Capítulo 4

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Jhony
A mãe ergueu a mão para me bater outra vez, mas alguma coisa ou alguém a impediu.

Eu ainda tentava me recuperar do tabefe na bochecha, quando ouvi meu pai dizer:

— Para com isso, Cláudia. As pessoas vão ouvir e ver. Feche essa porta, Jhonathan!

Eu fechei nervosamente, ainda sem qualquer explicação por ter apanhado. Minha bochecha ardia tanto, que parecia queimada. Mas não afaguei por receio de fazer qualquer movimento e apanhar de novo.

— Esse moleque é um mentiroso e merece apanhar para aprender a não contar mentiras! — Ela acusou possessa. Seu vestido, completamente ensopado, pingava sobre seus pés descalços. Os cabelos escuros e ralos gotejavam nos ombros. A impressão que dava, era a de que ela caiu em uma piscina, mesmo sem termos uma. — Você sabe que ele é maldoso, Humberto. Sabe que quer virar todos dessa casa contra mim!

— Pai? — o chamei. Precisava que alguém contasse o que fiz de errado.

— Sua mãe disse que não foi ela quem fez aquela bagunça na cozinha — respondeu, sem saber para qual de nós olhava. Como ela, ele também estava molhado, só que apenas na manga da camisa e um pouco nas pernas. O que aconteceu entre eles? — Que a culpa foi sua.

Paralisei. Culpa minha? Meu pensamento rugiu, enquanto minha garganta não emitia som nenhum. Olhando para ela, via-se uma frieza quase paralisante. Mamãe não tinha sombra de remorso ou a vergonha de quem mentia descaradamente. Pelo contrário, sua postura era tão confiante, que cheguei a pensar que o mentiroso era eu, que me encolhia inteirinho.

— Foi ele! Foi ele — acusou com o dedo apontado na minha cara. Suas bochechas rosadas como se atacadas por amoras. — Ele me fez fazer isso e agora não admite. Não admite. Esse moleque não vai descansar até acabar comigo, foi para isso que ele nasceu. É o mau encarnado, ouça o que eu digo. O quero bem longe de mim. Leve ele daqui. Leve. Leve agora — ela repetia sem parar.

— Tudo bem, calma. Respira fundo — papai colocou as mãos em seus ombros e usou um timbre baixo. — Onde seus remédios estão? Você não tem tomado?

Balançando a cabeça, vociferou:

— NÃO PRECISO DE REMÉDIO. PRECISO QUE ESSE MOLEQUE PARE DE TENTAR ME MANIPULAR. — Tamanho era o ódio que entortava a sua cara.

— Eu darei uma lição nele — respondeu, a todo instante tentando acalmá-la —, mas você precisa tomar seus remédios primeiro. Está bem?

Lição em mim? Tomei um gole de saliva.

— Pai, eu não fiz nada — desgrudei os lábios e busquei seus olhos com ressentimento. Eu tinha contado a verdade para ele, confiei que estaria do meu lado e agora, para a minha indignação, apanharia da única pessoa que achei que cuidaria de mim. Que me acolheria e protegeria de tudo.

— Não fez nada!? — Os olhos marrons da mamãe fisgaram os meus, mas logo se desviaram do meu rosto até o do papai. — Olha como ele é mentiroso. Eu ouvi a voz dele mandando eu fazer aquilo ou não diria onde a minha filha está. Era a voz dele! Por que ele mente???

— O que? — Quando dei por mim, havia questionado. Eu não entendia porque estava me acusando. — Não fiz isso, pai.

— Por que não admite!? Seu mentiroso. Mentiroso! — Com gritos secos, ela empurrou meu pai pelo peito para afastá-lo e, com uma ira que eu podia reconhecer só de olhar, deu passadas largas na minha direção.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora