Capítulo Dez

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  Assim que as costas de Oliver atingiram o tatame pela décima vez, ele concluiu que a promessa da chefe sobre não se machucar não seria cumprida. Ela havia conseguido alugar por duas horas a academia de karatê na qual estavam, mas o tempo se arrastava a medida que ele era derrubado, sem piedade alguma.

  — Por que não esta usando a técnica que eu ensinei? — perguntou Manu, colocando as mãos na cintura enquanto o encarava com desapontamento. Não era possível que o rapaz tivesse belos músculos mas não conseguisse usá-los!

  Oliver se levantou com dificuldade e ajeitou o nó do kimono branco que vestia com desgosto, enquanto reclamava. Manu achou engraçado o rosto dele ter uma expressão tão deplorável enquanto o corpo já se preparava para outra. Será que era masoquista?

  — Vamos trocar de posição, agora é você quem vai golpear — disse Manu, se aproximando demasiadamente. — Essa pode ser a melhor defesa em alguns casos.

  Mas ao em vez de obedecer, o rapaz deu risada.

  — E acertá-la como meu colega fez? Melhor não.

  — Eu vou desviar!

  — Ele também achava isso.

  A repórter revirou os olhos, impaciente.

  — Não vou ficar distraída com você novamente, pode vir.

  A frase fez Oliver franzir a testa, e tarde demais Manu percebeu o que havia dito.

  — Como assim distraída comigo? — Agora a encarava atentamente, um sorriso quase presunçoso surgindo nos lábios. — Por qual motivo?

  A moça teve um sobressalto interno diante da questão. Por que sua língua era tão inconsequente? Que coisa! A única alternativa foi endireitar a postura e responder com convicção:

  — Motivo nenhum, apenas olhei para você na hora errada naquele dia.

  — Entendo. — Mas o sorriso continuava lá, como se aguardasse a descoberta de um grande segredo.

  Então Manu o atacou de novo, sem se importar que não estivesse preparado. Tudo o que ela queria era dizimar aquele sorrisinho cheio de suposições. Acontece que dessa vez Oliver reagiu, segurando um dos braços dela e fazendo um giro com o corpo que a levou junto com ele para o chão. E ao se deparar com o rosto próximo ao do coreano, Manu pode ver o sorriso ainda mais de perto.

  — Como fez isso? — perguntou, surpresa com a repentina agilidade do coreano.

  — Você ensina bem.

  Manu não respondeu, não porque concordasse com o que ele havia dito, mas porque ela nunca havia ficado tão ciente do calor que emana do corpo de um oponente numa luta. O fenômeno a deixou bem confusa.

  — Já pode sair de cima de mim agora, sensei.

  A fala de Oliver a fez perceber que ele já havia a soltado, então se levantou imediatamente. Logo já estava apontando o dedo para ele com uma expressão irritada.

  — Sensei uma ova! Não estou ensinando karatê, mas apenas algumas técnicas. Aliás, já estamos aqui a horas e você ainda não aprendeu nada, como vai sobreviver sendo tão lento?

  Ele se levantou devagar, o semblante nenhum um pouco preocupado quando olhou para ela. E ainda teve a audácia de dar de ombros.

  — Acredito que estarei a salvo desde que a tenha por perto para me proteger.

  A repórter não conseguiu se desviar das duas esferas intensas que a observava enquanto aquela frase ecoava pela sua cabeça. Parecia um comentário inocente, mas os instintos da moça insistiam em lhe dizer que ela precisava tomar cuidado com a inocência de Oliver. Ele podia ser apenas um novato nerd, mas tinha o dom de deixá-la inquieta como ninguém. Era só olha-lá daquele jeito ou sorrir. E como se não bastasse, de vez em quando soltava frases como aquela, que pareciam mais íntimas do que realmente eram. Então ficava a dúvida: Aquilo era flerte ou apenas uma mania dele? Discernimento amoroso fazia parte da lista de coisas na quais Manu era péssima.

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