Capítulo 22

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- Está morto. - escuto a voz de Javier atrás de mim enquanto tomo meu café - Ele está morto senhor Min, não durou nem uma semana no presídio.

Coloco a xícara do café suavemente em cima da mesa, antes de olhar para minha pedrinha que me olha com os cantos dos olhos e engole o café amargo que preparei para nós tomarmos nessa manhã, dou um sorriso de canto discreto.

- Como soube dessa notícia? - pergunto.

- Nossos contatos me informaram que assim que o senhor Park colocou os pés no presídio já entregaram a cabeça dele e foi questão de horas até planejarem sua morte por todas as coisas horríveis que ele fez com aquelas crianças e mulheres.

Rubi ainda me encara em silêncio, coloco minha mão sobre a dela.

- Você precisa saber que neste mundo em que vivemos e trabalhamos, fazemos muitas coisas erradas minha pedrinha, mas uma coisa que não permitimos é usem crianças e mulheres para conseguirem o que querem. - aperto sua mão - Entende? 

- Sim. - sua voz sai falha e trêmula.

- Não precisa ter medo, essas coisas acontecem porque lutamos por poder e alguns acabam querendo cortar o caminho e usar pessoas vulneráveis para chegar ao topo, isso não passa impune todos que mexem com isso acabam perdendo a vida, não tenha medo nem dó deles.

Cerro meus olhos e ela solta um gemido assim que aperto sua mão novamente.

- Não tenho dó, só fiquei com medo e...

- Você tem a mim ao seu lado, não precisa ter medo de nada nem de ninguém. - mordo o lábio - Javier conversou com nosso hacker sobre os próximos passos? - Javier balança a cabeça confirmando. - Ótimo. - estralo meu pescoço de um lado para o outro.

Ele pede licença e se retira da cozinha deixando com que Rubi e eu ficássemos novamente a sós. Ela bebe mais um pouco do café amargo e não diz nenhuma palavra a mais, faço o mesmo e tiro minha mão de cima da dela. 

Assim que terminamos de tomar nosso café a convido para passear nas montanhas que ficam próximas dos ao redores da casa, ela apenas concorda com a cabeça ainda em silêncio. Seguro em sua mão entrelaçando nossos dedos e a guio até fora dali.

Alguns metros de distância da casa até o começar a subir o morro que leva até o topo da montanha, ela não é alta, mas a subida demora alguns minutos. Lembro-me de quando era mais jovem e subia para tentar organizar os pensamentos e manter o equilíbrio entre meu ódio e minha vingança, fazia alguns exercícios para não perder o controle, hoje estou levando uma diabinha para conhecer um dos meus lugares favoritos e secretos, mas o que está me deixando intrigado é  por que essa garota está tão quieta, por que sua língua afiada não está me provocando ou fazendo acusações? O que se passa naquela mente?

A ajudo a subir nas pedras para que ela não caia e ela segura em meus braços para pegar equilíbrio, ficando próxima de meu rosto, mas rapidamente ela se afasta. 

- Você é bem hipócrita. - digo com a voz firme e ela para de andar e me olha - Sim, você é hipócrita Rubi, está com pena de um homem que torturava mulheres e usava crianças para prostituição e tráfico e vira a cara para o homem que te salvou desse inferno.

Ela se aproxima de mim a passos largos.

- Não sou hipócrita Agust e nem estou com pena dele. - range os dentes.

- Se não sente pena nesse seu coração, por que está assim? - pergunto franzindo a testa.

Ela abaixa a cabeça e balança negando, em seguida me encara.

- Você não entenderia. - diz firme - Não coloque isso em sua cabeça, porque eu não tenho pena das pessoas malvadas, não diga que estou ao lado deles ou qualquer outra besteira desse tipo. Eu só não quero conversar agora.

- Mas eu preciso que fale comigo, que me diga o que sente ou o que quer, eu não sou mágico para adivinhar.

Ela passa por mim e não me responde, sobe mais um pouco até chegar ao topo. Suspiro e a sigo, coloco minhas mãos nos bolsos e caminho até Rubi que olha para o horizonte suspirando e fechando os olhos quando a brisa choca com seu rosto.

- Não somos crianças, precisamos de diálogo. - digo olhando para ela que delicadamente abre os olhos.

- Realmente não somos crianças Agust, somos adultos e temos responsabilidades. - ela diz e se vira para mim - Desde as responsabilidades com o trabalho, como com a casa e até... - dá uma pausa e suspira, como se aquilo que fosse dizer fosse doer - Com os sentimentos dos outros.

- O que quer dizer com isso? - pergunto e contraio o lábio.

Ela resmunga e vira o rosto.

- Eu te fiz uma pergunta e ordeno que me responda. - digo grosso e seguro em seu braço.

- Esse é o seu problema. - responde rude - Agust esse é o problema. 

É a minha vez de ficar em silêncio e confuso.

- Eu... - ela gagueja - Eu fui sequestrada por você, não posso dizer que foi péssimo como também não posso dizer que foi lindo, mas eu fui tirada da minha família de repente. Eu descobri a verdadeira face deles, descobri quem meu noivo é, e quem são meus pais, descobri a verdade sobre minha irmã e sua morte, você me ensinou sobre os prazeres e descobri como são bons Agust, depois disso matei meu padrinho e agora estou envolvida com você nessa teia de aranha. - suspira.

- E o que há de errado nisso? - pergunto ainda confuso.

- Você. - ela responde rápido - Você é o problema. - ela repete - Esse seu jeito, sua marra, sua sede por vingança, sua vontade insaciável por me ter, seu poder sobre mim e...

Me aproximo dela e seguro em seu rosto.

- Você me deu prazeres Agust, você me salvou das amarras da minha família, você me ensina a ser forte e até a ser desejada. - ela diz manhosa.

- E o que acontece para você me evitar desse jeito? - passo o polegar em sua bochecha.

- Eu tenho tudo de você e sinto tudo de você, só não sinto o seu amor por mim.

Não esperava por aquela resposta, naquele momento e naquele lugar. Não esperava escutar aquilo daqueles  malditos lábios, não esperava isso de Rubi, e o pior é que eu não sei o que responder ou o que fazer, porque tenho medo de magoá-la com minhas atitudes.

 Acontece que eu sou assim, esse sou eu e sempre deixei claro para ela que eu não sou o mocinho da história que ela queria, eu sou o vilão que não tem coração, o frio e calculista, egocêntrico, narcisista, machucado, cheio de cicatrizes visíveis e invisíveis, sou egoísta. 

Eu não amo ninguém e não entrego meus sentimentos para ninguém.

- Você me proporciona prazeres que nunca pensei em sentir, você me toca de uma maneira que me queima, meu corpo entra em combustão Agust, mas você nunca me tocou com amor, nunca. - ela diz baixo - Eu sempre sou seu escape Agust, quando está feliz ou triste, quando está com a adrenalina a flor da pele...  Você me procura nesses momentos nunca é em um dia comum. - ela afasta minhas mãos de seu rosto - Eu pensei que eu pudesse não me apegar a você, pensei que isso uma hora acabaria e eu não sentiria mais nada por você, mas a realidade é outra... - ela dá uma pausa -  Eu nunca estive nesse mundo, nunca fui avisada sobre os perigos e riscos que o coração da gente pode fazer, eu... Eu nunca pensei que um carrasco como você pudesse ter meu coração. - ela se desespera - Porra Agust, eu te amo.



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