Capítulo 12

220 33 113
                                    

Jhony

Vovó era alguém que cumpria com a sua palavra. Descobri quando ela tocou a campainha de casa na manhã de segunda-feira. Claro que eu estava com a cabeça fora do travesseiro e pronto há horas. Observava pela janela da sala, à espera do seu carro cruzar a minha garagem antes mesmo do sol subir no céu.

Assim que seu dedo encostou no botão barulhento da campainha, eu corri para o aconchego do seu corpo. Envolvi sua cintura. A força do meu aperto, era a comprovação da minha felicidade.

— Você veio. Você veio!

Seus braços me enlaçaram, sua risada ecoava por meus ouvidos, e então ela me empurrou delicadamente para me checar. Virou meu rosto de um lado, do outro, à procura de algo. Hematomas?

— Eu disse que viria. Como você está? Como passou a noite? Teve problemas?

— Eu estou bem. Correu tudo bem. Não tive problemas — respondi claramente a cada uma de suas perguntas.

Dei passagem e ela entrou empurrando a porta com o pé. Hoje usava tênis e moletom.

— Sua mãe tomou os remédios? — Foi até a cozinha, largou a bolsa na mesa e se serviu de um copo de água para ajudar a engolir os comprimidos que destacou das cartelas. Após a primeira golada, perguntou: — Ela jantou?

— Não tenho certeza, acho que sim. A casa ficou quieta a noite toda.

— Tudo bem, vou subir para checar. Onde está a sua irmã? Não são nem seis horas e você está até de uniforme.

— Joana tá dormindo no carrinho na sala. Eu desci ela para facilitar para a senhora, assim não precisa ficar subindo a escada. Também deixei fraldas e roupinha na sala. Não preparei a mamadeira porque fiquei com medo de esfriar até ela acordar.

— Você tomou café da manhã? Sobrou panquecas de ontem. Quer que eu esquente?

— Eu já esquentei e comi. Deixei um restinho de geleia para a senhora comer mais tarde, se quiser.

Ela abriu um sorriso cheio de rugas e passou a mão por meus cabelos.

— Você pensou mesmo em tudo. Mas por que está vestido? Ainda é cedo.

— Eu não dormi esperando pela sua chegada e não queria desperdiçar nosso tempo junto, me trocando — confessei. — Vovó, talvez eu me atrase um pouco hoje para voltar da escola.

— Se atrasar?

— É. Vou tentar conseguir amoras para a nossa geleia. A senhora se incomodaria de ficar com a Joana?

— Com certeza não. Mas onde pretende conseguir as amoras?

— A Gabrielle tem uma amoreira na casa dela e está carregada.

— Parece perigoso. Não quero você subindo em árvores. Deixe que eu providencie isso na feira de quarta.

Quarta demoraria para chegar.

— Não é perigoso não. Eu vou tomar cuidado.

Ela esvaziou o copo de água, o largou na pia. Assim que me deu as costas, uma ferida contornando a parte de trás da sua orelha esquerda me chamou atenção. Um arranhão que parecia feito com algo afiado e que não estava ali ontem. Fiquei um tempo olhando para o corte, me perguntando o que podia ter acontecido.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora