XXV - Ele Não Deveria Saber.

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ANTÔNIO

A cada dia que passo mais ao lado de Marcos me sinto mais completo.

Estar apaixonado me faz sentir vivo, motivado a seguir em frente. Não obstante desde que André ressurgiu do quinto dos infernos eu me pego enfrentando uma angustia que me incomoda exacerbadamente.

São três horas da manhã e estou dirigindo completamente sem sono no meio de uma tempestade até Santa Bárbara, a cidade onde meus pais voltaram a morar depois que eu e minha irmã crescemos.

Barulho de chuva, Belle & Sebastian e motor de carro.

Nenhum desses três barulhos eram bons o bastante pra afastar os pensamentos que me faziam estremecer ao lembrar de cada palavra dita, sorrisos trocados e até mesmo passeios juntos em uma tarde de domingo cinzenta.

Quando estava prestes a entrar no trevo da Estrada Real avistei um restaurante de beira de estrada 24h. Dei seta e logo atravessei a BR, que naquele horário, estava vazia. Quando desci do carro vi alguns ônibus estacionados e alguns de seus passageiros utilizavam a área de fora para fumar. Os ignorando, dirigi-me até a lanchonete e pedi um Mocha e o tomei observando dois filhotes de gatos aninhados juntos, um fazendo o corpo do outro de travesseiro. Isso me era um tanto quanto inspirador.

Enquanto lavava as mãos no banheiro, meu estômago embrulhava ao sentir o cheiro de sabonete líquido de pêssego. Estava pensando no quão aquele cheiro me enjoaria até o resto da viagem quando senti meu celular vibrar no bolso da calça.

"Acordei assim, pensando em você.".

Cliquei no anexo a mensagem. Meu namorado havia enviado uma foto de cueca entre o edredom mostrando o quão animado estava.

Mordi o lábio desejando estar ali junto a ele, mas como não era possível... Não iria lamentar. Ou talvez iria. Ele é capaz de despertar meus desejos mais corpóreos.

Tirei uma foto do banheiro, vazio, e enviei.

"Esperando um caminhoneiro aparecer.". Ri ao imaginar sua reação.

Não tive mais nenhuma resposta. Era bem capaz dele ter acreditado fielmente e estar surtando em Abóboras.

Tenho que pensar duas vezes antes de fazer uma brincadeira com leoninos.

Paguei o café que havia tomado e comecei a caminhar para o estacionamento. Todos os ônibus já haviam partido. O frio que a tempestade havia trazido me fazia tremer a cada passo.

Quando apertei o alarme do carro, ouvi a voz de MEU AMIGO QUE HAVIA SUICIDADO CHAMANDO PELO MEU NOME E ISSO ME FEZ SENTIR MAIS FRIO AINDA. CORRI PARA DENTRO DO CARRO E ESFREGUEI OS OLHOS. IGNORE ISSO. IGNORE ANTÔNIO.

Conectei meu celular ao carregador e vi que havia outra mensagem.

"Ah é? Pois saiba que a punheta de hoje não será direcionada a você.".

Abri a imagem que acompanhava a mensagem e agora Marcos segurava seu membro na mão, completamente enrijecido, com a imagem de uma atriz pornô na televisão ao fundo. O ignorei completamente. Safado.

Dirigi trêmulo por cada cm que faltava até a casa dos meus pais. Quando cheguei, utilizei a chave que eles me confinaram e fui direto pro quarto onde eu costumava ficar. Ao abrir a porta, deparei-me com alguém deitado no meio da cama. Apaguei a luz no mesmo instante com tentativa de não acordar quem é que fosse que estivesse ali.

— Antônio? — uma voz familiar chamou pelo meu nome? — É você?

Acendi a luz na mesma velocidade em que apaguei.

Teus Olhos MeusOnde histórias criam vida. Descubra agora