Gabrielle
— Você não pode estar falando sério — pestanejei inconformada. A barulheira ensurdecedora não me permitia ouvir a minha própria voz, quem dirá a dele. Como esperava que conversássemos em movimento?
Mas sim, ele falava muitíssimo sério e deixou claro no instante em que passou por mim como se eu fosse um nada e se encaminhou para a porta.
Em um rodopio de calcanhares, o segui. Me esquivei com sufoco entre uma muvuca a cada virada de copo mais ébria. Por falar em embriaguez, eu continuava bastante alcoolizada, mas algo na minha briga com Jhony me deixou em estado de alerta.
Apesar dos meus esforços em acompanhá-lo, ele andava rápido. Passos acelerados, largos e longos, então não demorou para os metros de distância entre nós crescer e o topo da sua cabeça não passar de um entre vários.
O perdi de vista. Me levantei na ponta dos pés e estiquei o pescoço.
O procurei na multidão da esquerda. Da direita. Da esquerda de novo. Praguejei. Aquele labirinto humano era de dar nos nervos. A iluminação não colaborava, eu ser menor que a maioria era outro ponto que me deixava em plena desvantagem, mas consegui avistar aquele teimoso quase alcançando a porta de saída.
— Jhonathan! — Meu grito de forma alguma se sobreporia há muitos outros ruídos, apesar disso tentei. E enquanto as palavras ainda arranhavam na minha garganta, uma menina com uma flor chamativa no rosto, tatuada com caneta fluorescente, trombou comigo e por muito pouco não me arremessou no chão. Foi uma trombada dolorosa no braço, me desequilibrou por minutos e me atrasou ainda mais. — Jhonathan!
Ele simplesmente passou pela porta sem olhar para trás. Mesmo ciente de que eu o seguia, ele saiu e me deixou. Eu não podia acreditar. Ele agia como se tudo o que nos aconteceu, fosse culpa minha.
E o que ele e Carol fizeram? Não contava?
Nessa hora ignorei absolutamente tudo, fui ao seu encontro feito um disparo de canhão. Até meu coque se desprendeu com a intensidade dos meus passos. A força em que eu comprimia os dentes, latejava a gengiva. Os punhos tão bem fechados, pela primeira vez me fez experienciar a dor que Jhony sentia. As garras rasgavam a pele, feriam a carne, mas principalmente, mantinham qualquer impulso sob controle.
Estávamos na garagem com algumas pessoas quando vociferei com uma raiva que nem sei:
— Você não pode continuar me ignorando! — Todo mundo me olhou.
Jhony então parou.
E se virou. As mãos nos bolsos da frente da calça. As veias saltavam pela garganta e braços. Um semblante horrível que fez toda sua beleza desaparecer.
— Seu tempo de falar comigo acabou de acabar. Eu disse que te ouviria até a porta.
— Como seria possível se você praticamente correu? — encarei os outros nos observando atentamente. Enchi os pulmões e soltei o ar lentamente. Voltei para ele: — Pode parar com isso?
— Parar com o que? — Sustentou meu olhar com intensidade.
— De me deixar falando sozinha!
— Quando eu tentei conversar você não quis, lembra? — A garagem rodou. Minha bebedeira pouco tinha a ver com isso. — Você mandou eu ir embora e disse que queria se divertir. O que faz atrás de mim agora? Vá se divertir.
Apertei os punhos mais forte, tentando fazer minha cabeça parar de girar.
— Então vai me ignorar só para se vingar!? Vai mesmo fazer isso?
— Entenda como quiser.
Tentei ir embora e deixá-lo pra lá.
Tentei.
Não consegui.
Depois de me olhar nos olhos até doer, sua atenção foi desviada para o pequeno público que assistia a nossa discussão e desfrutava de cigarros. Nunca imaginaria que Jhony iria até eles e arrancaria o cigarro de um menino para ele próprio tragar.
— Ei, seu folgadinho. O que acha de pedir? — resmungou o garoto dum jeito malandro.
Jhony fez a fumaça deslizar calorosamente para seus pulmões sem misericórdia. Em seguida, a soltou para o alto.
— Posso? — perguntou ele.
Abanei o rosto com uma careta quando aquela névoa densa e cinzenta passou por meu nariz. Jhony estava fumando na minha frente. Ele não era disso. Pelo contrário, costumava ser tão cuidadoso a ponto de não fazer perto de mim nada que pudesse me influenciar de forma negativa.
Abri a boca para reclamar, mas desisti. Tínhamos outras discussões na fila.
— Você deveria ter pedido antes de pegar — prosseguiu o menino.
— Para de ser mesquinho. Você é da minha escola. Amanhã eu pago um maço — ele deixou esse comentário ranzinza para trás e saiu da casa. Nem esperou para ouvir o garoto dizer que o cigarro de pagamento deveria ser de tão boa qualidade quanto o que ele roubou.
Assim que organizei meus pensamentos, acompanhei seus passos. Estávamos na rua agora. A noite era calorosa, agitada e tinha um céu estrelado, uma Lua gigante que eu adoraria ter ânimo para observar. Ao contrário disso, eu continuava atenta àquelas costas tensas e firmes dele. A respiração pesada que me trazia um certo desconforto.
Jhony andava sem pressa em direção ao leste, jogava fumaça para cima e vez e outra espionava por sobre o ombro como se para se certificar se ainda era seguido.
E sim, era. Eu o seguia pela calçada, tentando ler sua expressão fechada. Meus pés se recusavam a me levar para longe dele. A vontade era de puxar aquela criatura pelo cós da calça e perguntar o motivo de estar tão irritado sendo que foi ele quem começou. A imagem dele e da Carol vinha à tona em diversos formatos na minha cabeça.
Depois de andar 100 metros, ele se cansou e se virou com urgência para mim.
Equilibrei-me nas duas pernas porque em uma eu cairia.
— Se continuar me seguindo desse jeito, eu vou surtar!
— Meus pés têm vontade própria, o que posso fazer?
— Pare de ser teimosa e volte para a casa do Danilo!
— Por que?
— Porque não quero que algo te aconteça enquanto me persegue — sua voz saiu trêmula, quase com gentileza.
Sua irmã desapareceu o seguindo. Pensei com tristeza enquanto o encarava. Mesmo irritado, uma parte dele tem medo de que o mesmo possa me acontecer agora. Essa lembrança era a sua maldição, mas sempre fui apaixonada pela forma que ele se preocupava comigo.
Sem dúvida, meu coração balançou.
— Não vou parar de seguir até você falar comigo.
— Não temos nada para falar.
— Precisamos falar sobre o que você ouviu. Sobre o beijo...
— Por favor, não toque nesse assunto. Já aconteceu, não vale a pena discutir — me cortou. Mesmo na escuridão, apenas sob às luzes dos postes e da Lua, notei seu rosto ficando vermelho.
— Ele que me agarrou. Foi um beijo roubado. Não acredite no que ouviu, não é verdade. Eu não queria aquele beijo — explicações não paravam de dançar na minha língua e não consegui engoli-las, por mais que eu também tivesse motivos para estar furiosa.
— Por que está se explicando? Você é livre para beijar quem quiser.
Meu estômago embrulhou todo.
— Se sou livre, por que você está tão zangado que não consegue nem disfarçar?
— Não estou zangado.
— Você está me evitando, sendo arrogante e pude contar quantas vezes me encarou na última hora. Se não está zangado, por que não olha nos meus olhos?
Nossos olhos se cruzaram e imediatamente a vontade de ser reparada por ele, foi substituída pela curiosidade em como olhos verdes eram capazes de parecer tão vazios.
— Quer que eu olhe pra que? Vai te dar mais prazer enquanto me magoa?
— Eu te magoei!!!? — Fiquei uma pilha de nervos e ri com nervosismo. — E quanto ao que você fez comigo? Por que a gente não fala sobre isso também?
Ergueu uma sobrancelha, aflorando minhas inseguranças.
— Não sei o que você acha que fiz e também não estou interessado em descobrir. É como eu disse, nosso tempo de esclarecer tudo acabou — disse e deu uma tragada. Ainda custava a acreditar que estava fumando na minha frente. Estava tudo errado.
— E quando teríamos esclarecido se você estava o tempo todo grudado na Carol?
— Quando? — Nesse momento a voz dele elevou e lá se foi a minha confiança. — Um pouco antes de você beijar outra pessoa logo após ter me beijado não pareceu um bom momento para você?
— Eu não beijei ninguém. Foi ele que me ag...
Ele não me deu a chance de continuar.
— Você tem razão — tragou de novo, me deixando louca. — Eu estou zangado pra caralho para te ouvir.
Em uma única respiração, arranquei o cigarro dos seus dedos, joguei no chão e esmaguei com o pé. Com força suficiente para fazer barulho.
Ele cerrou a testa, enfiando as mãos nos bolsos.
— Você acabou de destruir a única coisa que ainda me mantinha calmo.
— Não interessa se não quer me ouvir, temos assuntos inacabados. Eu fiquei assistindo você carregar aquela menina no colo e foi nessa hora que o Danilo me beijou. Não sei se ele aproveitou a minha distração, mas foi o momento em que aconteceu. Eu estava distraída com você e quando vi era tarde demais. Como eu teria impedido algo que não previ?
— Você está me culpando? — questionou com mais um tom de voz irritado. Ele tinha um armazém desses. — Você passou a noite toda se insinuando para um garoto como se meus sentimentos não significassem merda nenhuma e a culpa é minha!?
— Eu só agi assim, porque você agiu primeiro!
— Como é?
— Você se agarrou com a Carol e eu vi — sentenciei.
— Eu me agarrei com a Carol?
— Eu vi vocês juntos. Você a abraçou, disse coisas, e Deus sabe o que mais fez. Se tornou nojento demais para eu continuar assistindo. Então sim, você quem começou, eu apenas reagi!
Ele trincou a mandíbula.
— Você é tão... — Queria ter pedido para ele concluir, mas não encontrei forças. — Essa é sua justificativa para tudo que fez!?
— Não vai admitir?
— Não sei o que quer que eu admita.
— Que você ficou com ela!
— Não, eu não fiquei!
— Eu vi vocês juntos e pareciam com bastante intimidade.
— Eu não deveria me explicar para você, mas vou porque quero ouvir um pedido de desculpa saindo da sua boca — anunciou com a violência de um leão enjaulado. — A Carol veio dizer que gostava de mim. Eu disse que ela era linda, mas que não a via dessa forma e falei para sermos amigos. Depois ela disse que sempre quis me abraçar devido a tudo que passei e perguntou se podia fazê-lo naquele instante. Eu não queria ser grosseiro com alguém que só queria me consolar, então deixei. Deixei que ela me abraçasse, não consegui evitar, mas eu não a abracei. Eu nunca toquei em uma garota que não fosse você. Nós crescemos juntos e você supor que eu faria essa babaquice, só me deixa ainda mais puto. — Respirou. Eu apenas parei. — E não precisa Deus te dizer o que aconteceu, eu digo. Você antecipou uma vingança desnecessária. Você me causou uma ferida depois de supor que causei em você. Então não venha me dizer que a culpa é minha você ter sido uma imatura quando tudo podia ter se resolvido quando te chamei para conversar e você me mandou embora.
Ele quebrou umas três costelas minhas com seu comentário.
— Não rolou mais nada entre vocês? — comecei a murmurar.
— Não.
Tamanha foi a vergonha que me fez desviar o olhar para as próprias mãos. Demorei o máximo que pude para voltar para seu rosto, mas em certo momento precisei fazê-lo e comecei a suar.
— E-eu estava furiosa por você ter a tratado bem depois de ela ter me xingado, por isso não quis conversar naquela hora que me chamou — gaguejei e comecei a dar voltas. — Você foi carinhoso com ela, cheio de sorrisos e eu pensei... pensei que vocês tinham ficado. Eu nunca te vi sendo assim com uma garota antes, e depois da conversa que ouvi, você a elogiando de primeira sendo que eu raramente ouço um elogio seu. Sei lá, achei que você tinha sentido algo. Não sei o que pensei para ser sincera.
Uma expressão impiedosa se apossou dos seus olhos e olhando para ele agora, percebi quão ridícula fui. O Jhony que eu conhecia, nunca me machucaria propositalmente. Eu me precipitei, fiz merda.
— Nunca tratarei as outras como trato você, esse é meu maior elogio. Eu sou fiel a você desde o tempo em que te ter, não passava de um desejo que eu tentava ignorar. Sou fiel até a maneira como te olho. Sou fiel até involuntariamente. Já você, não pode me dizer o mesmo. Na primeira oportunidade de me atingir se agarrou com outro e me fez passar por idiota na frente de todo mundo.
Meus olhos começaram a lacrimejar ao som da voz magoada dele e o encarei com a vista embaçada.
— Está bem, eu admito que passei dos limites. Agi com raiva. Mas não faça parecer que você não fez tudo que estava ao seu alcance para me atingir de volta. Você a usou para me provocar, sabia que eu ficaria possessa porque nós duas tínhamos acabado de nos desentender. Não finja que não a chamou para ser sua dupla e ficou de conversinha com ela. A troca de sorrisos entre vocês, o que foi aquilo? Imaginação minha também?
A expressão de raiva dele não se desfez.
— Está certa. Eu fiquei tão doente de ciúmes por ter visto o Danilo tocando em você, que nem me reconheci. Eu fui infantil de um jeito que fui proibido desde os nove anos de idade. — Me atentei a essa palavra. — Fui tão imaturo que chamei uma adolescente que gosta de mim para beber até passar mal. Eu não sou assim. Eu sou responsável, consciente, maduro. Não sei o que você fez com a minha cabeça, mas preciso fazer essa coisa parar. Há muitos problemas na minha vida que não posso evitar, só que esse eu posso.
Engoli em seco. O choro queimava na minha garganta.
— O que quer dizer?
— Não percebe? Depois que você me beijou, todas as minhas atitudes e pensamentos têm sido problemáticos. Eu tinha ciúmes, mas era controlável. Eu sabia que você não era minha, então eu engolia essa coisa e apenas eu me machucava. Agora eu sou esse cara que faz absurdos que nunca pensou em fazer.
— Mas eu sou sua.
Ele olhou enquanto meus lábios moviam.
— Não faça isso.
Fitei seus olhos e ergui a sobrancelha.
— Dizer a verdade?
— Me fazer balançar depois de ter beijado a boca de outro — forçou-se a dizer por entre dos dentes cerrados.
— Eu não beijei! Não use isso contra mim.
— Quantos mal-entendidos precisam acontecer até você cogitar?
— Nunca passou por minha cabeça beijar alguém para te atingir!
— Não consigo acreditar em você.
— O auge do meu ciúmes foi ver você carregando-a nos braços, mesmo assim eu te procurei para a gente conversar. Se eu fosse fazer algo extremamente estúpido, teria feito nessa hora.
— Eu sei que essa não foi a história verdadeira e você também sabe. Não tente manipular a situação. Você só me procurou porque o Danilo me disse aquilo — fez questão de me lembrar. — Me procurou porque se sentiu culpada.
Engoli em seco. Me senti uma menina diante um garoto que já podia ser considerado homem.
— Tá, eu me senti culpada. Eu levei a situação longe demais, não devia ter precipitado as coisas. Devia ter confiado em você e conversado quando me chamou. Desculpa.
— Minha mãe tem razão.
Me surpreendi. Ele nunca falava dela. E ter falado tão repentino, era estranho.
— Sua mãe?
Um músculo no seu rosto se contraiu.
— Ela dizia que pedidos de desculpa não resolvem de nada — disse de forma constrangedora. — E não resolvem mesmo. Ainda não consigo lidar com você.
Anunciou essas palavras e virou as costas.
Resisti à tentação de obter mais detalhes sobre sua mãe e retruquei observando aquela figura esguia que começava a se distanciar:
— Eu sei que fiz merda, tá bom? Se quiser me julgar, vá em frente, só não pode continuar me culpando por um beijo roubado! É injusto!
Ele deu dois passos longe de mim, parou, se virou e voltou a me alcançar. Deu para perceber que queria fugir para o mais longe, mas seu instinto protetor o impedia.
— Você se atirou em alguém que te cobiça, o que esperava acontecer? Você diz uma coisa e faz outra. Perdi a confiança em você — disse. Nossa conversa se encaminhando para um desastre absoluto. Era insuportável. — Você insistiu até que eu cedesse e assim que eu cedi, você ligou o foda-se e foi egoísta. Como pôde ter deixado ele tocar em seus cabelos do mesmo jeito que eu toco? — sussurrou. Senti uma pontada no peito. — Você não sabe o que quer. Quem quer. Então antes de tentar me convencer que você não queria ter sido beijada por ele, tente primeiro convencer a si mesma.
— Eu não queria ter sido beijada por ele! — bati com o pé.
— Tem certeza? — persistiu, dando um passo à frente. — Considerando que até implorou para que eu conseguisse o número dele para você, dizendo que foi paixão à primeira vista e toda aquela merda... Lembra? Não acredito que seja possível uma garota mudar de opinião em tão pouco tempo. — Assumiu uma aparência sombria. — Com qual de nós você está brincando!?
— Sim, eu lembro — dei um passo à frente também, nos deixando cara a cara. Um par de olhos cintilantes prenderam-me a eles. — Eu só estava tentando tirar você da cabeça. Eu dizia e fazia qualquer coisa para tentar me enganar, me distrair. — Meu sangue se acumulou nas bochechas. Meu coração, geralmente calmo, não conhecia a dor daquele desespero. — Todo garoto que demonstrei o mínimo interesse na minha vida, era para tentar esquecer você. Você só pensa que é a minha obsessão do momento, porque não faz ideia de quanto tempo eu tento ignorar que o meu coração sempre te escolhe.
Ele virou o rosto. Quebrou o contato visual. A rua estava deserta e o vento morno que mal balançava as árvores, deixava minha pele sensível.
— O que foi? Não gostou de me ouvir dizer a verdade? Olha para mim, porra. — Procurei por seu rosto. Eu estava furiosa e produzi uma espécie de rosnado: — Não gosta que eu admita que estou apaixonada por você igual uma garota bobinha?
Me encarou persuasivo demais e disse com uma voz calma, lenta:
— Pelo contrário. Eu gostei bastante, esse é o problema. — Pausa. — Você me estressa.
Era meio que uma ofensa, mas da boca dele soou atraente.
Minha cabeça não conseguiu encontrar uma resposta adequada para rebater. Um pedido de desculpa sincero para que acreditasse em mim. Sendo assim, experimentei uma atitude diferente para fazê-lo confiar que meus sentimentos eram reais.
O abracei. É. Me atirei nos seus braços rígidos, afundei naquela armadura humana e rocei a bochecha em seu peito saliente, fresco, com mechas dos meus cabelos grudando na minha boca. Respirei sua pele. O mesmo incrível cheiro familiar de sete anos atrás. Ouvi seus batimentos cardíacos dispararem.
Passei as mãos ao longo das suas costas e o senti ofegar.
— O que pensa que está fazendo? — sussurrou e pegou em meus quadris, provavelmente rejeitaria aquele abraço nos próximos minutos, mas não me alarmei.
Com o queixo grudado em seu peito, ergui o olhar. Nunca tinha reparado quão atraente ele ficava com a mandíbula contraída.
— Provando cada palavra que eu disse.
— Acha que é um bom momento para me abraçar?
— Sempre é um bom momento para te abraçar.
— Pedi para não me fazer balançar.
Mantive o contato, ainda o abraçava, suas mãos permaneciam na minha cintura com firmeza. Minhas veias ferviam, pulavam sempre que seus olhos verdes piscavam em meu rosto.
— Eu vou balançar até fazer você cair. Vou balançar até não aguentar mais.
Ele continuou a me observar, me fazendo mergulhar em lugares das suas órbitas que apenas eu podia visitar, e ainda me observando, começou a andar para frente, me fazendo ir para trás. Sem dizer nada, fez de novo e... mais uma vez. Não entendi o que estava acontecendo e o magnetismo dos seus olhos não me permitia desviar para descobrir. Dei três passos até trombar as costas com alguma coisa dura, áspera, craquelada. O tronco de uma árvore. Foi no momento em que desviei o olhar por sobre meu ombro que Jhony agarrou a minha garganta. Seus dedos pressionaram tanto, que ele com certeza sentiu a saliva descendo. Não consegui evitar o tremor do meu corpo, não era medo. Por mais estranho que fosse, Jhony tinha um jeito que me fazia experimentar o perigo, ao mesmo tempo em que me tranquilizava.
Procurei por seus olhos imediatamente e encontrei um sorriso deplorável esculpido na sua boca. Estávamos bem perto e ele pareceu maior do que nunca.
A mão que me estrangulava, desceu da garganta intimamente por entre meus seios e prosseguiu pela camiseta. Ele não deixou de me olhar. Desceu por minha barriga, me fazendo envergar as costas naquele tronco de árvore, até a barra da minha saia jeans. A ergueu um pouco, roçando a ponta dos dedos na minha pele, e usou seu joelho para separar as minhas coxas. Senti minha respiração acelerar.
— Jhony?
Sua cabeça se inclinou para frente e encostou a testa na minha. Seus olhos percorreu todo o meu rosto. Fiquei à espera de um beijo, mas não rolou.
— Tá entendendo o tipo de problema que você me mete? — falou baixinho, já menos emburrado. Levantei o olhar, intrigada. O hálito ardente, meio esfumaçado, acariciando minhas maçãs.
— O que você quer dizer com... — Se eu tinha qualquer pergunta na ponta da língua, ela morreu assim que Jhonathan mergulhou a mão no meio das minhas pernas tão inesperadamente. Meus olhos saltaram. Ele puxou minha calcinha para o lado e me penetrou. Um escândalo atravessou os meus lábios à medida em que ele me sentia em torno de seus dedos. O meu corpo subiu em êxtase, com a ardência de uma febre, e desceu. Minhas pernas enfraqueceram e tudo que eu queria, era sentar na sua mão que me arruinava no meio da rua.
— A próxima vez que um garoto te beijar, arrancarei a língua dele sem nem pedir sua permissão, entendeu? — disse com cólera na voz, ainda deslizando no meu aperto encharcado como se fosse um escorregador.
Eu fiquei perdida, de pernas bambas. O meu coração parecia uma metralhadora disparando incessantemente.
Eu pulsava.
— Jhony...
Um par de olhos verdes ainda se mantinham fixos em mim. Os dedos saíram, só para entrarem de novo sem escrúpulos.
— A próxima vez que você deixar algum babaca acariciar esses cabelos lindos, você será a única responsável de eu cortar a mão dele. Entendeu?
Mal conseguia respirar. Coloquei as mãos em seu peito subindo e descendo rápido enquanto ele me degradava lentamente. Eu gemi em choque, em queda. Devíamos tomar cuidado, sabíamos disso. Mas o prazer falava mais alto. Eu me recusava a pedir para que ele parasse, tinha menos vontade ainda de empurrar seu corpo grande para trás.
Ofeguei sob seu toque.
— Gabrielle... Você pediu por mim, então é assim, entendeu? Tudo aqui é meu. Ou nada é.
— É tudo seu.
Ele olhou meus lábios, faminto, mas não me beijou. Os dedos iam devagar nas minhas pernas. Intensos. Eu pingava, contorcia, implorava para que ele me desse mais... Mais de alguma coisa.
Mas ele se afastou.
— Ótimo, agora vou te levar para casa e dar naquele idiota o soco que não dei!
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Jhony Trouble
RomansaFamiliarizado com a culpa, com o ódio dos pais e atormentado pelas últimas palavras da irmã desaparecida, Jhony só queria um recomeço para cuidar da pequena família que restou: a irmã caçula que foi abandonada sob seus cuidados ainda bebê. No enta...