O Espelho da Realidade

Rumores de um Povo

No dia seguinte, Nikolas acordou animado, pronto para começar seu trabalho como Viajante. Ele imaginava que o dia seria cheio de aventuras e novos desafios. Se arrumou rapidamente, com um sorriso no rosto, e se dirigiu para o local onde deveria começar seu trabalho. Ao chegar, sua empolgação começou a diminuir quando viu que seu destino era um escritório.

Mais especificamente, a mesma sala onde Kai trabalhava. O escritório era razoavelmente chique, com móveis elegantes e paredes decoradas com mapas e documentos importantes. Uma grande janela oferecia uma vista panorâmica e privilegiada de Ezradream, com seus edifícios imponentes e jardins bem cuidados, mas isso não foi suficiente para animá-lo. Ele se sentou em sua mesa, tentando esconder seu desapontamento. Kai estava lá, já mergulhado em papéis e relatórios. Depois de alguns momentos de silêncio constrangedor, Kai olhou para ele e sorriu.

Kai- Então... gostando do primeiro dia? -Ele pergunta, tentando quebrar o silêncio.

Nikolas- Claro... -Respondeu, forçando um sorriso. Bem tranquilo. É interessante. -Ele se esforçava para não dormir em cima de sua mesa.

Eles conversaram um pouco sobre o trabalho, Kai explicou algumas tarefas básicas e o funcionamento do escritório. Nikolas tentou se concentrar, mas não conseguia afastar a sensação de tédio que crescia dentro dele. O silêncio voltou a reinar na sala, e Nikolas se viu olhando pela janela, desejando estar lá fora, envolvido em alguma aventura emocionante.

Será que em Gehenna eu estaria fazendo outra coisa? Quem sabe na próxima seleção eu possa até escolher um reino...

Nikolas- Eu vou buscar algo no refeitório, você quer alguma coisa? -Olhava para o relógio na parede, vendo que já se aproximavam do meio-dia.

Kai- Não, mas tome cuidado por onde você anda... -Seu tom tinha uma leve expressão de raiva.

Nikolas, achando que Kai estava apenas de mau humor, deu de ombros e saiu da sala sem dar muita atenção ao aviso. Ele caminhou pelos corredores, admirando a arquitetura elegante do prédio. O piso de mármore brilhava sob a luz suave que entrava pelas janelas altas, e o ambiente parecia calmo e tranquilo. Enquanto seguia em direção ao refeitório, Nikolas começou a sentir um leve resquício do cheiro de enxofre no ar. Ele franziu o nariz, mas continuou andando. Foi então que, ao virar uma esquina, ele se chocou com algo, ou melhor, alguém.

Ele recuou um passo e levantou o olhar, encontrando-se frente a frente com dois Gehennianos. O primeiro tinha chifres vermelhos como sangue que se destacavam contra seu cabelo escuro. Ele exalava um fraco cheiro de enxofre, e suas feições eram uma mistura de humano e lobo, com olhos penetrantes que pareciam brilhar em um tom de âmbar. Já o outro tinha uma aparência mais humana, diferenciando apenas pelos chifres negros e dentes levemente pontiagudos, mas ele não exalava quase nenhum cheiro.

Nikolas- Me descu...

—Olha só o que temos aqui... -Os olhos âmbar do demi-humano focam nele. O grande e poderoso Viajante... parece bem patético para mim. -Ele diz com um tom de nojo na voz.

—Vamos embora antes que ele passe a maldição para a gente... -Disse o menor, segurando no braço dele.

Nikolas se esforçou para manter a compostura, lembrando-se dos avisos de Kai. O Gehenniano o observava com um olhar avaliativo e então sorri, permitindo que seu companheiro o levasse. Nikolas encarava suas costas com ódio nos olhos, segurando todas as suas palavras na garganta, mas endireitou-se e continuou a andar até o refeitório com uma leve sombra de raiva e confusão nos seus passos.

Ele não pôde evitar em pensar no que os dois disseram. Maldição? Eu havia sido amaldiçoado? Pensou ele, ficando um pouco preocupado.

Mas como eu quero dar um soco naquele cara... só a voz dele já me irrita. Vou precisar me controlar se eu acabar encontrando com ele uma próxima vez.