Epílogo

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MARCOS

Caminhei para a saída da clínica sozinho. Desci para a calçada e peguei um táxi. Falei o endereço de Caio e Danielly. Ele logo acelerou na direção indicada.

— E aí, primo? — Caio me cumprimentou na sala. Ele assistia TV com uma caixa de pizza no colo. Vestia uma camisa social branca com gravata. Depreendi que tinha acabado de chegar do trabalho. Era finalmente um engenheiro de minas formado. — Tudo bem lá?

— Aham. Bem.

Sentei-me ao seu lado no sofá. Ele ofereceu um pedaço de pizza. Balancei a cabeça negativamente. Não acho que ele tenha se importado com a recusa. Ele parecia o mesmo de dez anos atrás. Somente havia ganhado dez anos na conta. Caio sempre seria Caio.

— E aí, como foi lá? — Dani apareceu.

Repeti a resposta que dei a Caio. Os dois, assim que a faculdade terminou, para a surpresa geral da nação, haviam se casado. Já que ainda não tinham filhos por algum problema com Caio, tinham me adotado como um. Eram as únicas pessoas que se importavam comigo no momento.

— Troca esse canal, Caio. — Danielly pediu.

— Eu preciso ver esse episódio de Grey's! Eu não assisti quando saiu.

— Está na hora da minha luta! — Ela replicou.

Caio soltou um muxoxo de quem não estava afim de dar o braço a torcer.

— Par.

— Ímpar. — Danielly rolou os olhos.

Lançaram as mãos. Oito. Resultado par.

— Ganhei. — Danielly tomou o controle.

— Oito é par! — Caio reclamou.

— Meu querido. — Dani se ajeitou no sofá. — Você acha que oito é par.

Só observei a discussão na minha. Nas discussões caseiras do dia-a-dia Danielly costumava ganhar. Nenhuma novidade sob o sol. Ela tomava um sorriso de vencedora. Eu olhei para a escada que levava ao segundo andar, ao meu quarto.

— E o João Lucas?

— Pelo amor de Deus, eu já disse que não quero nenhum maníaco na minha vida.

Danielly e Caio pararam, me encarando. Eles levaram a sério.

— Para, gente, eu tô brincando. — tranquilizei ambos.

— A gente sempre tem medo, né, Caio? — Dani levantou uma sobrancelha.

— Não tô com ele mais. — respondi enfim.

— Não te comeu direito? — Danielly provocou, pegando ao mesmo tempo um pedaço de pizza.

— Danielly, vai se fuder.

A princípio foi estranho ficar com um homem que não era Antônio. Fiquei por necessidade física. Mulheres não desciam na minha goela, eu tinha me tocado que atuar no papel de heterossexual já não cabia. No fim do dia, me acostumei a casos rápidos de sexo. Somente sexo.

João Lucas, nos nossos poucos dias juntos, eram o suficiente para me lembrar de que ele não era o Antônio. O original. Eu estava ignorando suas mensagens. Ele desistiria em breve, como todos os outros.

— Vou pro quarto. — anunciei.

— Não vai querer pizza? — Dani indagou. — Napolitana, sem presunto.

— Não.

—Deve ter algo na geladeira então, se quiser comer mais tarde.

Subi para meu quarto no fim do corredor do segundo andar.

Teus Olhos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora