XIX - Eu Odeio Te Amar Tanto Assim.

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                                                                                              ANTÔNIO

Acho que vocês estão acostumados comigo o suficiente pra saber como eu me sinto nas manhãs de segunda, não é mesmo? Desta vez eu não perderei meu tempo narrando meu mau humor matinal. Bem, só preciso acrescentar algo: meu mau humor está um pouco pior, pois Marcos só sabe foder com a minha vida.

Desde que ele foi embora sem se despedir eu ando desconfiado que algo está acontecendo e... E depois de ontem que ele mal me respondeu ao telefone.

Tem caroço nesse angu, veado. Ah se tem.

Mas eu hei de descobrir.

Antes de o sinal bater fui para sala, dei bom dia para os que já estavam presentes e coloquei os fones de ouvidos. Talvez um pouco de indie francês me ajudasse a acalmar naquele momento.

Elle me dit qu'elle l'aime que les slow en anglais, et shakespeare un Shakespeare très français.

Cantei sussurrado, mas mesmo assim alguns alunos me encaravam espantados.

Eu não dou a mínima.

A aula estava prestes a começar quando Caio, junto de seu primo, adentrou a sala com um olhar intimador. Pelo tom vermelho na pele de Marcos que não tivera coragem de me cumprimentar, soube que alguma coisa meu chegara aos ouvidos de Caio.

Duas horas falando direto e... Salvo pelo gongo.

— Vou mandar um artigo no e-mail de vocês e quero um relatório de duas páginas para amanhã. — Disse com um sorriso amarelo no rosto.

Estava de costa para as carteiras enquanto colocava os meus pertences na bolsa tira colo quando fui surpreendido por uma voz conhecida.

— Professor Antônio? — Marcos disse em um tom baixo. Havia outros alunos por perto.

— Sim? — Me virei.

— Será que a gente poderia conversar?

— Ficou alguma dúvida na matéria? — Questionei. — Se for isso posso te explicar.

— Não, não é isso. A aula foi perfeita. — Ele sorriu. — Mas não é sobre isso. Preciso de uma... Orientação. — Ele hesitou enquanto pensava na palavra certa.

Caio passou por nós.

— Primo, estou indo passar o intervalo com o povo da Civil, quer vir com a gente? — O rapaz que mais parecia um estereotipado aluno de Educação Física perguntou.

— Tenho que resolver algo antes. — Marcos o fitou com os olhos.

Esperei o aluno mais insuportável que já tive sumir do meu campo de visão e voltei a atenção para Marcos.

— O que precisa conversar pode ser discutido dentro de uma sala de aula? Caso você não saiba há uma ética que nós professores devemos cumprir...

— Eu sei disso. — Ele disse seco. — Não vou tomar muito do seu tempo.

— Desembuche. — Sugeri.

— Seja lá o que for que nós tínhamos, acabou.

Ele iniciou seu trajeto para a saída da sala, mas o segurei firme pelo pulso.

— É simples assim pra você? — Eu estava sem entender.

— Não. É complicado demais. Por isso deveria acabar. — Ele explicou.

— Eu pensei que você estava superando os problemas em relação a isso.

— Você não sabe, não entende.

Teus Olhos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora