36. Vulnerável

181 22 26
                                    

Draco recuperou a consciência porque a Marca estava queimando sua pele ensanguentada.

Ele não tinha ideia do porquê estava em seu laboratório, ou como foi que ele chegou lá, mas Draco não sabia de muitas coisas ultimamente. Ele estava tonto, os ferimentos em seu torso estavam sangrando, e sua cabeça parecia estar debaixo d'água. Draco não conseguia pensar de forma totalmente racional, e mesmo que ele estivesse dizendo a si mesmo por meses que iria ver algum curandeiro para descobrir o que diabos havia de errado com ele, ele sabia que não era verdade, e que ele estava muito ocupado lidando com a Ordem e os sangues-ruins para se preocupar consigo mesmo.

Mas, parte dele estava prestes a consultar o que havia de errado com ele de qualquer maneira, porque quando Draco se levantou e tomou algumas poções para parar o sangramento de suas feridas — e para se sentir melhor — ele olhou para trás, para aqueles meses exaustivos... e viu tudo como se houvesse algum tipo de manto transparente cobrindo suas memórias. Em meio à fumaça e à névoa, ele se viu tentando manter a economia à tona, ajudando Lestrange com o que ele pedisse, perseguindo traidores... mas não como se ele realmente tivesse estado lá. Era estranho, e Draco sentiu como se estivesse faltando partes, pedaços dessas memórias, como se estivesse habitando a pele de um estranho. Isso o deixou, no mínimo, incerto.

No entanto, não era hora de pensar nisso. A Marca continuava a queimar. Ele era requisitado em outro lugar com mais urgência.

Ele chegou ao Ministério alguns minutos depois, avançando para a câmara Wizengamot. Ao contrário de outras vezes, o prédio estava vazio, como se os trabalhadores tivessem fugido ou estivessem se escondendo, com medo por algum motivo. A única coisa visível no Átrio eram quatorze pessoas penduradas ao redor dele. Seus corpos estavam carbonizados; Draco podia ver que em alguns dos cadáveres, os ossos podiam ser vistos através da carne preta. Seus rostos estavam tão queimados e distorcidos, a única coisa realmente reconhecível eram suas órbitas oculares derretidas. Era impossível adivinhar qual expressão essas pessoas tinham quando morreram, embora fosse possível imaginá-las: gritando enquanto eram queimadas vivas, sentindo sua pele carbonizada, seus nervos expostos e seus pulmões se enchendo de fumaça.

Draco desviou o olhar e continuou andando.

Assim que entrou na sala Wizengamot, sentiu algo dobrar suas costas para fazê-lo cair de joelhos, e no segundo seguinte, a dor familiar do Crucio o atravessou. Seu intestino começou a queimar com chamas, e sua pele parecia querer descascar. Draco cerrou os dentes e apertou o estômago para impedir que as feridas sangrassem novamente, e esperou, com o coração na garganta, que tudo passasse logo.

Não demorou muito para que isso acontecesse.

Após alguns segundos, a maldição cessou, e Draco estava novamente ciente do que estava acontecendo. Com grande dificuldade, depois de ter caído no chão, ele olhou para cima ligeiramente e viu que todos estavam ajoelhado no centro do pátio, sendo advertido pelo Lorde, cuja varinha tremia de raiva.

Respirando pesadamente, Draco tentou parar de sentir os efeitos colaterais e tremores do Crucio, para que pudesse se concentrar no que o Lorde das Trevas estava dizendo.

—...vocês não fizeram o suficiente, — o Lorde berrou. Sua voz era como ouvir garras correndo por um quadro negro. Draco suprimiu um estremecimento. — É por isso que os traidores imundos fizeram isso. É por isso que eles andaram bem debaixo do seu nariz e entraram...

Draco abaixou a cabeça rapidamente quando viu o rosto do Lorde das Trevas se virar em sua direção. Magia negra deslizava pelo chão, envolvendo-se em torno de suas vítimas. Draco teve que fechar os olhos e cerrar os dentes para ignorar o fato de que ela estava tentando rasgar as feridas em seu peito.

Desolation | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora