Minha redenção

Capítulo 1

- Agust o que você pode fazer? - pergunto a mim enquanto giro a ponta da faca sob a mesa de madeira - Posso torturar, ou quebrar, ou até mesmo escutar os gritos como se fossem músicas clássicas para meus ouvidos, ou acabar com tudo agora mesmo... Mas, eu posso tirar tudo que me tiraram, pequena pedrinha. - falo enquanto encaro aquela foto em minha frente e em seguida enfio a faca naquele rosto.

Um prato quente ou frio? 

É melhor saborear aquele gosto ainda quando está quente, pulsando aceleradamente em seu corpo, com as veias saltadas o suor escorrendo, a respiração descompensada e adrenalina gritando, ou, o sabor é mais doce quando aquele suor seca, a respiração volta ao normal, suas veias não estão a mostra e quando menos esperar um abocanhado seria o suficiente.

 Agir ou esperar? Eis a questão.

Quando se tiram tudo de você, qual atitude tomar; uma imediata ou aguardar a longo prazo, esperar até que sua presa esteja tão vulnerável que quando perceber não terá como reagir? 

Ah desculpe, eu não estava falando sobre comida e sim sobre caçar os inimigos no momento certo. Talvez seja meu lado metódico e calculista que me impeça de resolver certas questões agora, e confesso que se tivesse resolvido isso há 18 anos hoje não sentiria o sabor doce.

Sim, eu estava decidido e pronto para realizar minha vingança, talvez vingança soe como algo ruim e deprimente, no meu caso vingança poderia ser a troca justa de um doce por um whisky antigo.

Faz mas de dez anos que estudo essa rotina e sei o ponto fraco do meu maior inimigo, sei seus passos, conheço seus contatos e seus amigos e claro, aqueles amigos que o trairiam na primeira oportunidade envolvendo dinheiro ou mulher, conheço seu coração e sei exatamente qual o ponto de vulnerabilidade existe nele. O mal de baixar a guarda meu querido, Leornad Montrerreal é achar que nunca será atacado, talvez você não seja atacado diretamente, mas seu coração se partilhará em mil pedaços assim como o meu, e cada marca em meu corpo brilhará com cada lágrima sua derramada. Um brinde aos antigos negócios e que a partir de agora eles prosperem.

Uma cidade movimentada como Seoul foi a escolha ideal para o brasileiro se esconder ou tentar apagar as marcas do passado, uma cidade movimentada com superlotação, quem iria imaginar que um ser tão abominável feito ele viveria aqui? Um pai de família e dono de negócios legítimos, o homem que doa tantos wons para as casas de caridade, um rosto angelical e perfeito, esconde até o mais profundo inferno, porém no meu caso, eu não só tenho o rosto como a alma infernal e quebrada, então nesse jogo eu só tenho uma opção que é dar o xeque-mate.

O inverno rigoroso sul coreano chegou, as ruas estão brancas com a neve e pessoas felizes andam e correm por ela, me sinto pisando no céu, pena que não é para lá que irei, mas posso ter a sensação do que é pisar em uma nuvem. Sento no banco com meu café forte e gelado, observo aquela cena peculiar de filme, a jovem Rubi de mãos dadas com seu verdadeiro amor o querido e magnifico Jin, pouco sei sobre esse rapaz, todavia os dois estão  brincando na neve tão branca quanto a pele dela, seus cabelos longos e pretos que fazem o contraste perfeito nessa cor opaca e sem vida. 

Eu sei que ela só está sorrindo para parecer que tudo está perfeito, mas na verdade ela está escondendo a dor de ter perdido a irmã numa cirurgia do coração no dia de hoje há alguns anos, um dia triste e pouco falado por eles, não entendo esses estrangeiros que vem ao meu país e não seguem nossa tradição, celebramos o aniversário de morte dos nossos entes, eu digo isso porque há dezoito anos faço isso, mesmo um garoto como eu era precisava ter coragem de enfrentar esses demônios, hoje eles são meus amigos. Minha pequena lembrança é interrompida pelos risos do casal do ano, quando olho vejo Rubi sendo carregada por Jin até o carro, e os vejo partir.