19. Compreensão

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Harry acordou algumas horas após o término da batalha.

Era de manhã cedo e sua cama estava fria e desconfortável. Exceto... que não era a cama dele. E não era o quarto dele.

Harry tentou se sentar e viu um garoto parado no meio da sala, monitorando uma mulher. Ele se concentrou nela, apesar da tontura que ameaçava fazê-lo vomitar. A mulher tocava seu rosto desesperadamente, encharcando as mãos com o sangue que emanava de seus olhos. Ou onde seus olhos deveriam estar. Harry tentou se levantar para ajudar, vendo como a córnea – ou na verdade, toda a estrutura, estava em pedaços como se tivesse sido esmagada. Ela estava cega e Harry reconheceu a maldição que a causou melhor do que ninguém.

O menino o alcançou quando Harry se levantou, fazendo-o querer jogar fora a pouca comida que havia comido. Sua cabeça estava pesada e tudo ao seu redor estava estrondoso. A boca do menino se movia sem parar, mas Harry não entendia nada; era muito opressor, ele se sentia muito sobrecarregado. Seus ouvidos doíam. Todo o seu corpo doía. Quando ele tentou dar um passo e uma dor surda percorreu sua região do pescoço, ele sabia que era porque estava ferido.

Ele teve que ser sedado para continuar dormindo.

A segunda vez que Harry abriu os olhos ainda estava escuro, então não poderia ter demorado muito. Naquela hora, Padma Patil era a curandeira presente e outra pessoa se juntou à lista de pacientes. Uma garotinha. Cinco anos de idade. Ambas as pernas amputadas. Harry não sabia dizer se era porque ela estava queimada, porque havia sido atingida por um Comensal da Morte, ou mesmo por causa do mesmo feitiço de Ron.

Ele estremeceu, observando a garota se sacudir na cadeira, se debatendo incessantemente nas coxas. Algo pesado se instalou nos pulmões de Harry e ele desviou o olhar para a curandeira. Padma estava tentando dar uma poção para a garota. Logo depois, quando percebeu que ele estava acordado, correu até ele, falando. Harry ainda não estava ouvindo.

Padma acenou com a varinha conscientemente, percebendo que não importava o que acontecesse, Harry não estava respondendo. Quando ela terminou o feitiço, o mundo ao seu redor tornou-se presente novamente.

Harry desejou ter ficado surdo.

Choro foi a primeira coisa que ouviu, um grito de queimação na garganta. Depois os gritos, do lado de fora da sala. De ordens. De dor. De raiva. Muitos. Pessoas correndo. Pessoas em agonia. Kingsley dizendo que eles deveriam abrir uma cova no pátio para os corpos. Outros dizendo que deveriam queimá-los ou desaparecê-los.

Foi terrível.

— A bomba deve ter ensurdecido você. — Padma assentiu enquanto anotava em seu caderno. — Acho que, a julgar pela sua expressão, você pode ouvir agora.

Harry notou a expressão de horror em suas feições e seu rosto ficou branco. Ele sabia que não tinha o direito de se sentir assim. Sim, ele estava ferido, mas mesmo assim se sentia melhor que os demais. Na verdade, Harry se lembrava de ter acordado com uma dor aguda no pescoço e agora, enquanto se movia, não sentia nada fora do comum.

— Você teve uma queimadura de segundo grau, quase beirando o terceiro grau, — Explicou Padma, analisando seus movimentos. As palavras soaram como outra linguagem aos ouvidos de Harry. Você reagiu rapidamente, e o escudo que você conjurou era bastante poderoso, então protegeu o resto do seu corpo. A cicatriz de pedra que você também protegeu.

Ela não parecia chocada, mesmo quando Harry sobreviveu a uma bomba explodindo praticamente na frente de seu rosto. Era provável que Padma sentisse seu poder mágico, os curandeiros eram mais sensíveis a essas coisas em geral.

— Rony-

Ele se interrompeu. Sua boca parecia cheia de algodão e sua garganta queimava. Ela percebeu a dificuldade dele e rapidamente serviu-lhe água no copo ao lado da cama. Harry percebeu que ela usava um pano verde amarrado no pulso, provavelmente para que os novos refugiados pudessem distingui-la caso precisassem de ajuda. Afinal, os bruxos da base não usavam uniforme.

Desolation | Drarry Onde histórias criam vida. Descubra agora