Verdades que Ninguém Contou

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Com a chegada da noite, poucas estrelas começaram a surgir no céu, Nikolas mal podia esperar para testar os limites do observatório. Sua alma pedia por isso, queria ser livre. Sentia que esse desejo precisava ser saciado.

Foi bruscamente retirado de seus pensamentos quando escutara o porta-mala sendo fechado com força, seu pai já estava indo em direção a porta do bloco dos apartamentos. Olhando atrás do carro, lá estava sua mochila, jogada no chão, com um suspiro, Nikolas a recolhe e vai caminhando até a entrada. Seus passos eram lentos, como se tentassem avisar o subconsciente daquele perigo a tempo, mas ele não tinha outra escolha.

Se eu me comportar direito nada vai acontecer, apenas não deixe ele irritado, é fácil. Você consegue Nikolas! Só precisa ficar no seu cantinho que ele não vai ter motivos para fazer nada.

Nikolas- Por que você deixou minha mochila no chão? Era só me entregar. -Disse tentando não parecer tão agressivo.

—A mochila é de quem? Então cuida das suas coisas! -Diz, ignorante como sempre.

Era impossível de argumentar contra ele. Apesar de que apenas traria dor de cabeça. Nikolas se afastou, organizando o pequeno quarto que fora deixado para ele e sua irmã, mesmo que desta vez estivesse sozinho. Trouxe poucas coisas já que não pretendia ficar muitos dias naquele lugar. Ele observa através da janela o lindo céu estrelado, fazendo ele sentir saudade do raposo amarelo.

Qual era o nome dele mesmo? Nikolas se perguntou, com a memória um pouco borrada. Aquilo realmente existiu ou era apenas a sua cabeça inventando coisas? Ele sempre viajou para o observatório, nunca existiu algo além daquelas paredes, não é? Não tinha com o que se preocupar, estava seguro junto com a entidade. Ela cuidava dele, dava tudo a ele, era tudo o que ele tinha e poderia ter.

Seu pai entra no quarto, já bebendo sua primeira lata de cerveja. Nikolas observou com um olhar de desprezo, julgando silenciosamente o pai, mesmo sentindo calafrios ao lembrar a última vez. Ele odiava quando ele bebia, acabava se tornando ainda mais ignorante.

Para sua felicidade, isto não aconteceu naquela noite, e depois de algumas latas, seu pai já estava dormindo bêbado no sofá com a televisão ligada em algum canal obsceno. Nikolas virou o olhar rapidamente e se aconchegou debaixo de suas cobertas, que já não eram muitas. Ele encarava o teto, pensando se tivera feito isso alguma vez em outro lugar. Se lembra no máximo de estar com alguém. Mas quem seria? Se não conseguia se lembrar não era tão importante, não é?

Ele se vira de lado, lentamente sendo transportado de novo em frente ao espelho. A figura parecia feliz com a sua volta.

—Eba! Eba! Agora vamos poder brincar! Do quê quer brincar? -Ele disse em meio a risadas, cada uma mais distorcida que a anterior.

Nikolas- Pode escolher qualquer uma, vamos brincar de todas! -Respondia na mesma intensidade, encantado pelos truques da criatura.

E assim foi feito, brincaram por horas, alheios das tragédias e batalhas que estavam sendo travadas depois daquelas paredes. Um local exilado mas que agora tinha companhia, uma alma jovem, que aos poucos estava sendo corrompida e utilizada como fonte de poder para a terrível figura.

Nikolas sentia um cansaço e uma pequena dor espalhando-se pelo seu abdômen.

—O que foi? Não se sente bem? -A entidade rodopiava no ar.

Nikolas- Eu não sei... deve ser fome, não comi nada faz horas. Brincamos tanto que acabei esquecendo de comer. -Ele ria enquanto a barriga roncava.

—Você já vai? -A figura choramingou. —Fica mais, por favor! -Agarra o braço de Nikolas, que sente um pouco de dor no aperto.

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