Capítulo 52

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3 anos mais tarde

Estava com dificuldade de manter a minha mão na sua. Estava suada, agitada. Minha mente flutuava em vários assuntos diferentes, mas um em específico foi se materializando cada vez mais.

Esse assunto ficou na minha cabeça durante as duas horas, portanto encontrava dificuldade de dar respostas mais elaboradas que somente concordar com seus comentários a respeito do filme de ação que acabamos de assistir.

— Está pensando naquilo de novo, não é? — perguntou, me segurando firme ao notar que meus dedos escorregavam.

— No que? — mandei um olhar inquisitivo, com meus cabelos curtos sendo apanhados numa brisa suave. Ainda era estranho sentir o vento na nuca, não ter mais aquela cabeleira pesada por minhas costas, mas ter cortado os cabelos na altura queixo, foi minha maneira singular de deixar a bagagem do passado para trás. — Estou pensando em como a noite está agradável. Eu adoro a primavera — tentei disfarçar. — Você não acha esse clima maravilhoso?

Ele parou de andar e entrou na minha frente, me obrigando a parar também. Os cabelos cacheados e marrons estavam muito bem-comportados com gel. O sorriso não mais metálico, tinha dentes extremamente alinhados e brancos. O brinquinho na orelha nunca mais voltou depois que o arranquei. Agora o lóbulo tinha apenas uma cicatriz de lembrança.

— Não tem que mentir para mim. Sei no que está pensando, está bem na sua cara. Você tem pensado nisso nos últimos três anos e se perguntado se tomou a decisão certa. Já disse e volto a repetir, você tomou, Gabs. Não estava pronta para ter um filho, não teria como dar um bom futuro para ele.

— Será mesmo? Que foi a decisão certa? — contraí os dedos fortemente no abdômen. — Porque sinto que sou a pior pessoa desse mundo.

Ele colocou as mãos em meus ombros e massageou para aliviar a tensão. Suas mãos eram leves, delicadas e gentis.

— Você tinha quinze anos, amor. Não tinha como esse bebê viver bem. O que você fez, foi para o bem dos dois. Fora que sabe, melhor que qualquer um, que ele não seria um bom pai — disse essa última parte com os dentes apertados.

Meu sangue esfriou. Senti as pernas endurecerem e a mandíbula travar. Marcelo nunca falava dele. Eu nunca falava. Seu nome era uma palavra proibida entre nós. Embora não tenha o dito com todas as letras, sua mera menção, me desestabilizou.

— Você está certo. Tem razão. No fundo, sei que tem — balancei a cabeça para expulsar as lágrimas se formando — Desculpe voltar nesse assunto toda vez. Deve ser desgastante ter me ouvido lamentar durante todo esse tempo.

Ele pegou na minha mão com doçura e voltamos a caminhar em direção à minha casa em passos de tartaruga.

— Você tem que parar de se torturar pensando no que passou. Você fez uma escolha naquela época, precisa lidar com ela e seguir em frente.

Minha pegada voltou a ficar frouxa.

— Era meu filho. Não peça para eu esquecê-lo. Nunca vou esquecer, não importa se não o tenho comigo. Ainda é meu filho, Marcelo. Sempre será.

Ele soltou a respiração bem devagar ao dizer que sentia muito.

— A primavera é realmente linda — mudou de assunto e eu me esforcei para fazer o mesmo. Ignorar os pensamentos torturantes que a conversa despertou.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora