V - Impaciente e Distraído.

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MARCOS

— Socorro, socorro! Marcos! Socorro. — Gritos desesperados surgiram no meio da noite.

Aflito, me levantei aos prantos e não sabia o que fazer. Não havia reconhecido aquela voz que clamara meu nome, mas sabia que eu precisava ajudá-la.

Comecei a correr por aquele apartamento.

Não demorou muito e encontrei Antônio na cama, como o rosto pálido e molhado de suor.

Ele se debatia na cama enquanto sua expressão alternava entre o cenho franzido e olhos arregalados, só que obviamente, fechados.

A priori achei a cena engraçada, mas quando o vi se contorcendo novamente sentei ao seu lado e, lhe acariciando os cabelos negros, o chamei.

— Professor! — Ri de aflição. — Acorde! É só um pesadelo.

Remexi seu corpo algumas vezes até que então, ele finalmente abriu os olhos. Antônio deu um suspiro aliviado a me ver. Naquele momento, seu semblante me fazia sentir um aperto no peito. Acostumado a vê-lo somente na universidade, eu jamais imaginaria ver o professor daquela maneira, extremamente instável. Se eu não estivesse acostumado com aquela máscara inescrutabilidade que ele tanto insistia em usar, eu poderia jurar que vi um sorriso em seus lábios carnudos.

— Marcos. — O iceberg que havia surgido no quarto havia sido derretido. — É bom ver você me protegendo, como agora.

Fiquei enrubescido no mesmo instante sentindo cada vez mais o sangue queimar meu rosto. Mordi o lábio pra tentar disfarçar minha aturdirdes. Antes que ele pudesse continuar eu o interrompi.

— Eu comecei a te tratar mal porque estava lutando contra algo que eu aparentemente, não queria sentir. — Respirei fundo. — Eu adoro o jeito que você se preocupa comigo, não só comigo, mas com todos. Você é o exemplo de humano em que todos deveriam se inspirar. — Meu coração acelerou dentro do peito. — Se eu fosse mulher, com certeza te comeria.

Ele ficou me encarando em silêncio.

— Fala alguma coisa, seu idiota. — Arregalei os olhos. — finge que não escutou esse idiota na hora de corrigir minha prova.

Toni riu.

— Daqui pra frente eu vou cuidar de você. — Ele disse sem pestanejar. — De hoje até o último dia da minha vida. — Salientou.

Aquela situação estava boiola demais pra mim.

Com impetuosidade me levantei da cama, mas Antônio segurou meu braço com tamanha força. O inquiri com um olhar furioso.

Ele me soltou.

— Desculpa. Estou apenas pedindo pra ficar comigo.

— Ejetou que tipo de droga antes de dormir? — Fiquei vermelho de novo, mas dessa vez era raiva.

— É só pro caso de eu ter outro pesadelo. — Ele tinha uma voz mansa demais para o meu gosto.

— Se você não contar para ninguém que isso aconteceu.

— Está bem, mas fica com migo. — Toni insistiu com uma cara de serafim.

Respirei fundo e me deitei perto do meu professor. Felizmente, digo, infelizmente, a cama era grande demais e nós dois podíamos ficar separados em uma proporção Brasil e África. Contudo, não foi isso que nos aconteceu. Muito pelo contrário. O negro achegou-se ao meu peito. Olhei dentro de seus olhos que me remetiam a uma jabuticaba e rocei os dedos na sua pele que parecia um pêssego. Ele mordeu os lábios e me agarrou pelo cabelo. Aproximou sua boca da minha e... Despertei de um pesadelo.

Teus Olhos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora