I - Eu espero que você esteja bem.

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MARCOS 

— Marcos! — Deixei o ouvido em alerta ao escutar uma voz me chamar distante. — Se não quiser se atrasar é melhor se apressar. — Minha mãe me alertou.

Dei um pulo da minha cama de viúvo conferindo no celular quantas horas eram. Puta merda! Terei que me decidir entre tomar um banho ou café da manhã caso não queira perder o ônibus e chegar a tempo.

Corri para o banheiro, liguei o chuveiro o mais quente possível e finalmente pude despertar ao sentir a água fervente em minha pele. Assim que terminei de me enxaguar meus cabelos, me enrolei em uma toalha branca e fiquei me admirando confuso na frente do espelho. Passei muito tempo longe dos estudos, temo bastante como que esses próximos cinco anos serão.

Ao receber uma notificação em meu celular pude ver as horas e porra, eu estou cada vez mais atrasado.

Esforcei-me pra não demorar a escolher o que vestir, mas fora em vão. Enquanto vestia a única cueca preta que encontrei na gaveta, eu encarava camisas e mais camisas, mas era impossível achar uma boa o suficiente. Agora sim, eu estava impecável uma camisa de linha negra, uma calça jeans quão escura a parte superior e meus fieis sapatos sociais pretos. Se tivesse como, com toda certeza do universo eu me pegaria neste momento.

Ótimo, toda produção fora em vão.

Eu jamais conseguiria chegar a tempo na UFMG! Meu ônibus acabou de virar a esquina e o próximo não deve passar tão cedo.

Neste momento eu me lamentei pela primeira vez de estar juntando dinheiro para ir para Inglaterra turbinar meu inglês ao invés de comprar um carro.

Segui frustrado, apesar de não demonstrar e manter a cabeça erguida e o olhar firme, para o ponto de ônibus cantarolando Guns N' Roses em silêncio.

Talvez o universo tivesse ficado com um pouquinho de pena de mim e resolvera ser justo. Não fiquei mais de três minutos esperando a próxima condução.

Me acomodei no ônibus e logo me distraí observando a cidade que ainda estava coberta de neblina naquele horário. Eu definidamente amo esse lugar. Sua historia, sua arquitetura, sua cultura, suas incontáveis diversidades, o sotaque engraçadinho que a grande maioria da população tem e principalmente a comida mineira que não se compara a de nenhuma outra parte do mundo.

Antes que eu pudesse me dar conta, já estava na hora de descer.

Se não fosse uma moça negra de lindos cabelos verdes e crespos que tivesse dado o sinal, eu teria passado direto e teria que andar bastante até a portaria do campus mais próxima.

Quando passei pelo arco da portaria principal, respirei fundo e, ao notar que o pátio principal estava inteiramente vazio fiquei desnorteado e apertei os passos o máximo que pude em busca da minha sala.

MERDA!

Gosto de chamar a atenção das pessoas, mas não dessa forma.

Soando frio, peguei meu celular que estava perdido em alguma parte da minha mochila e conferi qual seria meu primeiro período naquele dia.

"Introdução a Eng. De Minas. — Antônio Scodelario — Turma S — Prédio Pangeia.".

É muita informação pra uma pessoa só! Tentei limpar o suor que descia pela minha testa e ao me deparar com um professor segurando algumas amostras de rochas na mão pensei "só pode ser aqui". Fui logo pedindo licença e entrando. O professor pareceu dar a mínima pra minha existência e continuou a falar sobre o ciclo das rochas. Como não estava entendendo nada, me desconcentrei e facilmente, comecei a reparar os outros alunos... Pareciam tão centrados naquilo que o professor explicava. Quando parei de reparar nos alunos e fui notar o que o professor dizia, vi em seu uniforme o nome Rafael bordado e agradeci em silêncio por aquela não ser a minha turma.

Teus Olhos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora