XXVIII - A diferença não faz diferença se você é você.

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MARCOS

Na noite passada não demoramos muito a ir dormir. Minha cunhada e minha sogra iriam às compras nos shoppings da cidade enquanto Antônio iria trabalhar em sua empresa e eu... bem, IRIA PRO PRIMEIRO MALDITO DIA DE ESTÁGIO.

Por mais cedo que havia me deitado na noite passada, eu ainda estava completamente sonolento. Não sei se era a exaustação das últimas semanas do semestre afetando-me ou se havia algum outro motivo, mas que eu estava completamente cansado, eu estava.

Tomei um banho quente e enquanto esperava meu namorado acabar de se arrumar, foquei nos projetos da universidade. A partir de hoje eu precisaria aproveitar cada segundo, caso eu quisesse manter no mesmo ritmo.

Era a primeira vez que eu iria trabalhar em algo sem ser com meus pais e isso me deixava preocupado. Confesso que por algumas vezes eu já pensei em desistir por medo de não ser bom o suficiente, mas ao me imaginar contando para Antônio consegui imaginar as fofuras motivacionais que ele provavelmente me diria e meu pensamento mudou completamente.

Eu estava acabando de tomar o café que dona Vitória havia passado há pouco tempo quando percebi que Antônio nos faria atrasar. Enfiei o último pedaço de bolo de fubá na boca e fui até o quarto ver o que estava acontecendo.

— Amor? — chamei.

Não houve resposta.

— Antônio — tornei a chamar. — Está tudo bem?

— Que? — finalmente ele respondeu. — Está sim! Só preciso acabar de responder uns canadenses e estamos partindo.

— Desculpa incomodar, acho que é ansiedade de chegar atrasado.

— Tecnicamente você chegará junto do seu supervisor, ou seja, não está atrasado — ele olhou pra mim e riu, mas logo voltou à atenção para a tela do computador.

Juntei minhas coisas, desde o notebook a cueca suja de sêmen seco e fui para cozinha conversar com Vitória. Mulher guerreira, com passado forte e dona de histórias emocionantes.

Em menos de cinco minutos Antônio chamou-me, despedi daquela que me fazia companhia com um abraço e tomei o meu caminho.

Agora vai.

[...]

Depois de quase uma hora no transito, chegamos.

Eu não conseguia avistar Emília na sala de recepção, tirei o celular do bolso e conferi as horas. Ela está fodida. Abri o aplicativo de mensagens e me certifiquei de que ela não havia mandado nada comunicando seu atraso, mas antes que a internet atualizasse as conversas novas lá estava ela. Acabara de sair do banheiro com sua bolsa de couro marrom e caminhava rigorosamente ereta em minha direção.

— Bom dia — disse estendendo a mão.

Contrapartida ela aproximou os lábios do meu rosto e senti seus lábios frios tocarem minha bochecha.

— Está tudo bem? — indaguei.

— Sim — ela riu. — Só estou de bom humor por ter conseguido essa oportunidade.

Dei um sorriso amarelo.

— Vamos aprender muito com o Antô... — tossi — com o professor Antônio.

Antes que pudéssemos levar a conversa adiante, meu namorado, que havia ido até sua sala assinar certos papéis surgiu na nossa frente.

— Que bom que vocês se dão bem, não quero rinchas aqui dentro.

Olhei constrangido para minha colega de classe. Eu não tinha nada contra ela, na verdade, eu que pensava que ela me odiava.

O motivo de eu pensar isso era besta.

Teus Olhos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora