XX - Eu Não Sou.

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                                                                                           MARCOS

Levantei-me com pressa, joguei minha camisa no chão e quase bati a cabeça na quina da escrivaninha enquanto tirava a bermuda do pijama. Eu teria que agilizar no banho caso não quisesse me atrasar pra aula. Desde que mudaram o horário depois do falecimento de uma das professoras, a vida de calouro está cada vez mais insuportável.

Sentindo a água morna cair sobre meu corpo eu finalmente despertei. Esfregando o sabonete contra meu corpo liso fui surpreendido por Caio que invadiu o banheiro ignorando o barulho do chuveiro.

— Idiota. — Gritei. — Estou pelado, poderia ter pelo menos batido.

— Não tem nada ai que eu nunca tenha visto. — Disse em um bocejo.

Ao escutar o barulho da tampa do sanitário levantar, não consegui desviar o olhar do sexo de Caio. A ereção matinal ainda era perceptível. Quando me dei conta do que estava fazendo, puxei a toalha e a enrolei na cintura.

— É melhor agilizar caso queira chegar pra primeira aula. — O alertei.

Sem dar atenção para o que ele gesticulou, passei o perfume me encarando em frente ao espelho. A camisa anil, a calça jeans, sapato branco e... Eu estava esquecendo meu relógio.

Pronto.

Agora sim estou pronto.

Alguém bonito como eu não deve sair de casa sem estar no mínimo... Transável.

E é assim que eu estou me sentindo hoje.

Branco, loiro, olhos caros... Muitas diriam que eu sou a definição de "beleza".

Eu não havia ido dormir cedo na noite anterior. Fiquei até tarde estudando. Meus planos para hoje se resume a: ir a faculdade, de lá ir pra um motel sozinho para poder dormir em paz e voltar para a casa de Caio só quando seus pais estiverem dormindo.

Sim. Ainda estou evitando meus tios e voltar para casa tão cedo fará com que eu não tenha oportunidade de me safar caso eles toquem no assunto. Eu definitivamente não estou pronto para isso.

Ora, se eu pudesse voltar ao passado a primeira coisa que eu teria feito é planejar uma forma de sair de casa o mais rápido possível. Evitaria muitas coisas. Já estou na casa dos trintas e tenho que dizer para minha mãe que horas vouchegar ou se não vou dormir em casa.

Eu cresci!

E a única forma de fazê-los perceberem isso é saindo de casa... Infelizmente estou colhendo aquilo que plantei anos atrás e se minha vida continuar assim não terei dinheiro nem para frequentar o restaurante universitário.

Droga!

Mesmo acordando extremamente cedo, ainda corro o risco de me atrasar caso perca a próxima condução.

É.

Vou pagar caro por tudo que eu fiz.

[...]

Cheguei ao campus morto de sono, não obstante ainda me sobrava alguns minutos antes da aula começar. Fui até o quiosque mais próximo e comprei 500ml de café preto. O copo térmico marrom ia em direção a minha boca a todo instante. O gosto amargo do café afastava o sono. Era tudo que eu precisava naquele momento.

Para minha sorte, consegui suportar os três primeiros horários antes do intervalo sem ficar bocejando.

Talvez milagres realmente existissem.

Teus Olhos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora