Jhony
Sua fala não só me paralisou, como me impediu de perceber o quanto avancei na sua direção. Agora estava em um lugar que me faltava ar e faltava coragem.
— O que você disse?
— É o que ouviu, Jhonathan. A três anos atrás, eu estava grávida de você.
— G-grávida de mim? — minha voz não passava de um sopro e lancei um olhar indiscreto para sua barriga. — Você teve... um filho? Um filho meu?
A expressão de Gabrielle vacilou por uma fração de segundos antes verbalizar uma resposta:
— Estava. Eu abortei. Por isso te liguei tanto naquela época, queria te contar para decidirmos juntos o que fazer, só que você estava preso. Fiquei tão zangada com você, por me deixar enfrentar isso sozinha. Eu estava com tanto medo... Não sabia o que fazer. Aí acabei tirando o bebê.
Juro por Deus que achava que ela riria a qualquer momento, a questão é que Gabrielle tinha em mim um olhar magoado enquanto dava tempo para eu me recompor.
Me recompor...
Entre o intervalo de cada golpe que a vida me deu naquele dia, acabei com um ultrassom balançando nos meus dedos. Um registro monocromático que mal dava para identificar alguma coisa. Não passava de um borrão pequeno. O meu borrão pequeno.
Acariciei com o polegar, meus olhos ficando mais molhados à medida que a ficha caía. Eu tive um filho?
Instintivamente consegui perguntar:
— Não estou entendendo. Como assim abortou?
Dessa forma ela parou e respirou fundo, buscando no ar a força para esvaziar tudo o que a sufocava.
— O Marcelo encontrou uma clínica particular que aceitou fazer por baixo dos panos por um valor. Ele arcou com as despesas, por isso eu disse que ele foi um grande amig...
— Tá me dizendo que aquele filho de uma puta pagou para você tirar o meu filho!? — a raiva subindo pela garganta.
— Jhonathan, por favor... — disse, se certificando de que eu não estava prestes a surtar. — Sei o que parece, mas você não faz ideia do que passei. Eu estava sozinha, você estava preso, eu não sabia o que fazer e não tinha como criar essa criança. Eu não sabia o que fazer e estava com tanto medo... Ele me ajudou. E-ele me deu o apoio que eu precisava.
Senti as veias saltarem na testa e olhei puto na direção dela.
— Te ajudou o caralho. Ele não fez isso sem nenhum motivo — rosnei e coloquei as mãos na cabeça. — Ele fez, porque o filho era meu! Nem sei o que te dizer. Nem sei o que dizer!
Gabrielle começou a chorar nessa hora, chorar escandalizada, e embora eu próprio estivesse o bagaço, depois de respirar fundo, corri para acudi-la quando percebi que estava com falta de ar. A puxei para dentro dos meus braços como quem enfrenta um mar revolto. Ela tentou recusar, me bater, desferir uma sequência de murros que não me fariam ceder. Até que se cansou, ficou vulnerável e guardou suas armaduras. Nesse instante, peguei seu corpo vulnerável e dei um abraço apertado.
Apertado capaz de arrancar a sua dor por um instante.
— Eu estou bem, Jhony. Tá tudo bem agora — sussurrou. Na verdade, era um pedido de socorro.
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Jhony Trouble
RomanceFamiliarizado com a culpa, com o ódio dos pais e atormentado pelas últimas palavras da irmã desaparecida, Jhony só queria um recomeço para cuidar da pequena família que restou: a irmã caçula que foi abandonada sob seus cuidados ainda bebê. No enta...