Manu admirava a grande árvore do lado de fora do restaurante com certa peculiaridade. Os galhos, fortes e robustos, se destacavam na paisagem, mas eram as pequenas folhas delicadas que capturavam sua atenção, formando um quadro quase poético no horizonte. O engraçado era ela reparar nisso em um momento tão aleatório, enquanto cumpria a promessa de almoçar com o amigo.
— Estranho — comentou Leonard, sem tirar os olhos dela — Você nunca foi muito ligada em árvores, mas não para de olhar para essa desde que chegamos.
Ela voltou o corpo para frente, ajeitando-se rapidamente.
— Jura? Nem percebi.
Ele assentiu, um sorriso divertido nos lábios.
— E também anda distraída. Algum motivo especial?
Manu balançou a cabeça, negando. Mas o gesto hesitante não o convenceu.
— Vamos lá, somos amigos. Por que não me conta o que estava pensando enquanto olhava a árvore?
A repórter engoliu em seco, pois se dava conta de que a árvore a fizera lembrar da última vez em que esteve em cima de uma... e dos acontecimentos envolvidos na ocasião.
— Por que você quer saber?
Leonard deu de ombros e mirou o bife que cortava, enquanto respondia:
— Seus olhos estavam diferentes, parecia pensar em alguém.
Ela quase engasgou com a salada.
— Bobagem... A única pessoa na qual consigo pensar agora é no Dark. Tenho que pegá-lo a qualquer custo.
Leonard colocou o pedaço de carne na boca e mastigou em silêncio, enquanto a analisava.
— Mas, por curiosidade... se uma pessoa pensa muito em alguém, o que significa? — acrescentou ela, evitando contato visual.
O advogado riu, um tanto descontraído.
— Significa que minhas chances acabaram de cair para quase zero — brincou, suspirando, o que a deixou um pouco sem jeito.
— Não estou falando de mim! É sobre uma amiga — apressou-se em justificar, desviando o foco.
— Claro que é — respondeu ele, reprimindo um sorriso. Mas logo falou com mais seriedade: — Diga à sua amiga que ela gosta dessa pessoa.
Manu arregalou os olhos, chocada com a simplicidade com que ele falava aquilo, mesmo sem conhecer todos os fatos.
— Talvez ela só esteja solitária — sugeriu, dando outra garfada em sua refeição.
Após mastigar por alguns segundos, reparou que ele a encarava com demasiada atenção.
— Não acho que seja isso. Ela parece ser do tipo que não se contenta com qualquer opção — observou, mas a repórter deu de ombros como se não fizesse diferença. — Ah, mas ela precisa tomar cuidado para não deixar que a insegurança a faça perdê-lo.
— Que insegurança? — rebateu bruscamente, mas logo percebeu o deslize e corrigiu-se: — Quer dizer, por que você acha isso?
— É só um palpite.
Manu assentiu, ainda contrariada. Ela havia pedido a opinião dele, então não podia reclamar. A sinceridade era, afinal, o que mais apreciava em Leonard. Sendo assim, terminaram o almoço sem mais divagações.
Ao saírem do restaurante, ele se ofereceu para levá-la até o trabalho, mas ela recusou.
— Vim de carro — explicou, enquanto caminhavam em direção ao estacionamento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DARK
RomanceManu já é uma repórter dedicada os 25 anos de idade. Seu maior objetivo é descobrir quem são seus pais biológicos e o que aconteceu com eles. Para isso, ela anseia alcançar um espaço na TV, o que não é nada fácil quando se trabalha apenas com jornal...