Capítulo Dezenove

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  Quando acordou no dia seguinte, Manu teve a certeza de que algo na sua cabeça não estava bem. Ela se lembrava claramente de ter ido até a casa de Oliver e de ter jantado com ele e a mãe, mas não fazia a mínima ideia de como havia sido o fim daquela noite, muito menos de como havia voltado para casa. Então, pela primeira vez na vida, decidiu matar o dia para ir ao hospital.

  — Amnésia em períodos específicos pode ter várias causas — explicou o médico, cruzando os braços com uma expressão pensativa enquanto a analizava. — Vou ter que pedir alguns exames para descobrirmos qual é a sua.

  — Isso vai demorar muito? — perguntou Manu, ansiosa. — Quer dizer, sou jovem demais para morrer. Se for algum tipo de câncer quero começar o tratamento o mais rápido possível!

  — Não precisa se preocupar com isso, como eu disse, há várias causas. O Dr. Google exagera as vezes.

  Manuela sentiu as bochechas queimarem de vergonha. Realmente, ela havia pesquisado todo o tipo de doenças possíveis no Google.

  — Eu só queria ter uma ideia do que está acontecendo comigo — justificou.

  O médico, cujos traços eram asiáticos e bonitos demais para aquela profissão, apenas assentiu, concordando.

  — Eu entendo, por isso vou tentar agilizar os exames. Além disso, também vou encaminhá-la a um psicólogo.

  — Psicólogo? Por quê?

  Ele se recostou na cadeira com um olhar analítico.

  — Para ser sincero, não sou especialista nessa área, mas minha esposa é. Já ouvi ela mencionar sintomas de amnésia em pacientes com stress excessivo, então não podemos descartar essa possibilidade.

  — Estresse? — Manu quase riu do absurdo. — Tenho estresse desde que me conheço por gente, não faz sentido começar a ficar doente por causa disso agora.

  — Nunca se sabe — foi a resposta que o médico deu a ela, acompanhada de um sorriso superior irritante, enquanto lhe entregava os pedidos.

  — Você é bem ousado para um médico — murmurou, pegando os papéis a contragosto. E fez questão de ler novamente a placa em cima da mesa antes de continuar. — Dr. Park? Que nome é esse?

  — Não sou brasileiro, deve ter percebido.

  Manu deu de ombros. É claro que havia notado o sotaque sul-coreano, mas saiu sem responder. E aquela seria mais uma para a sua lista de conhecidencias envolvendo aquele país.

  *   *   *
 
  Embora houvesse perdido a manhã inteirinha se consultado, Manu conseguiu ir trabalhar na parte da tarde. Assim que entrou em seu escritório, percebeu o clima pesado que pairava no ar, acompanhado de um silêncio gritante que não foi quebrado nem pela presença dela.

  — O que houve? — perguntou a Sara, quando ela foi lhe entregar o relatório do que foi feito naquele dia.

  A loira a olhou com aflição.

  — Nada.

  Assim, Manu se levantou, foi em direção aos rapazes e parou entre eles, olhando de um para o outro freneticamente, sendo ignorada no ato. Ambos trabalhavam roboticamente em suas mesas, mas era evidente que algo os incomodava. Então decidiu se abaixar até o ombro de Oliver primeiro, para falar baixinho:

  — Fiz algo errado ontem a noite?

  O rapaz deu um pulo para fora da cadeira, encarando-a com espanto. Pela reação exagerada, ela entendeu que a resposta seria "Sim." Mas ao em vez disso, Oliver ajeitou os óculos e abaixou o olhar, adotando uma postura formal que Manu não estava esperando.

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