ESPECIAL DE NATAL.

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CAPÍTULO 1- UMA BRASILEIRA PERDIDA EM NOVA YORK;

Cometer erros é fácil. Tropeçamos em erros do mesmo modo que respiramos, inconscientemente e conscientemente.

Errar é parte da natureza humana.

Queria ter pensado no tamanho do meu erro ao flertar com meu chefe.

O que eu estava pensando exatamente?

"Ah, eu só vou ficar aqui temporariamente, então, por que não?"

"Só vivemos uma vez."

"Ele é muito gostoso."

Tudo isso, misturado num turbilhão de tesão e estresse da mudança. Vou ser honesta, ser brasileira nos EUA não é nada simples. Me olham como se a qualquer momento fosse começar a dançar funk e tirar minha roupa.

Encaro o lado de fora pela janela dos Linons, a visão de Staten Island sempre me surpreende, a rua cheia de casarões de madeira, lembrando de um filme natalino, hoje, o clima esfriou e a neve desce calmamente do céu até a grama verde, cobrindo todo o solo.

Derivo sobre como adoraria ter crescido num lugar assim, os carros passam ocasionalmente, um grupo de crianças correm deixando suas bicicletas no quintal, até os pássaros parecem se juntar e assobiar uma cantiga antiga.

Já os Linons? Eles tiram sua decoração de natal...em fevereiro.

- O natal é a melhor época do ano, não concorda, Carol? - Gabriela Linons conversa comigo em português, seus olhos castanhos parecem chorar enquanto ela retira cada ornamento da árvore, um por um. - A cada ano atraso mais para desmontar as coisas.

- Só limpar todas as decorações já dura quase três dias, tia. - Digo, levantando do banco ao lado da janela e indo a ajudar.

- Como está indo o novo emprego, Carol? - Seu marido, Benjamin, ou tio Ben, pergunta quando entra na sala, trazendo uma nova caixa de papelão para guardar as decorações.

- Está indo bem. - Digo rapidamente, desviando o assunto tanto da conversa quanto da minha mente.

- Sério? Pensei que demoraria um pouco para se adaptar. - Minha tia diz. - Sei como é difícil a princípio.

- Todos são muito gentis, e estão acostumados com estrangeiros. - Respondo.

Tia Gabi olha para a árvore, agora, as folhas verdes estão caídas e a madeira gasta, mesmo assim, a mulher observa calmamente, segurando uma pomba branca que estava pendurada e em seguida, colocando-a na caixa com plástico-bolha.

- Quando crianças, Daniel e Dália corriam para arrumar a árvore, eles deitavam no chão da sala o dia inteiro brincando com os globos de neve, e quando tardasse, e Ben chegava em casa e ligava a lareira, eu fazia quatro canecas de chocolate quente, e nós montamos a árvore juntos. Daniel sempre buscava uma escada porque Dália insistia que eles deveriam colocar a estrela no topo, mesmo que nenhum alcançasse, uma vez, os dois caíram e passaram o natal no hospital com os braços enfaixados, nunca mais colocaram a estrela no topo da àrvore. - Ela conta calmamente. - É horrível como o medo nos impede de fazer coisas que amamos, e depois que somos machucados, tudo que resta é medo.

- Não gosto de sentir medo. - Por isso estou cometendo erros.

- Ninguém gosta, mas precisamos sentir.

- Sabe o que eu não gosto de sentir? - Tio Ben pergunta inesperadamente.

- O que?

- O gosto do chester natalino da sua mãe, não sei como ela alcança o mesmo sabor de carvão ano após ano.

Falso Contrato de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora