Capítulo 54

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Jhony

De repente, eu não respirava. O ar ficou abafado.

— Você quer mesmo fazer isso? — usei minha última força para questionar, olhando através dos seus olhos inchados e vermelhos. — Você realmente quer?

E o Marcelo? Arquivei essa indagação.

Eu estava mais do que pronto para dar a Gabrielle uma noite inteira de amor. Minhas mãos esmagando a sua cintura, por outro lado, estavam longe de relaxar.

Merda, merda, merda, eu estava enferrujado de medo.

Não fazia ideia de onde vinha toda essa covardia, mas nada se parecia como antes. Três anos equivaliam a aproximadamente 1095 dias. Mil e poucos dias que passamos absolutamente distantes um do outro. Sem nenhum contato. Sob o mesmo céu, porém, olhando a vida de ângulos diferentes. Tantas coisas aconteceram comigo, com ela. Nós mudamos e, a existência de um neném agora fazia parte da nossa história. Meu filho.

Eu tive um filho.

Não conseguia ficar feliz, nem triste. Meu sentimento era um monte de coisa misturada que eu nem sabia o nome.

— Quero fazer amor com você. — Ela estendeu a mão e segurou meu rosto, me fitou no fundo dos olhos, e disse um retumbante sim. — Me beija, Jhonathan. Me beija.

Foi o que fiz, no mesmo instante em que me pediu. Eu deveria ir embora, não tinha ideia de como isso acabaria, mas nem tentei. Todos meus pensamentos e desejos caminhavam para ela.

Passei a língua ao longo dos seus lábios, que se abriram como uma janela para receber o sol, e dei a ela um beijo de 60 segundos. Os melhores 60 segundos dos meus últimos anos de vida, onde cada pequena veia pulsou.

O gosto com que a beijei foi de início da paixão mais intensa. E saudade descabida.

A beijei como quem fazia uma prece ao apagar das luzes, demonstrando infinitas e repetidas vezes como me peguei sonhando com isso naqueles três anos.

Durante o tempo em que a minha língua esteve dentro dela, se misturando, dando voltinhas na sua boca, na umidade do seu rosto, por todas as suas camadas, pescoço e orelha ao mesmo tempo, eu me entreguei totalmente.

Eu sabia que não devia. A voz do meu subconsciente mandava eu parar, e essa voz tinha razão. Claro que eu ia arranjar problemas. Como seria a nossa vida ano que vem? Daqui um mês? Um dia? Em alguns minutos? Não tínhamos nenhuma chance juntos, estava nítido, então qual a porra do sentido de nos tratarmos como se nada tivesse mudado?

Qual o sentido de querer ao meu lado alguém que nunca estaria segura comigo? A nossa situação ia ficar muito estranha. Francamente, a vida que eu levava não era vida para ela. Imaginar Gabrielle correndo risco por minha causa, me dava calafrios.

Apesar de saber tudo isso, apesar de lágrimas rolarem pelas minhas bochechas sem parar e se infiltrarem na nossa saliva, eu me permiti continuar. Eu a beijaria até a língua gangrenar simplesmente porque era louco por aquela garota e não havia possibilidade alguma de a resposta ser não, quando era a sua boca me pedindo.

Suas mãos puxaram-me para mais perto pela gola da jaqueta, fazendo com que nosso peito subisse e descesse em sincronia, deu para sentir seu coração bater. Batidas essas que declaravam que em meio às noites mal dormidas e sem estrelas partilhamos o mesmo sonho de nos reencontrar.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora