Capítulo final

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Jhony

— Você realmente tem um piercing aí. — Gabrielle jogou no ar.

Dei um sorrisinho de canto que ela não conseguiria ver, já que sua cabeça descansava em meu peito enquanto uma mão acariciava calmamente as cicatrizes ao longo do meu tórax. Passando pela tatuagem nova e descendo no peito com escoriações traumáticas que ainda não sumiram.

— Você gostou? — perguntei, tentando não me animar muito.

— Está aprovado. É tão bonito, que chega ser uma pena estar escondido. Na praia de nudismo você se sairia bem.

Ri só de imaginar a situação. Eu amava esse humor dela. Amava não ter papas na língua. Amava ela.

Conversamos mais alguns minutos a respeito do Apadravya, em seguida sobre como estava sendo morar com meu avô após o que fiz com ele – maravilhoso, diga-se de passagem -, sobre os estudos que abandonei e então ela quis saber como estava a Joana.

Enquanto eu enchia a boca para falar a respeito da minha irmã, em algum lugar naquele quarto, onde a luz da Lua enchia o ambiente, um celular começou a tocar. O celular dela.

Foi nesse momento, quando seu corpo enrijeceu ao lado do meu, cobertos apenas pelo lençol, que finalmente entendi como aquela situação era doentia. Não tinha chance alguma de aquilo funcionar, a gente funcionar, o que eu vinha dizendo para mim mesmo desde o início, no entanto, eu me embelezava na esperança de algum milagre acontecer. Algo que atrasasse o inevitável adeus.

Pelo menos até o término da noite.

Achava que conseguiríamos assistir ao amanhecer da janela do seu quarto. Mas, à medida que seu celular tocava, eu ia ficando mais inseguro, o estômago embrulhado. Era tão alto, que parecia tocar dentro da minha cabeça, impossível de ignorar - como claramente tentávamos fazer.

Meu lado ruim reagiu a essas chamadas e meus nervos começaram a queimar. Ficarmos juntos fluía naturalmente, mas essa situação, não era nada normal.

Parei de desenhar corações nas suas costas e a nossa conversa a respeito da nova vida popular de Joana ficou em segundo plano.

— Parece que ele não te esqueceu — falei com uma voz suficientemente ensaiada.

Deu para sentir encolhendo-se mais.

— Ignore. Depois eu digo que não ouvi... — as palavras se embaralhando. — Digo que estava no banho ou estudando. O que não seria nada estranho. Estudar é só o que tenho feito nos últimos tempos.

Minha maturidade emocional foi pulverizada em milésimos de segundos.

— O que estamos fazendo, Gabrielle?

Ela se virou, deitando-se de bruços. Os cotovelos servindo de apoio para o corpo.

— Sobre o que?

— Eu não posso ser seu amante e claramente não há espaço na sua vida para mais um namorado.

Sem ter coragem de me encarar, baixou as pálpebras e começou a puxar a linha do lençol, enrolando-a no dedo.

Jhony Trouble Onde histórias criam vida. Descubra agora