Capítulo Dezoito

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  Manu admirava a grande árvore do lado de fora do restaurante com certa peculiaridade. Os galhos, fortes e robustos, se destacavam na paisagem, mas eram as pequenas folhas delicadas que capturavam sua atenção, formando um quadro quase poético no horizonte. O engraçado era ela reparar nisso em um momento tão aleatório, enquanto cumpria a promessa de almoçar com o amigo.

  — Estranho — comentou Leonard, sem tirar os olhos dela — Você nunca foi muito ligada em árvores, mas não para de olhar para essa desde que chegamos.

  Ela voltou o corpo para frente, ajeitando-se rapidamente.

  — Jura? Nem percebi.

  Ele assentiu, um sorriso divertido nos lábios.

  — E também anda distraída. Algum motivo especial?

  Manu balançou a cabeça, negando. Mas o gesto hesitante não o convenceu.

  — Vamos lá, somos amigos. Por que não me conta o que estava pensando enquanto olhava a árvore?

  A repórter engoliu em seco, pois se dava conta de que a árvore a fizera lembrar da última vez em que esteve em cima de uma... e dos acontecimentos envolvidos na ocasião.

  — Por que você quer saber?

  Leonard deu de ombros e mirou o bife que cortava, enquanto respondia:

  — Seus olhos estavam diferentes, parecia pensar em alguém.

  Ela quase engasgou com a salada.

  — Bobagem... A única pessoa na qual consigo pensar agora é no Dark. Tenho que pegá-lo a qualquer custo.

  Leonard colocou o pedaço de carne na boca e mastigou em silêncio, enquanto a analisava.

  — Mas, por curiosidade... se uma pessoa pensa muito em alguém, o que significa? — acrescentou ela, evitando contato visual.

  O advogado riu, um tanto descontraído.

  — Significa que minhas chances acabaram de cair para quase zero — brincou, suspirando, o que a deixou um pouco sem jeito.

— Não estou falando de mim! É sobre uma amiga — apressou-se em justificar, desviando o foco.

  — Claro que é — respondeu ele, reprimindo um sorriso. Mas logo falou com mais seriedade: — Diga à sua amiga que ela gosta dessa pessoa.

  Manu arregalou os olhos, chocada com a simplicidade com que ele falava aquilo, mesmo sem conhecer todos os fatos.

  — Talvez ela só esteja solitária — sugeriu, dando outra garfada em sua refeição.

  Após mastigar por alguns segundos, reparou que ele a encarava com demasiada atenção.

  — Não acho que seja isso. Ela parece ser do tipo que não se contenta com qualquer opção — observou, mas a repórter deu de ombros como se não fizesse diferença. — Ah, mas ela precisa tomar cuidado para não deixar que a insegurança a faça perdê-lo.

  — Que insegurança? — rebateu bruscamente, mas logo percebeu o deslize e corrigiu-se: — Quer dizer, por que você acha isso?

  — É só um palpite.

  Manu assentiu, ainda contrariada. Ela havia pedido a opinião dele, então não podia reclamar. A sinceridade era, afinal, o que mais apreciava em Leonard. Sendo assim, terminaram o almoço sem mais divagações.

  Ao saírem do restaurante, ele se ofereceu para levá-la até o trabalho, mas ela recusou.

  — Vim de carro — explicou, enquanto caminhavam em direção ao estacionamento.

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