A Fissura

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O vento estava muito forte, eu mal conseguia abrir os olhos, meu casaco balançava com aquela ventania. Era um silêncio até que confortável para aquela situação, meu coração está mais calmo do que nunca.

"Você pode até se perguntar o que está acontecendo nesse exato momento, mas para responder isso, precisamos voltar alguns anos. Mais precisamente, para onde tudo começou..."

Dia 14 de Agosto

Nikolas acorda muito feliz e ansioso pois faltava exatamente menos de uma semana para seu aniversário de 13 anos. Rápido como sempre, se lançou da cama para desligar o despertador e se preparar para mais um dia de escola, colocou seu uniforme e foi tomar café da manhã.

Não é como se eu pudesse mudar a rotina, não estou de férias ainda, não posso fazer nada a respeito. Sempre a mesma coisa todos os dias esperando que chegue Sábado ou Domingo.

Adentrando os portões da escola, Nikolas notou alguns olhares a mais sobre ele por todo seu trajeto até sua sala de aula, até mesmo alguns de seus colegas o encaravam. O que poderia estar relacionado com o que havia dito a seu amigo no dia anterior.

Gustavo- E então é verdade mesmo que você é gay? -reconheci rapidamente a voz, era Gustavo, da sala ao lado.

Nik- Ahn sim, por que? -perguntei um pouco despretensioso não percebendo o que eu tinha começado.

Gustavo- Só quis saber mesmo... -o mesmo voltou instantaneamente para sua sala.

O sinal toca indicando o começo das aulas, e na presença do professor a sala se torna quieta novamente. Prestar atenção nas aulas sempre foi a parte mais complicada para Nikolas, que acabava encostando sua cabeça contra seus braços em cima da mesa enquanto sua imaginação o levava para viajar. Levantou a cabeça observando o relógio de parede que tinha passado apenas seis minutos.

Ana- Nik... -Ana, minha amiga, cutucou meu ombro gentilmente. O Lucas passou a manhã toda conversando com os meninos da sala do C, eu acho que eles vão fazer alguma coisa. -Disse com um olhar preocupado enquanto segurava meu ombro.

Nik- Não deve ser verdade isso. -Olho de relance para Lucas, que parece me ignorar com uma expressão de nojo no rosto. Eu confiei nele, ele disse que não ia contar... -Volto minha atenção para minha própria mesa.

Ana- Não desanima, Nik. -Suas palavras me acalmaram um pouco. Se eles fizerem alguma coisa, você me chama. -Seu sorriso me tranquilizou.

Professor- Posso saber o porquê estarem conversando na minha aula? -O professor chama nossa atenção fazendo com que a sala inteira olhasse para nós.

Depois de algumas horas o intervalo chega, Nikolas e Ana vão juntos até o pátio para lancharem, não muito discretamente, alguns meninos os seguiam. Quando sentaram nos bancos da cantina um dos meninos, com o pé, empurrou Nikolas com força fazendo com que ele caísse de cara no chão.

Ana- Qual é o seu problema seu filha da puta!? -Bate as mãos na mesa e se levanta ficando na minha frente.

Gustavo- Estou só te salvando, essa bicha vai te deixar que nem ele. -Alguns dos outros meninos riam junto dele.

Ana- Puta que pariu né Gustavo, pelo amor de Deus! -Sua cara já estava vermelha de raiva.

Eu sentia algo escorrendo pelo meu nariz, muito provavelmente sangue, eu me levanto e sinto uma sensação nos meus olhos, eu estava chorando. Fazia tempo que eu não chorava, era uma sensação estranha, principalmente na frente de todo mundo, sem olhar para trás saio correndo sem rumo enquanto escuto eles rindo ao fundo.

Com medo de apanhar novamente Nikolas procura um lugar para se esconder, a escola era grande, com certeza havia um lugar que ninguém conhecia. Depois de bisbilhotar por alguns cantos, ele encontra uma porta atrás da escada que revela um banheiro esquecido e decide se esconder lá até acabar o intervalo e sorrateiramente voltou para sua sala tendo certeza de que não foi seguido.

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