Capítulo 41

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Jhony

Cerrei os dentes para controlar o meu temor escandaloso e o segui. Ele parou perto do corpo imóvel no chão e eu permaneci atrás, apertando as mãos para tentar parar de chorar.

— Jhonathan... O que...você fez!? — questionou com uma voz tensa e a mão alisando continuamente a barba. Nada tão drástico quanto eu esperava.

— Faça alguma coisa — supliquei aos tropeços. — Faça ela voltar. Por favor, eu tô implorando. Faço qualquer coisa que me pedir, apenas faça ela voltar...

— Calma, calma. Me deixe pensar.

Seus joelhos encontraram o chão e ele aproximou o ouvido do nariz da minha mãe. Seus lábios mexiam-se, arquejando e mostrando os dentes de brancura excessiva. Eu não fazia ideia se estava falando comigo, com ela, ou consigo mesmo.

— Ela está respirando — disse com uma entonação quase queixosa. —  Uma respiração fraquinha.

— O quê!???

— Ela não está morta.

Sem pensar duas vezes, atirei-me de joelhos ao seu lado, a fim de ouvir o que ele afirmava ouvir.

Aproximei o rosto no nariz da minha mãe e a respiração entrecortada, que eu tanto queria escutar, fez cócega ao alcançar a minha bochecha.

Impossível. Meu coração palpitou.

— Ela não estava... — Voltei a chorar, se é que em algum momento parei. — Eu tenho certeza de que não estava respirando. Eu tentei de tudo... — Desci a cabeça ainda mais para ouvir o tão esperado TUM TUM do seu coração. E lá estava ele. Seu batimento cardíaco lento e fraco comprovava que minha mãe estava viva e qualquer outra notícia não importava.  — Ela está viva. Não acredito, ela está viva. Eu não a matei. Não a matei. Não sou um monst...

Sua mão fez um gesto no ar como a me pedir silêncio. Eu fiquei sem entender. Achei que aquela fosse uma felicidade compartilhada, mas aquele homem, definitivamente, não estava feliz.

Sentado sobre os calcanhares, ele ficou em uma silenciosa reflexão. Um dedo passeava pelos lábios ressecados e conforme esse dedo ia da esquerda para a direita mais apreensivo eu ficava por sua visita. Passei o dia inteiro esperando por ele, mas, agora sua presença me causava um certo tipo de medo.

— Onde sua irmã está? — O rosto tinha virado para mim para um cochicho, como se temesse que fôssemos ouvidos.

— No quarto...

— Ela viu sua mãe caindo?

— Não, mas...

— Você chamou o SAMU?

— Sim. Deve estar chegando.

Prestei atenção quando se levantou, passou por mim e seguiu até o sofá. Ao voltar, trazia uma almofada. Achei estranho, mesmo assim, muito cuidadosamente, ergui a cabeça da minha mãe, supondo que aquela almofada fosse para deixá-la em uma posição confortável até a chegada da ambulância...

— Vigie a escada e certifique-se que sua irmã não desça — pediu ansioso e agressivo. — Fique de olho também na porta e me avise se alguém aparecer. Seja sua avó ou a ambulância.

Meu coração descontrolou e, mesmo sem entender, fiz o que mandou. A minha ingenuidade não foi capaz de prever que os próximos segundos entrariam para a lista das piores cenas que presenciei.

Aquele homem fez uma coisa assustadora.

Terrível.

Terrível e que despertou algo a mais no meu ser.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora