Manu e Oliver caminhavam em silêncio para fora do jardim, o clima estranho após o inesperado pedido de namoro que ela, para sua própria surpresa, havia aceitado. Agora, o simples fato de estarem lado a lado gerava uma tensão desconcertante, como se houvesse algo não dito entre eles. Além disso, era impossível ignorar as sombras que pairavam sobre Oliver. Manu queria encontrar as palavras certas para confortá-lo, mas a angústia que o envolvia a deixava sem saber por onde começar.
Quando chegaram à outra ponte, uma mais simples e sem decoração, Oliver parou de repente. Ele ficou ali, encarando a água com um olhar perdido. O rosto endurecendo à medida que memórias dolorosas emergiam.- Agora você sabe o por que evito pontes - disse ele, quebrando o silêncio.
Manu se aproximou, sentindo-se impotente.
- Desculpa, eu não fazia ideia... Só te fiz pular porque pensei que nadasse bem.
Ele soltou um suspiro profundo, ainda olhando para a água como se estivesse preso ali.
- Eu nadava... até meu pai morrer afogado. Desde então, sempre que estou na água meu corpo trava, enquanto minha mente revive as notícias que repercutiram na época. Todas iguais as que Dark mostrou essa noite.
O coração de Manu apertou, uma dor aguda se espalhando por seu peito. Nunca imaginou que poderia sentir a angústia de outra pessoa tão intensamente. Ela tocou o braço dele, tentando transmitir algum conforto.
- Você era tão jovem, deve ter sido devastador - disse, quase sussurrando.
Oliver finalmente se virou para ela, os olhos brilhando com lágrimas que ele segurava com dificuldade.
- Ele não fugiu, Manu. Meses após o ocorrido, várias testemunhas apareceram, afirmando que ele havia salvo suas vidas. Mas até a verdade vir à tona, a reputação da nossa família já estava destruída pelas fake news. Eu perdi a bolsa da faculdade, e minha mãe teve que fechar o restaurante. Ninguém queria se associar a nós. Conseguir emprego virou uma batalha, porque em todo lugar éramos condenados. Tudo por causa de malditos repórteres irresponsáveis!
- Foi por isso que você decidiu fazer jornalismo - Não era uma pergunta. Manu podia ler nos olhos dele o quanto aquilo o havia afetado.
Oliver assentiu, a expressão cheia de uma determinação silenciosa.
- Eu queria lutar pela verdade, garantir que o que aconteceu com minha família não se repetisse com mais ninguém.
Ela assentiu, aquele era um sentimento fácil de entender.
- Sinto muito, Oliver. Pelo que aconteceu com sua família, e pelo o que Dark fez hoje - disse Manu, com sinceridade. - Só não entendo por que ele escolheu você e não a mim. Sou órfã, minha família adotiva me odeia, e estou cheia de dívidas. Ele podia ter usado tudo isso contra mim.
Oliver desviou o olhar para a paisagem à sua volta, os pensamentos correndo tão rápido quanto os dela. Ele também não entendia, mas preferia que tivesse sido ele.
- E além disso, o sujeito que me deixou a rosa na casa dos Araújo não é o mesmo de hoje - continuou ela, pensativa. - Um deles é falso.
Oliver abriu a boca como se fosse dizer algo, mas parou, hesitando.
- A propósito, obrigada por aquela hora. Se não fosse por você, eu estaria com um olho roxo agora - murmurou Manu, desviando o olhar. A gratidão não era algo que ela expressava com facilidade.
Oliver se aproximou, um sorriso suave se formando no canto dos lábios.
- Não precisa me agradecer. Você já me protegeu várias vezes, lembra?
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DARK
RomanceManu já é uma repórter dedicada os 25 anos de idade. Seu maior objetivo é descobrir quem são seus pais biológicos e o que aconteceu com eles. Para isso, ela anseia alcançar um espaço na TV, o que não é nada fácil quando se trabalha apenas com jornal...