Obliviscatur Praeterita

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É sempre do mesmo jeito... de quem são essas memórias?

—Acorda! A comida vai esfriar! -Uma voz feminina ecoa do andar de baixo.

É uma voz muito familiar. Onde será que eu já escutei ela?

—Não me faça subir aí,      ! -Parecia estar nervosa com a demora dele.

Nunca soube o que ela disse naquela hora, normalmente era a parte mais interessante, mas nada se compara com o que vem depois.

Ele levantou-se de sua cama e foi correndo lá para baixo, a figura alta de cabelos ruivos coloca as mãos na cintura. Ela tinha dito algo naquele momento, não? Ele tentou se lembrar, mas sua cabeça doía demais. A moça usava um avental florido que ele tinha certeza de que era importante, uma marca registrada que facilitaria a organização dos pensamentos, mas que por algum motivo ele não conseguia se lembrar.

Quantas vezes tenho que assistir isso?

Ele se senta na cadeira, pronto para se deliciar com a culinária da mulher enquanto ela o assistia de perto.

—Está gostoso,       ? -Sorria gentilmente ao lado dele. A mamãe cultivou essas cenouras lá no jardim. -Acariciava a cabeça dele afetivamente.

—Você é demais, mamãe! -Com muita fome, ele devora rapidamente a comida.

Por que eu tenho que ver isso? Eu não posso... não aguento.

Após sua refeição, ele corre até o jardim para brincar, alheio do que estava prestes a acontecer. Durante seu tempo lá fora, um cheiro de fumaça começava a pairar pelo ar, então ao se virar, sua casa estava em chamas. Sem pensar duas vezes ele corre em direção a sua casa para salvar aquela mulher, mas antes que pudesse entrar, o grito estridente dela ecoa pelos cômodos.

—       ! NÃO ENTRE! -Sua voz, rouca por ter respirado muita fumaça, quebrava aos gritos de dor. FUJA,     ! CORRA PARA O MAIS LONGE DAQUI! -Então suas palavras são seguidas por um longo grunhido de desespero.

Ele observa que algo cai pelos degraus da escada. Era ela, completamente em chamas. A cena arrepia todo seu corpo, que ficava paralisado em frente a porta. Seu rosto estava praticamente derretido, e seu avental, já não era mais o mesmo, de seus braços haviam sobrado apenas a carne, que continuava a queimar e sua expressão era de puro terror, desespero por sobrevivência, mas já era tarde demais.

Sua visão fica um pouco borrada pelas lágrimas e, só então, ele grita.

POV: DANKI

Danki acorda num pulo, suando e ofegante, com o coração disparado. Esse pesadelo era recorrente, uma memória fragmentada que assombrava suas noites. Ele se levantou lentamente, caminhando até a cozinha. A luz fria da geladeira iluminou seu rosto cansado enquanto ele pegava uma xícara de café. O amargor familiar do café quente era um dos poucos confortos que tinha. Ele se sentou à mesa, a cabeça apoiada nas mãos.

Essas noites... as mesmas memórias. Por que não consigo me lembrar direito? Quem era aquela mulher?

Danki tentou se focar no presente, mas a mente insistia em vagar de volta para aqueles momentos horríveis. O café era seu companheiro fiel, mantendo-o acordado e longe dos pesadelos que o esperavam sempre que fechava os olhos.

Talvez um dia eu consiga respostas. Até lá... só posso continuar. Um passo de cada vez, uma xícara de café de cada vez.

Ele tomou um gole longo, sentindo a bebida quente descer pela garganta, e olhou para a janela, esperando o sol nascer. Mais uma noite sem dormir, mais um dia para tentar entender esse quebra cabeça de memórias.

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