Capítulo Um

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  Quando o corpo de Manu chocou com a água esverdeada e gelada da enorme piscina, ela teve certeza de que havia sido uma péssima ideia pular ali. Primeiro porque era nojento, mas ela já havia enfrentado coisa pior. E segundo, seus olhos roxos derreteriam. Mas eles não estavam roxos por causa de uma surra, embora não tivesse coragem de bater no bando de menores que a perseguia, Manu também não iria apanhar. Não, aquilo era maquiagem pura, parte do disfarce de emo que ela havia criado para conseguir entrar na gangue. Gangue essa que a perseguia furiosamente nesse exato momento.

  Por sorte, nenhuma das garotas foram rápidas o bastante para alcançá-la e nenhuma delas viu quando Manu pulou na piscina abandonada da senhora Darci. Mas o perigo ainda não havia passado. Manu conseguiu se manter submersa graças a escada conectada ao fundo, na qual se segurou, mas ela não havia tomado fôlego suficiente. Quanto tempo aguentaria? A resposta apareceu em forma de bolhas que saltaram do seu nariz, era o restinho de ar que lhe restava indo embora. Então se debateu, desesperada para alcançar a superfície e quando alcançou, precisou se conter para não fazer barulho. O ar fez seus pulmões inflarem, mas ela manteve apenas o nariz para fora da água, enquanto analisava o perímetro. Nem sinal das garotas. Finalmente desistiram, pensou, enquanto subia a escada lentamente.

  Assim que colocou os pés no cimento, porém, um borrão rosa saiu da varanda dos fundos, indo na sua direção.

  — Então você estava aí! — gritou a garota, dona do cabelo rosa mais choque da história. Ela era uns trinta centímetros mais baixa que Manu, mas isso não afetava em nada o juízo da jovem, que avançou com os punhos fechados para cima dela.

  — Calma aí baixinha — zombou, se esquivando sem muito esforço.

  — Você vai ver a baixinha! — exclamou a guria, alcançando um pedaço de pedra enorme no chão.

  Manu revirou os olhos ao vê-la fracassar no arremesso, a pedra era mais pesada do que aparentava.

  — Achei a traidora!

  O grito vindo do outro lado da piscina fez Manu se virar. Lá estavam as outras cinco, e em poucos minutos ela se viu cercada.

  — Não sou traidora, só estava fazendo meu trabalho.

  — Quer dizer que é da polícia?! — indagou Roberta, temerosa. Ela devia ter uns quinze anos.

  — Não é só a polícia que desvenda crimes, repórteres também — respondeu Manu, dando alguns passos para trás. — Saberiam disso se passassem mais tempo vendo TV ao em vez de ficar dando golpes na internet.

  — Então você é reporter — pontuou Brenda, a única maior de idade e a mais perigosa do grupo. Sua voz não demonstrava medo, muito menos remorso. — Engraçado, assisto a muitos noticiários mas nunca a vi em nenhum deles.

  — E por acaso só existem repórteres na TV? Quem você acha que faz as notícias que aparecem na internet? — Manu percebeu a voz ficando mais alta, mas não se importou. Não iria se esforçar em ser educada com uma delinquente.

  — Que bom que não é da TV, do contrário todos iriam ver a cara desfigurada que você está prestes a ganhar — ameaçou, um pouco antes de receber um cabo de vassoura da companheira e atacar Manu com ele.

  O alvo era a cabeça, mas o golpe foi bloqueado pelo braço da repórter, que permaneceu rígido e imóvel apesar de ferido. Ela não sentiu dor? se perguntou Brenda, mas o sorriso que Manu exibiu em seguida fez a garota arrepiar.

  — Outra coisa que deveria saber sobre repórteres... — avisou, fazendo um movimento rápido com o braço atingido, entrelaçando-o ao cabo até agarrá-lo firmemente. — Eles são loucos. — E tomou-o da garota, fazendo menção de acertá-la.

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