta frequência na grande cidade, com forro de madeira e janelas mais altas que o normal. Pela propriedade há diversas árvores emoldurando as janelas que você, sem dúvida, não perderia a oportunidade de escalar.

Em outras palavras: estou ferrado com o leque de esconderijos que Joana terá quando decidir brincar de esconde-esconde comigo.

Voltando a falar das árvores, um detalhe original apaixonante que reparei logo na primeira manhã, é que os pássaros fazem um espetáculo sonoro ao nascer do sol.

O simples canto desses batedores de asas nas janelas, faz qualquer um ter a sensação de que será um dia bom e ensolarado. Confesso que acordei animado. Ah, linda, queria ter conseguido gravar um vídeo para que você ouvisse, é uma pena Alaíde ser aversa à tecnologia e se recusar ficar refém do WhatsApp.

Por outro lado, será divertido recorrer à moda antiga – adjetivo que ironicamente resume esta cidadezinha - e te fazer visualizar através das minhas palavras, as impressões que tive conforme o lugar me era apresentado.

Eu prometi mensagens longas, não prometi? Espero que não fique entediada.

Vamos lá...

Apesar de ser uma casa grande, é simples, não há luxos, muito pelo contrário. Está mais para um museu cheio de quadros e velharias. A sala e a cozinha são generosas em m², luminosas e convidativas, com detalhes de carpintaria e molduras nos tetos e portas que irradiam uma aura nostálgica. Poltronas dos anos 50, estantes da década de 1940 e tapetes que talvez sejam encontrados garimpando lojas de antiguidade.

Seguindo pela escadaria que dá para os quartos, reparei que as paredes foram pintadas à mão para imitar mármore, e o teto tem relevo ornamental em um estilo floral que talvez seja a parte mais fascinante da casa. Dá para perder alguns minutos admirando.

No segundo andar, há um corredor longínquo de paredes pintadas de verde e rodapés da mesma cor. Três quartos imensos com suítes, sendo um deles dos meus avós, com uma roupa de cama florida que mais parece um jardim, móveis rústicos escuros e um cheiro muito característico de vó.

Joana ficou estupefata quando vovó nos mostrou os dois que estavam disponíveis e pediu que decidíssemos quem ficaria com qual. Ambos muito bonitos e grandes, qualquer um estaria mais do que perfeito para mim.

No entanto, ao me deparar com uma porta aberta ao final do corredor, um quartinho estreito que não nos foi dado como opção, roubou a minha atenção especialmente pela claridade absurda que invadia a janela. Assim que pisei nele, Gabrielle, senti como se estivesse a céu aberto e me convenci de que nosso pezinho de amora cresceria rápido e saudável se tivesse o privilégio de passar mais tempo na luz natural.

Alaíde tentou me fazer mudar de ideia porque aquele era o quartinho onde ela guardava coisas velhas e quebradas. Eu disse que adoraria ficar "guardado" ali.

Então, alguns minutos depois de convencê-la, nós retiramos a bagunça e ela me emprestou uma cadeira redonda para deixar a mudinha enquanto não encontramos um suporte melhor – ela sugeriu que eu plantasse o pezinho no jardim, mas depois de ter visto o estado da plantação de alface dela, eu recusei ligeiramente.