Capítulo Oito

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  Quando Oliver estacionou em frente ao prédio de Manu, ela continou imóvel, totalmente concentrada na flor que segurava nas mãos. Ela havia ficado em silêncio todo o caminho que fizeram entre a casa de Diego, Sara e a dela, e a frustração que sentia parecia transbordar pela superfície de cada célula do seu corpo.

  — Chegamos — avisou, mas ela não deu um pingo de atenção. Então ele decidiu se inclinar sobre a moça para retirar seu sinto e ao mesmo tempo interromper o contato visual da mesma com a flor, para que a esquecesse por um minuto.

  Ele foi bem sucedido a princípio, mas não esperava que fosse se tornar o alvo dos olhos cor de mel antes de voltar ao seu lugar, nem que isso o faria freiar os movimentos e a fitar de volta, como se o tempo tivesse congelado. Era porque ela tinha olhos bonitos, ninguém poderia julgá-lo de querer admirá-los um pouco mais, não é? Mas a questão se tornou obsoleta quando sentiu o coração se agitar ao reparar nos lábios dela. Será que o sabor seria mel também?

  — Manuela?!

  Oliver voltou ao seu lugar tão bruscamente que seus óculos cairam no chão. Enquanto se inclinava para pegá-los, ouviu a voz feminina outra vez:

  — Onde estava? Estou esperando a mais de uma hora!

  Manu desceu do carro rapidamente, e correu até a mulher ruiva de meia idade que a esperava na calçada. Oliver não pretendia ouvir a conversa, mas a voz da visitante era muito alta.

  — Não viu minha mensagem? Eu avisei que precisava de dinheiro! Como me ignorou, vim aqui buscar.

  — Por que você acha que ignorei? — Manu gritou de volta — Não quero vê-la, sabe muito bem disso! Então pare de me procurar!

  — Menina ingrata... — A mulher fez menção de dar um tapa em Manu, mas Oliver saiu do carro a tempo de lembrá-la que a moça não estava sozinha, então ela apenas cruzou os braços enquanto bufava com raiva. — Depois de tudo o que fizemos por você, é assim que nos paga. Seu namorado sabe o quão egoista e ingrata você é?

  Embora estivesse mais atrás, Oliver abriu a boca para negar o mal entendido, mas antes viu os punhos de Manu se fecharem com força, mostrando o quanto ela estava nervosa com aquela situação, então achou melhor não interferir.

  — Eu já paguei, muito mais caro do que devia, por tudo! — Lágrimas começavam a escorrer pelo rosto da moça, mas sua voz continuava dura. — O que mais preciso fazer para me deixar em paz?

  — Não posso te deixar em paz, você é minha filha. — Agora a mulher sorria, mas não havia um pingo de carinho em sua feição. Oliver nunca havia visto uma declaração tão narcisista sair da boca de uma mãe.

  Mas Manu deu uma risada cheia de amargura antes de responder.

  — Não, você nunca foi... em nenhum sentido.

  — Mas a culpa não foi minha, foi? — a ruiva cuspiu as palavras, enquanto se aproximava da filha com uma expressão rancorosa. — Eu ainda sofro as consequências de todo o mal que você causou a minha família.

  Manu tremeu diante daquela afirmação cruel, seu silêncio parecia indicar que ela concordava. Aquilo não era justo, e Oliver já estava pronto para encerrar a interação entre elas quando a ruiva concluiu:

  — Não importa o quanto pague de volta, nunca será suficiente. — E jogou um bolo de papeis na moça, para só então ir embora, sem nem ao menos cumprimentá-lo.

  Após alguns minutos imóvel, Manu saiu do estado inerte e se agachou para pegar o bolo. Oliver não sabia se perguntava se ela estava bem ou se apenas ficava em silêncio para não constrange-la, mas se esqueceu da questão quando notou que os papeis que a mãe dela trouxera, eram na verdade, talões de contas.

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